Ciclo
O candeeiro suavemente se apaga,
enquanto na janela o sol aguarda
a intensa fuligem dissipar-se no ar,
para o provável alvorecer recomeçar.
Discretamente o amanhecer desponta,
colorindo campos, matas e encantos.
Enquanto a incerteza nos confronta,
a esperança banha antigos prantos.
Desenvolvendo lustroso resplandecer,
o dia extrapola em matizes de cores,
até perder-se em lento esvanecer.
Surgem languidas manchas escarlates,
envolvendo o intenso azul-celeste,
como manto roto, verdade inconteste!
Este poema completa o ciclo aberto com o soneto “Idílico e lúgubre”.
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Deepfake e a ética. Uma questão!
Termo atribuído ao produto gerado por tecnologias baseadas em Inteligência Artificial (IA), para construção de realidades alternativas, seja com a troca de rostos em vídeos ou manipulação de áudios, onde vozes são simuladas. Além dessas aplicações existem os deepfakes textuais, gerados por “máquinas de escrita” e deepfakes nas redes sociais, com a criação de perfis alterados, entre outros.
O risco potencial do emprego das tecnologias de IA, nas situações citadas, é, por exemplo, gerar depoimentos audiovisuais de personalidades públicas ou pessoas comuns, vivas ou mortas, sem as devidas autorizações.
As pessoas atingidas podem ser apresentadas defendendo pontos de vista antagônicos às suas posições políticas, sociais ou convicções religiosas, ou mesmo, sendo-lhes imputada a defesa de crimes, visando incriminá-las ou aproveitar-se de suas notoriedades, sem consentimento, em discursos políticos ou, mesmo, em propagandas.
A questão é: qual é o limite ético do uso dessas tecnologias?
Leia o poema "Distorções midiáticas", sobre o tema do texto.
Partes
Compartilhar partes
de um coração partido,
resgata antigos apartes,
sem nenhum sentido.
Se o conviver foi perdido,
não adianta persistir,
pois, não é concedido
reatar o que foi rompido.
Rupturas não são ranhuras,
apenas convicções quebradas
em relações inseguras,
como favas bem contadas.
Não dá para viver a colar
pedaços na busca do todo.
Não vale ficar sem ar,
propondo algum retorno.
Novos laços a entrelaçar,
inéditas relações a construir,
sem lamentos para lembrar,
apenas vidas inteiras a unir.
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Rock clássico
O Rock torna-se clássico,
o tempo doma rebeldias,
a fama rompe ideologias
e dilui o sarcasmo ácido.
Sensos, constructos vitais,
se perdem na jornada,
assim como jovens ideais
são contidos na calada.
As paredes derrubadas
ficaram pelo caminho,
mas as pressões listadas
continuam no escaninho.
Cabelos esbranquiçados,
esmaecidas vozes roucas
gritam refrões aguçados,
mas sussurram notas turvas.
Rock, abstraído, é eterno.
Tal abstrata longevidade,
para além de toda idade,
renasce após cada inverno.
Desagravo a Roger Waters, um dos fundadores da banda Pink Floyd.
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Uma pausa para o café
Coado em coador de pano,
servido em bule da ágata,
sorvido sem o correr insano
no viver de uma vida pacata.
O ritmo que flui com o cheiro
do café torrado e moído,
no tempo certo curtido,
guarda leve amargor brejeiro.
Memórias excitadas pelo olfato
evocam épocas de outrora,
atenuando a urgência do agora
presente nestes tempos de impacto.
Da correria do café expresso
quero a morosidade do café coado.
Mas, sem relutar, eu confesso,
qualquer café aprecio empolgado.
Partida fragmentada
Sentindo a ruptura da partida,
parte-se com o coração partido,
perdido, em pedaços sofridos
na eterna agonia da despedida.
Partes ficam e aguardam a volta,
na certeza de um novo encontro.
Sem dúvidas ou inócua revolta,
sentidos anseiam pelo reencontro.
O todo sutilmente fragmentado
anseia pelo retorno da integralidade
na força do abraço tão aguardado.
Enfim, chega o momento esperado,
partes ansiosas retornam ao todo
que explode todo o sentir guardado.
A dor da separação
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Renascer da verdade
A estrela vívida, brilha,
renasce no horizonte!
Efervescente sol, resplandece
dissipando a névoa e a noite.
Nesse horizonte que se forma,
o novo despertar conforma
a esperança compartilhada
por velhos e novos camaradas.
O florescer de amizades forjadas,
por ideais e almas calejadas,
é a base desse renascer.
A realidade, no alvorecer do sonho,
reforça a certeza na força da verdade
ao acordarmos de trevoso sono.
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Luz do irreal
Branca luz divide-se colorida, em meu sonho,
enquanto a imaginação se conecta ao irreal.
Através do sono, talvez dormindo, suponho,
anseio pela ponte para além do real.
Não existe fórmula certa, fujo do enfadonho,
busco algo fantástico, na aurora boreal.
Branca luz divide-se colorida, em meu sonho,
enquanto a imaginação se conecta ao irreal.
Entre devaneios perco-me em mundo medonho
distante de qualquer sinal de insanidade cordial.
Preso a dissimulado ritmo, ao qual me contraponho,
observo transmutar a luz alva do imaginar imaterial.
Branca luz divide-se colorida, em meu sonho!
Um pouco do imaginário... contraponto ao real.
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Decadência
Conceitos supostamente consagrados,
rumam à decadência, sem elegância.
Sobrepondo-se a essa visão ofuscada,
explodem conceitos não encaixotados.
A tradicional concepção eclipsada
regurgita dogmas em enxurrada,
mas em qualquer momento crucial
o que importa é a emoção gutural.
Sentimentos oprimidos anseiam por explodir,
porque verdades semeadas precisam eclodir,
em realidades que necessitam coexistir.
Reunindo tribos, assumindo a complexidade,
dá-se espaço, à criatividade com a diversidade,
sem decadência, apenas com elegância!
Livremente, inspirado na música “Décadence Avec Élégance” de Lobão, interpretada por Zélia Duncan.
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Denso limite
Convivo com a ansiedade
de ser o que já fui,
de viver o que já vivi,
ter o que já tive,
quando o que importa, na verdade,
é dizer algo sobre o agora,
e ter razão sobre não ter razão!
Sinto o tempo passar sem compaixão
nas bordas do destino dos que se vão,
sinto a densidade do vão,
sobrevivo a essa condição
que me empurra, sem dor,
para o limite da consternação!
Sofro com platitudes, como plumas,
a justificar a ausência de justiça
para meus pares, meus irmãos.
Anseio pela ladainha da oração,
no refrão de conhecida canção,
enfim, descompenso no limiar da inação,
mas, não deixo a alienação turvar a visão!
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