ao olhar para trás...
já confusa fica a memória
não há esperança que a salve
vai-se apagando sem dar conta
e mais uns dias vividos
já a vida vai a uma ponta
esta é a realidade,
ao olhar para trás
surge a saudade.
foi-se o calor dos sonhos
a impetuosa fantasia
tão própria da idade
sabendo que a vida aí
- é tão nossa!
quanta saudade
de tudo o tempo se apossa.
hoje parece que esse tempo
não me pertenceu
a noite já não é surpresa no meu
rosto
sombras desvanecidas
asas caídas
no olhar o sol posto.
natalia nuno
rosafogo
Caligrafando Dallavecchia
..
Caligrafando Dallavecchia
Um dia
vi a minha morte
podia ser o título
de uma poesia
mas era tão horrível
que chamar-lhe
rodapé de cinzas
seria um elogio
Nesses dias sombrios
vi também, o meu cadáver
mais de cinquenta anos
de ossadas enterradas
num cemitério de sonhos
mas ainda
estou aqui
- é a minha vida!
e...
porque acreditei e acredito
no milagre
tu surgiste e és
a profecia anunciada
no dia em que eu nasci
Amo-te
até que um outro dia
até que uma outra hora
a minha morte liquide todos
os movimentos
e eu abandonado
ao vazio do meu corpo morto
preencha o espaço
(desconhecido?)
dentro do mundo
onde buscarei desesperadamente...
o interior do teu olhar
e então
pela primeira vez deitado
no teu vestido feito de estrelas
a luz da tua divina criação
escreverá nas galáxias
o nome que adoptei
para que
o meu e o teu lado
sejam eternamente
o universo
brindado
no big-bang
do teu ser amado.
Luiz Sommerville Junior(por dupla consoante e dupla vogal recuperado), 23082014,19:59
Obrigado, amor!
Luis Sommerville Junior, Antologia , 1964-2014
Fonte : Barquinho de Letras
"Descortinando sonhos"
"Descortinando sonhos"
De dentro de mim os laços, desfio.
Descortino os sonhos, sigo a rima.
Buscando com sede de sobrevivência
Ânsias que a vida molda e repagina.
E se os massacrantes dias são de espera.
Cheios de palavras tortas, sem calor.
De falas sem ênfases e entrecortadas,
Ciclos não concluídos, silêncio devastador.
Então o amor chega solto, sorrateiro.
Vestindo de ilusões os dias vãos.
Arrastando pra bem longe o desvario.
Embalando meus versos, hoje sãos.
É árvore centenária, viçosa e frondosa.
Deu ao poema represado, fala forte.
Refletiu dos dias verdes, todo o viço.
Hoje os rios dos meus sonhos, já têm norte.
Glória Salles
Na calada da noite
NA CALADA DA NOITE
Esgueiro-me na noite, calada.
Meus olhos voltados para o céu
Trago em mim a morte atrelada
Nem me deixa saborear o que ainda é meu.
Neste Outono da minha ternura
Meu silêncio vem envenenar
O sono desperta e a noite é escura.
E eu apenas quero a Vida amar!
Já a saudade me roía
Eu a querer ir sempre mais além
Mas com estas velhas asas como podia?!
Sentei-me na noite como quem espera alguém.
Assim parados ficam meus anseios
O que se agita, se ouve, apenas o vento
Passam por mim devaneios
Num emaranhado enternecimento,
onde crescem flores e nascem sorrisos,
e aparecem novos sonhos sem avisos.
Nesta noite, perfume as rosas me dão
Já nem necessito olhar as estrelas
Arranjei modo de entender meu coração
Fantasias, loucuras, deixo-me a tecê-las.
rosafogo
O POETA QUE VIVE EM MIM
O POETA QUE VIVE EM MIM
Este tempo em mim maldito!
Me deixa como ave lenta
Despida de penas
E palavras em que não acredito.
São apenas...
Dores que o Poeta inventa!
Mas Poeta é livre como o vento
Em seus versos canta, sofre e respira
Seu céu ora é azul, ora cinzento
E vê e ouve o que mais ninguém viu ou ouvira.
Grande é a sua sede de viver
Inventa histórias de memórias esquecidas
Saem-lhe palavras para oferecer
De utopia suas idéias tráz vestidas.
Não controla as emoções, é a verdade
O Poeta vagueia pela loucura
Vive falando da saudade
Faminto de sonhos e de ternura.
Às vezes mais morto que vivo
Há nele sempre um mar de esperança
E um velho menino adormecido
Sonhando ser ainda uma criança.
rosafogo
minha entrega à poesia
As lembranças
são as mais belas flores da m'ha alma
quando surge o desalento
me dão coragem, ventura de ser.
Cismadora, arranjo alento
ateio a chama, e no coração
a esperança até caber.
A solidão que me resgatou
me entrega aos versos
e embora poeta imperfeito
ninguém mos arranca do peito
No perfume da madrugada
há luz e harmonia
e uma vontade imensa
de entrega à Poesia.
Florida é a saudade
da idade da adolescência
quem não sonha
com anseios da mocidade?
Em meus versos a descrevo
enquanto se consome minha existência.
E num infantil encantamento
a relembrar os primeiros anos
os pensamentos estremecem,
vejo os danos,
mas deixo-me morrer sorrindo,
vivo e morro cantando
a reviver,
com a ventura de ser
Poeta...
natalia nuno
rosafogo
Ana e os Sóis Interiores
(para a minha filha Ana, que nasceu hoje!)
Deixei a vida de escravo para ir trabalhar para o campo.
Foi uma decisão tomada num impulso momentâneo. Que surpreendeu toda a gente! Era um dos que tinham capacidade produtiva, sendo, por isso, considerado valioso. Isto apesar de sempre ter sido sonhador. Apenas a minha mulher me apoiou.
Mas os sonhos concretizam-se quando a semente germina. E o futuro vinha aí. Uma filha aproximava-se!
Alguns amigos, bastante curiosos, perguntavam-me:
- Que vais fazer para o campo? Nada percebes de agricultura.
E eu sempre respondia:
- Vou plantar dentes-de-leão azuis! Vou crescer vida! Vou ser feliz!
- Dentes-de-leão azuis!? - Retorquiam - Mas estás doido? Isso não existe! Ao menos, planta algo que te dê pão.
Mas eu não ouvi. Limitei-me a persistir.
Foi num pequeno planalto, protegido pelos braços dos montes e que logo pela manhã era acarinhado pelos raios de luz, que decidimos semear os nossos sonhos. E instalamo-nos numa pequena casinha de madeira.
Passados uns meses, as cegonhas cor-de-rosa chegaram. A Ana nasceu e a nossa família cresceu. Para agradecer a bênção recebida, plantamos uma romãzeira ao lado da casa. Aí, mais tarde, colocar-se-ia um baloiço para a nossa filha voar.
A chegada da Ana renovou a nossa esperança e reforçou o carinho com que tratávamos a terra.
A nossa filha foi crescendo e amava a terra. Tinha uma ligação especial com a romãzeira, que tratava por irmã. Deliciava-se com as nossas histórias e vibrava com os dentes-de-leão azuis.
Mas o tempo foi passando e nada de dentes-de-leão. Muito menos azuis.
Avizinhavam-se novas mudanças e decisões eram necessárias. Numa noite, após o jantar, disse à minha mulher:
- Querida, a nossa filha vai para a escola e necessitará de mais apoio e de material escolar. Até hoje mantivemos o terreno dos dentes-de-leão livre, mas se calhar chegou a hora de isso mudar. Que achas?
A Ana, que ouvia a conversa, agarrou-nos as mãos e, levando-nos até ao campo vazio, disse:
- Pai, Mãe, não desistam. Aqui haverá sóis interiores! - e libertou, sobre o lugar dos nossos sonhos, as lágrimas que tinha no rosto.
Comovidos, pegamos na nossa filha e, sem nada dizer, confortamo-la no nosso abraço e, fomos dormir.
Talvez fosse mero acaso, talvez fosse pelas lágrimas. Mas, no dia seguinte, os dentes-de-leão floriram azuis.
Ah! Eram qualquer coisa de fantástico. De noite, faziam a aurora sorrir. De dia, entoavam as melodias do vento.
Tinham características especiais. Pois nascidos do amor, quando colhidos com ternura, libertavam o pólen da luz e o calor da renovação. Eram, tal como a Ana havia dito, autênticos sóis interiores.
Em pouco tempo, éramos notícia internacional. E eram tantas, as pessoas que os queriam ver e comprar.
No entanto, a Ana dizia:
- Não são para vender. São para oferecer aos que necessitam de sonhos.
também disponivel em:
http://inatingivel.wordpress.com
http://plenoazul.wordpress.com
Quadras - Afagos
QUADRAS- «AFAGOS»
Já o Sol vai nascendo
Trazendo côr à minha Vida
Fico a Deus agradecendo...
Poder olhá-lo embevecida.
Se é tão curta esta Vida
Chorosa logo ao nascer
Não me quero saber cativa
Quero ser livre até morrer.
Sou triste, me aflijo tanto
Mas ninguém suspeita sequer!
Vou chorando este meu pranto
Sofro cá dentro! Sou Mulher!
Já usei tranças um dia
E ninguém mais se lembrou
Da Mocidade me despedia
Silenciosa a dor não curou!
Minhas tranças eram escuras
Com laços côr de solidão...
Agora nas horas das ternuras?!
As lembro com comoção.
Meus sonhos eram futuro
De Amor trazia o peito cheio
Ainda agora procuro...
Mas Sonhos? São devaneio!
rosafogo
Capítulos ao vento
Há um morro a desbravar
Mil tropeços no caminho
Um livro que vai a meio
Todo um céu que adivinho
Não há mal que me demova
Atalho ou encruzilhada
Meus passos voam nos céus
Respondem à voz de Deus
Chegam ao cimo da escada
Já prefaciei os sonhos
Dei-lhes asas de condor
Capítulos feitos de vento
Um mundo de sentimentos
Palavras cheias de amor
Maria Fernanda Reis Esteves
50 anos
Natural: Setúbal
*Oceanos de Olhares*
Foram oceanos de olhares,
Por onde os meus olhos navegaram…
E se debateram contras as ondas dos demais,
Envoltos nas sombras salgadas mergulharam,
Nos sonhos de contemplares, eles brotaram…
Para lá das águas cristalinas desvendaram,
Esses mesmos olhares que continham mais da expressão,
Onde muitos em tempos naufragaram…
Mas que não se aventuraram para achar a canção,
Que lhes definia o brilho da emoção…
Sim! Foram oceanos de olhares,
Os que navegaram para lá da minha e da tua solidão,
Estimulados pelas pedras de sal que caiaram,
Embalados com os ventos que lhes afagavam o coração,
Presos ao cântico que os consumia em implosão…
Para lá das mesmas águas cristalinas estão as almas,
Que nesses mesmos olhares os meus olhos avistaram,
Num reflectir de sonhos,
Os demais encantaram,
Nas águas que caiaram…
Marlene
Read mora: http://ghostofpoetry.blogspot.com
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São imensos os olhares que nos cruzam...
Neles há sonhos em cada brilho.
Abraços e Felicidades.