Poemas, frases e mensagens de EricoyAlvim

Seleção dos poemas, frases e mensagens mais populares de EricoyAlvim

MORRER DE VÉSPERA

 
cansei de morrer de véspera

espero o final dos tempos
esquestando a alma numa fogueira
embaixo do arco-íris

todos os venenos
circulam nos meus olhos
a última lágrima é uma adaga

afiada no sorriso da deusa

arranco lascas do caos
e faço a lua
que os idiotas cultuam nos sonhos

o analfabetismo dos bruxos
pouco importa aos anjos
e demônios que bebem em serviço

eu vago aonde a maré
grita pelas conchas
a escala do apocalipse

e não tenho medo do castigo
comigo a alma morreu
aonde o dano é além do perigo

e a tempestade derrubou as estrelas
levando embora quem sonha com abrigo
 
MORRER DE VÉSPERA

DELÍRIOS (Confidências de um Adolescente Apaixonado)

 
Na linguagem das delícias sucumbimos ao céu das artes.
Fomos chacinados pelos delírios do mais selvagem rock'n'n roll.

Eu danço ao redor do fogo em sua homenagem.

Sou o feiticeiro eletrônico conclamando tempestades magnéticas
sobre o desejo dos amantes embriagados de descobrimentos.

Quando a amanhecer despejar nas ruas
as sonolentas aves do paraíso das mentiras
trajadas nas armaduras das inseguranças e paixões,
estaremos atentos às confidências de um adolescente apaixonado.

Oceanos suavíssimos! desaguam doçuras
em florestas intragáveis de pássaros sentimentais,
para nosso espanto de fugitivos de todas as terras
cujos reis não sejam anarquistas.

Estaremos molhados pela aurora
onde os sóis despem as armaduras
de garanhões do sublime.

Quando a humanidade enfim despertar
da grandiloquência e da morte
poderemos lambuzar de céu
nossas faces de cépticos e de magos
aproveitando a chuva nas marquises
que servem de abrigo aos cães uivando afagos
 
DELÍRIOS (Confidências de um Adolescente Apaixonado)

Inútil Balada

 
Era das coisas lá do Céu mexer na forma da certeza
Era das coisas da Saudade saber da curva da despedida solitária
Era da aspereza sem cabimento ouvir receios quando na alma
o saber é o veio
Nunca é tão forte quando deduzir, a lógica é obscura malgrado viver
É como procurar o sentido em bares e perversões
a verdade nada tem de escândalo ou cruel

Era estranho mas na matéria sucumbe o Amor,
como esperar na bondade algum tipo de solução se aquele que pratica sacrifício merece além do escárnio ironia e afastamento,
quando o viaduto dissolve a cor do grafite,
choram anjos os mautratos do Amor
cuja magnitude é cuspida na cara vencido o pudor

É claro que o silêncio e o recolhimento são a mentira
de quem faz do estar só o corte mortal da adaga
e se o epitáfio é traçado vermelho o motivo é a dor que não apaga
aonde a ira é vinda sem o compromisso da permanência exata,
a lágrima bebida como o vinho servido na taberna fantasma
aonde o violão despeja os sonhos perdidos na inútil balada
 
Inútil Balada

Carta na Manga

 
mente quem acredita nas conveniências
e nas traduções enfeitadas do caos

mente quem embarca na festança louca
das carreiras e do sucesso empresarial

porque a lição de casa é saber
que a bruxa é o lado certo
e nunca a adormecida truqueira

e que os cabelos quando eram longos
livravam o homem de ser capacho e rasteiro,

e nunca o sorriso foi mais do que a carta
na manga no jogo com o espelho

e o porre o último estágio da certeza

quando apenas faisões sentem a torre dos átomos
desmanchar tocada pelo ancião descobrindo
o que perdeu: você não veio
porque a neblina era de outra cor

porque há nudez e nunca o cio
foi tão manifestado, porque é negócio

e nunca a ilusão comunitária apresentou
tanta manipulação, porque manda
quem pendura no próximo
a estrela da autoridade,
sonha quem extrai da planta
arquivos de quando o Éden era aqui

porque hoje no teatro das megalomanias absolutas
só é poeta verdadeiramente aquele
que atinge o estágio do homicida

aonde o conto de fadas é o macabro da atitude sutil
destroçada a noite embaixo dos viadutos
amontoados de estrelas apagadas a mil
 
Carta na Manga

Última Canção

 
Bota na estrada destino que vaga,
aonde o garoto dos dias tão velhos

Fora da quadra a cantiga é sem guia
aonde procuro quem fui na magia

Eu conheci uma velha bruxa
e não posso dizer o quanto do morto
deixei na loucura,
entenda que aos meus olhos enganados
no encanto das trevas a mais incrível beleza,
na descida ao inferno
em cada degrau um demônio e um pecado
tão meus sorrindo vilezas,
empunham as negras velas
das lamúrias sem fim

Houve céu algum dia,
aonde levou a folia

O carrasco aguarda
que o cortejo retire
a face degolada
meus sonhos enfim
conhecem a paz

Assinei a última canção
com o sangue das veias exaltadas
nos muros que servem de testamento,
não minto é lei nas terras do nada
- respeito os urros da fera
neste tempo de faces vagando ao vento
o que impera
é a tramoia,
neste tempo de guerreiros ajoelhados
no cemitério, nenhuma lágrima é joia
 
Última Canção

DEIXA

 
Deixa que a minha alma combalida/
e salpicada de estrelas cadentes /
no auge da bancarrota moral/
bata na porta dourada do seu amor/
quando a tempestade chegar//

Deixa que o terno rasgado/
esparrame da prata das águas/
riquezas que os ares não guardam//

como os sonhos que guardei para usar /
só quando a vida for um navio pirata/
deixando no porto das saudades irrecuperáveis/
aquelas dívidas que deixamos anotadas no armazém dos arrependimentos /
que nunca permitimos em momento algum/
mas que os idiotas da religião e do julgamento alheio/
teimam em acreditar que cultivamos //

Deixa por fim que eu seja mais que amante/
um tirano delirante/
que sem você acampa sozinho sem manhã//
porque se me deixa o grito o que destina/
a estrada antecede a esquina/
que de surpresa anima/
o vulto que de mim chega mais cedo a você//

no pulso invés de relógio uma estrela do mar
 
DEIXA

VERSOS DO AMOR

 
Eu corro na praia buscando uma estrela cadente
só p'ra te ver sorrir, eu ponho a mão no céu
e te dou de presente uma boneca de pano
e um saci

Eu não olho do lado quando se trata
de ti, apago o trânsito da rua
e tiro do bolso uma ilha só p'ra te ver passeando
num campo de morango todo de amor

É fácil penetrar nos limites do sonho
quando se trata de te possuir, te olhar
é inventar o sorriso da alma
que no pássaro é voar

Eu abandono todo hino só p'ra te ninar,
niemareio uma curva no horizonte
e o porto se enche das garrafas
com os versos do amor que no silêncio te dei

Prefiro pisar nas brasas calmamente
do que esquecer que um dia te vi
tua aura é uma chama tão vindente
que o teu chegar é muito mais do que aqui
 
VERSOS DO AMOR

A CORUJA LEVANTA GAVIÃO

 
Sexo degolado
do cavalo alado
esparrama avenidas criminais

na esquina da alma a traição

saudade é hóspede
segue estrada afora
a caravana dos abandonados

o rei é vivo
embriagado
no sangue da plebe

eu encho
de lágrimas
o teu ventre

eu visto o traje real
p'ra te amar, sêmem
e suor - coroado pelo sol

Na entrada da cidade
a bruxa-sexy recebe
o santo, a igreja é para o amor
o corpo é aonde/
pé-ante-pé
arranco da sombra
o leopardo
arrastando o sexo
no jardim do teu cio

O cavalo branco espalha
da crina o fogo na rua
- selvageria e doação

Teu corpo é a égua
de uma divindade em fúria,
teu íntimo um lago fumegando céus

Nu - encharco as areias
pelo cajado, certo da suculência
que no oásis te umedece o fruto

Tenho nas botas solidão
e desdèm, nas esporas
caravelas levam povos espirituais

Assassino, o gueto é meu,
se a sirene é o anjo denunciando
o invasor, a culpa é longe do ateu

Seja como for, o príncipe
nasceu do mendigo quando eu
te amei, das cinzas a coruja levanta gavião
 
A CORUJA LEVANTA GAVIÃO

Estatuto do Canalha

 
longos anos de exílio e nenhuma resposta
a noite rasgada pelas intempestividades da máquina
é o riso do facínora espalhando os olhos do arrependimento
no solo fenecido das alucinações virais

esquecido do abominável mundo dos contratos,
brinco com as meninas primitivas
da Galápagos do sexo

licenciosidade impera aonde o Parlamento é desconhecido
e a Orgia decide vida e morte

sou o rei fantasma
e só a imperícia interessa

o ofício marginal é condecorado
aonde a aura é a sombra do urubu

quando a sociedade nada mais é
do que o subterrâneo da maldade
só aos gênios é permitido sonhar

deixei nome e carreira nos chifres da vaca presencial da atrocidade
descomum como o lado concreto do mito
quando ambíguo é o princípio racional
quando as botas envernizadas que me distinguem da ralé
fazem o réptil chorar de saudade e fé
e tudo o que resta é o estatuto do canalha
pois a moto funerária da ambição espera na estrada
e embarco no passeio feroz da impetuosidade
que há em romper modelos e conveniências
inventando quem o destino coroa
no trono selvagem da liberdade
pois conhecer o sangue é da misericórdia desdenhar

Erico y Alvim
 
Estatuto do Canalha

Paixão Animal

 
como se te amasse loucamente
o tacape rodopiando pelo tempo
desde as caravelas
abre o Carnaval

como se pudesse tanto lamento
a fúria a farra a febre quem mais santo
indecente como era quando acesa na alma a vela
o corpo vertia sumos a todo ser da paixão animal

aonde os violões e batuques vagabundamente malandros
choram pelos sentidos adentro celebrações libertinas
índia nua é a pintura da saudade na tela ardente
quando os espíritos festejaram a carne em púbis e luz

esta terra precisa do Carnaval nada mais que sempre
esbórnia é a carta de princípios da raça
que sobe mais que a superfície
- ela sai da aquarela vestida das flores do caos

aberrantemente deusa como é da divindade trocar o equilíbrio de lugar

Bocarras linguarudas mordem o verbo da esbórnia/
rollingstoneando o carnaval
decimal desse mal eu morro
esse mal faz Bem
bem te vendo
a face pintada é guerra
o teu rosto pintado ferra
o olho vazado sem noção
do embuste enruste a demência
do espantalho que restou das armas
portentosamente fêmea
tua dança ignora hierarquias verborrágicas,
porque o desejo convida a tocar teu corpo
quando os sinais de trânsito perdem
o controle das estrelas
o céu ganha outro sentido
e as ruas dispensam os minotauros da insensatez
 
Paixão Animal

Rock Horror Sertanejo

 
Vejo os ventos estufando bandeiras execráveis
a rebelião é doce na tomada das ruas
nos devaneios,
a causa da desordem é que o novo verbo celeste
sai do sonho e caminha na poeira,
sei disso porque ouço os viajantes da noite
relatando as quedas

Conquistada a manhã
a cama tornou-se irreal,
e os poucos anjos preservados impunes
recolhem confissões dos amores imperdoáveis
despidos na aflitiva chegada
das manchas sonoras na lua

quando tudo enfim é uma gota gigante
do transparente mel escorrendo da colher marinha

quando tudo enfim é um trago antes da hora
antes de você antes de revelado o segredo

O vandalismo das viúvas
putri'vulvas
é um rock horror sertanejo
estátuas guerrilheiras de sobejo
sangram agruras heavy-esdrúxulas
aonde a revanche perdura

para que a nova elite surja da face lavada das rebeldias válidas

Eu sigo matuto sem regras
sonhando pântanos
aonde elementais dominam a noite
sei dos presságios
porque o crime vem do porão de Babel,
sei de mim porque só é definitivo o esculacho
 
Rock Horror Sertanejo

AURORA DO SEMÁFORO

 
O Sol derreteu
escorrendo pelas frestas do céu
onde os encanadores do estômago
vêm praias,
não pensem estes redentores do auto-perdão
que vou mergulhar na piscina dentro de mim (não!)
como querem os que passaram pela vida
com olhos-turistas,
não vou apagar meu fogo
com o dinheiro que transborda o sangue dos desenterrados,
sangue drenado nas represas da desumanização
p'ra passagem do navio de intestinos penteados
na escadaria da igreja estufada pelo arroz
dos noivos do vício deixado aos filhos bastardos
enquanto aos órfãos da pátria drogada e prostituída
disputam a carniça aos urubus.

O corpo de bombeiros arde em chamas
e o mercúrio transborda das represas,
o exército guarda almoços importados
e a multidão bêbada por mártires
crucificando rebeldes
nos matadouros,
para deleite dos esqueletos abandonados.

Da vagina da avenida brota uma espiga de ferro
parindo um semáforo vermelho
como um olho do inferno
flertando com olho solar
dos cabisbaixos,
engolindo a escuridão
num ronco de cemitério.

E quanto mais se anoitecem
como polvos pelo avesso
mais o mundo é um atoleiro
formado das almas
dos que despiram o espírito
e deixaram apodrecendo no chão

Nossas vidas sepultadas sob as letras nos papéis,
e caminhamos por uma cidade cujos edifícios são as leis,
das páginas dos jornais escorre o sangue do filho e do pai
escorrendo belos bueiros como uma aurora marginal
nascendo nas calçadas,
o céu sórdido
dos que brotaram no túmulo carnavalesco
da civilização
e que não passa de um curral de bois atolados na baba do delírio
(1.979)
 
AURORA DO SEMÁFORO

KÁTIA

 
(REFRÃO)
Kátia,
os pássaros desfilam no teu rosto numa algazarra de cores
dentro dos olhos. e a oração levanta mulher
Os cabelos teus palácios de vento cheios de trombetas soando em
direção aos mares.
Às vezes quando o silêncio dá lugar à imagem ninguém vê
o que transparece no caminho que leva às profundezas do coração.
Feras feitas de música dormem no aconchego das cordilheiras mudas
do teu corpo cru como uma linguagem intraduzível.
Teu andar puxa o oceano que ondula embalado ao ritmo dos quadris
de pérolas macias
sob núpcias de cometas que esvoaçam refletidos na carne-marinha.
Posso me enganar a quanto a mim quando não sonho
mas não posso conter a mente que rasga paredes
a vai-se espalhar no deserto sussurrado das estátuas inquietas.
Sei que teu colo cristalino guarda o vulto de beijos que ecoam no rosto
feito caverna recebendo o mar.
Não vou definir o amor
mesmo porque a distância é
um sinal
proibindo o trânsito do desejo e o céu foi tomado caem pedaços do céu
quente
queimando a calçada,
anjos com língua de raio anjos com
dentes-de-sabre
empunhando metralhadoras retalham a espinha do céu e desabotoam estrelas
submersas no sangue
escorrendo entre o cósmico e a parede.

É uma pena eu não poder dedilhar um violão ao teu ouvido
mas é que a poesia é uma clave do íntimo

Garanhões velhos manquitolam na estrada do erotismo absoluto
mas acabam nas cercas pendurados nas dúvidas

(Kátia, vem cá te avisei, amor e diferença só combinam, --------
Kátia, vem cá te avisei, amar-se é fazer o destino ------------------ refrão)
 
KÁTIA