MÃOS ENSANGUENTADAS
Escrevo com a mão direita
Com a outra cravo uma lâmina afiada
no meu pobre coração
Quanto mais fundo ela penetra
mais intensamente meus versos jorram
Sinto-os quentes e borbulhantes
Sem rimas, brutos e inacabados
É por isso que escrevo
com as duas mãos
e de olhos fechados
Vendo apenas
a imensidão dos meus sonhos
Corroídos e malfadados...
Na calada da noite
NA CALADA DA NOITE
Esgueiro-me na noite, calada.
Meus olhos voltados para o céu
Trago em mim a morte atrelada
Nem me deixa saborear o que ainda é meu.
Neste Outono da minha ternura
Meu silêncio vem envenenar
O sono desperta e a noite é escura.
E eu apenas quero a Vida amar!
Já a saudade me roía
Eu a querer ir sempre mais além
Mas com estas velhas asas como podia?!
Sentei-me na noite como quem espera alguém.
Assim parados ficam meus anseios
O que se agita, se ouve, apenas o vento
Passam por mim devaneios
Num emaranhado enternecimento,
onde crescem flores e nascem sorrisos,
e aparecem novos sonhos sem avisos.
Nesta noite, perfume as rosas me dão
Já nem necessito olhar as estrelas
Arranjei modo de entender meu coração
Fantasias, loucuras, deixo-me a tecê-las.
rosafogo
"Descortinando sonhos"
"Descortinando sonhos"
De dentro de mim os laços, desfio.
Descortino os sonhos, sigo a rima.
Buscando com sede de sobrevivência
Ânsias que a vida molda e repagina.
E se os massacrantes dias são de espera.
Cheios de palavras tortas, sem calor.
De falas sem ênfases e entrecortadas,
Ciclos não concluídos, silêncio devastador.
Então o amor chega solto, sorrateiro.
Vestindo de ilusões os dias vãos.
Arrastando pra bem longe o desvario.
Embalando meus versos, hoje sãos.
É árvore centenária, viçosa e frondosa.
Deu ao poema represado, fala forte.
Refletiu dos dias verdes, todo o viço.
Hoje os rios dos meus sonhos, já têm norte.
Glória Salles
Memórias de OURO
Numa manhã de Verão suave
Escutando a brisa doce, silenciosamente.
As memórias de ouro vagam por campos imutáveis da vida
As flores vão à deriva fundem-se contra a luz de ouro suave do sol
As águas do mar azul suave retrocedem na luta silenciosa
As gaivotas do mar brilham em vestidos brancos que soam com gritos de quem está maravilhado
A beleza está entre os pensamentos de momentos idos e de hoje.
Busco sempre por memórias e sonhos de ouro guardados na minha mente e coração.
Rosangela Colares
muros do esquecimento
Já não pousam os pássaros
nesta árvore de ramos nus
nem os sonhos têm encontro
marcado
neste pedaço de vida
aprisionado...sem luz!
Só uma solidão altiva
ameaça precipitar-se
sobre quem sonhou outrora,
e vem agora sorrateira
enfeitar-lhe o rosto
rasgar-lhe a pele
num amargo fel.
Embora seja só uma réstia
de esperança
há-de habitar-lhe sempre
a mente uma lembrança,
irá colher... uma a uma
com paixão
e se um dia ficar sem nenhuma
morrer-lhe-à o coração.
A memória será espelho partido
pássaro solitário,silencioso,
será o silêncio depois das palavras
será a ausência sobre todas as coisas
ganhas e perdidas,
sol misterioso,
que se esconde atrás das nuvens,
vestígios de vivências estremecidas.
natalia nuno
rosafogo
ao olhar para trás...
já confusa fica a memória
não há esperança que a salve
vai-se apagando sem dar conta
e mais uns dias vividos
já a vida vai a uma ponta
esta é a realidade,
ao olhar para trás
surge a saudade.
foi-se o calor dos sonhos
a impetuosa fantasia
tão própria da idade
sabendo que a vida aí
- é tão nossa!
quanta saudade
de tudo o tempo se apossa.
hoje parece que esse tempo
não me pertenceu
a noite já não é surpresa no meu
rosto
sombras desvanecidas
asas caídas
no olhar o sol posto.
natalia nuno
rosafogo
Ana e os Sóis Interiores
(para a minha filha Ana, que nasceu hoje!)
Deixei a vida de escravo para ir trabalhar para o campo.
Foi uma decisão tomada num impulso momentâneo. Que surpreendeu toda a gente! Era um dos que tinham capacidade produtiva, sendo, por isso, considerado valioso. Isto apesar de sempre ter sido sonhador. Apenas a minha mulher me apoiou.
Mas os sonhos concretizam-se quando a semente germina. E o futuro vinha aí. Uma filha aproximava-se!
Alguns amigos, bastante curiosos, perguntavam-me:
- Que vais fazer para o campo? Nada percebes de agricultura.
E eu sempre respondia:
- Vou plantar dentes-de-leão azuis! Vou crescer vida! Vou ser feliz!
- Dentes-de-leão azuis!? - Retorquiam - Mas estás doido? Isso não existe! Ao menos, planta algo que te dê pão.
Mas eu não ouvi. Limitei-me a persistir.
Foi num pequeno planalto, protegido pelos braços dos montes e que logo pela manhã era acarinhado pelos raios de luz, que decidimos semear os nossos sonhos. E instalamo-nos numa pequena casinha de madeira.
Passados uns meses, as cegonhas cor-de-rosa chegaram. A Ana nasceu e a nossa família cresceu. Para agradecer a bênção recebida, plantamos uma romãzeira ao lado da casa. Aí, mais tarde, colocar-se-ia um baloiço para a nossa filha voar.
A chegada da Ana renovou a nossa esperança e reforçou o carinho com que tratávamos a terra.
A nossa filha foi crescendo e amava a terra. Tinha uma ligação especial com a romãzeira, que tratava por irmã. Deliciava-se com as nossas histórias e vibrava com os dentes-de-leão azuis.
Mas o tempo foi passando e nada de dentes-de-leão. Muito menos azuis.
Avizinhavam-se novas mudanças e decisões eram necessárias. Numa noite, após o jantar, disse à minha mulher:
- Querida, a nossa filha vai para a escola e necessitará de mais apoio e de material escolar. Até hoje mantivemos o terreno dos dentes-de-leão livre, mas se calhar chegou a hora de isso mudar. Que achas?
A Ana, que ouvia a conversa, agarrou-nos as mãos e, levando-nos até ao campo vazio, disse:
- Pai, Mãe, não desistam. Aqui haverá sóis interiores! - e libertou, sobre o lugar dos nossos sonhos, as lágrimas que tinha no rosto.
Comovidos, pegamos na nossa filha e, sem nada dizer, confortamo-la no nosso abraço e, fomos dormir.
Talvez fosse mero acaso, talvez fosse pelas lágrimas. Mas, no dia seguinte, os dentes-de-leão floriram azuis.
Ah! Eram qualquer coisa de fantástico. De noite, faziam a aurora sorrir. De dia, entoavam as melodias do vento.
Tinham características especiais. Pois nascidos do amor, quando colhidos com ternura, libertavam o pólen da luz e o calor da renovação. Eram, tal como a Ana havia dito, autênticos sóis interiores.
Em pouco tempo, éramos notícia internacional. E eram tantas, as pessoas que os queriam ver e comprar.
No entanto, a Ana dizia:
- Não são para vender. São para oferecer aos que necessitam de sonhos.
também disponivel em:
http://inatingivel.wordpress.com
http://plenoazul.wordpress.com
Na janela do devaneio
A lua prateada apaga-se
No pardacento da noite
Os sentires transmutam-se
Na saudade perene
Os pensamentos voam
Os sonhos aparecem
Na janela do devaneio
Do meu olhar ardente
Na melodia das palavras
Das notas poetadas
De uma canção sufocante
De mim simples mortal
Perco-me na intemporalidade dos sonhos
Dos quereres asfixiantes
Nesta noite Outonal
Onde o nada é tudo
Na imaginação de ti
No sufoco de mim
Só eu e o ilusório imaginado
Neste poema delineado
Pela alma privada
Que sente como gente
Escrito a 29/10/08
http://saboreamo-nos.blogspot.com/2008/10/sente-como-gente.html
Capítulos ao vento
Há um morro a desbravar
Mil tropeços no caminho
Um livro que vai a meio
Todo um céu que adivinho
Não há mal que me demova
Atalho ou encruzilhada
Meus passos voam nos céus
Respondem à voz de Deus
Chegam ao cimo da escada
Já prefaciei os sonhos
Dei-lhes asas de condor
Capítulos feitos de vento
Um mundo de sentimentos
Palavras cheias de amor
Maria Fernanda Reis Esteves
50 anos
Natural: Setúbal
*Oceanos de Olhares*
Foram oceanos de olhares,
Por onde os meus olhos navegaram…
E se debateram contras as ondas dos demais,
Envoltos nas sombras salgadas mergulharam,
Nos sonhos de contemplares, eles brotaram…
Para lá das águas cristalinas desvendaram,
Esses mesmos olhares que continham mais da expressão,
Onde muitos em tempos naufragaram…
Mas que não se aventuraram para achar a canção,
Que lhes definia o brilho da emoção…
Sim! Foram oceanos de olhares,
Os que navegaram para lá da minha e da tua solidão,
Estimulados pelas pedras de sal que caiaram,
Embalados com os ventos que lhes afagavam o coração,
Presos ao cântico que os consumia em implosão…
Para lá das mesmas águas cristalinas estão as almas,
Que nesses mesmos olhares os meus olhos avistaram,
Num reflectir de sonhos,
Os demais encantaram,
Nas águas que caiaram…
Marlene
Read mora: http://ghostofpoetry.blogspot.com
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São imensos os olhares que nos cruzam...
Neles há sonhos em cada brilho.
Abraços e Felicidades.