Pudim de miseráveis
Sem limites nem senso
leva-se a miséria ao rubro
até a amargura gratinar doida.
Com a pobreza presa nos dentes
em cativeiro, firmemente
fazem-se muitos mais pobres
e alguns mais ricos, na sombra
... juntos no mesmo almofariz,
velhos e novos mendigos assanham-se
e no eco das vozes inquietas
soltam-se fomes,
vestidos de luto,
ganidos aflitos em tons pastel
vivem uns, outros morrem
com lamentos enrolados na língua.
E tudo dura enquanto durar
o lume dos gananciosos
usurpadores do destino alheio...
È uma tristeza
É uma tristeza este luso.
Digo-o sem peias... ver alguns autores (que até tinha, e apesar de tudo ainda tenho) pegado com futilidades de quem escreve ou não escreve, como quem de alguma forma se ache melhor que quem quer que seja, ou ver outros grupos de gente a gladiarem-se com comentários de merda e pouco carácter, como que se a escrita de quem escreve tivesse alguma cartilha de pormenor (e espero bem que alguns não me venham com outros pormenores, porque mais ordinários que vocês todos sou eu por inteiro e chamo-vos em on-line os nomes todos, podem ter a certeza disso), ver um site que deveria ser de bem estar, trabalho, poesia e obra de todos e afinal não passam de uns miseráveis à procura de protagonismo e alguma coisa para fazer na porcaria da vossa insignificante vida... são tristes no sentir, são tristes no agir, e acima de tudo são tristes na mensagem que transmitem a todos os que usam o site, e não são só vocês miseráveis que andam à procura de qualquer coisa, porque na porcaria da vossa vida nunca tiveram nada... são tristes por vocês e são tristes pelo que transmitem aos outros que até estão no site de boa fé e sem intenções de mais valias pessoais, são tristes por vós... mas porra... sejam tristes sozinhos... ninguém precisa de guerras e porcarias destas que além do baixo carácter que demonstram... apenas são pessoas coitadas...
... há muita vida na poesia e na escrita desde que todos se saibam respeitar e compreender, é por isso que a escrita é milinar... não foram vocês que a inventaram agora, e lá porque alguns bons escritores aqui têm escrito, não são os melhores... depois de vocês melhores virão, e outros também não... é pena que tanta gente que escreve bem se perca na sujidade do supérfulo, é pena que não canalizem toda essa boa escrita para um bem comum, ao invés de se gladiarem em comentários de baixa categoria "só porque não simpatizo contigo", ou "só porque me comentastes assim...", é pena que com tanta qualidade que têm não consigam ter a capacidade de serem mais... se calhar... afinal apenas são escritores da treta, que escrevem para que todos comentem e com isso ficam muito agraciados, vão para a cama e deitam-se contentes porque fizeram algo que alguém vai ver... mas tristes são, eu diria miseráveis, quando as pessoas vivem à espera do que os outros vão dizer... se calhar não somos um país de merda, somos um país feitos de gente como vocês... ainda bem que não sou assim!
Emilio Carlos, com muito prazer, e com muita honestidade, sou poeta. mau ou bom, mas estou muito acima destas porcarias com que vocês entretêm a vossa vida... vão ao circo, ou ao cinema, ou então façam sexo, que pelo menos já vos passa a parvoíce
Compulsivo
Sou compulsivo, sou
bêbado dedilhado ao sabor do instante,
bebo o mundo e o algures, se isso houver
Sou compulsivo sim
de vícios e virtudes,
de enlances e nuances e demais uances,
do que bom ou mal
a vida me trás.
Compulsivo, sim
na liquidez do dia
no sorver das horas iníquas
em que o tempo urge e definha
ao ritmo das horas ténues.
Vivo, prenhe de vida
no que da vida tenho para viver,
e uso o restolho dos sentidos
para o que demais provir.
Compulsivo no amar sem freios
quando amor há para haver,
compulsivo amor presente
por não saber amar d’outrém…
Morto… compulsivo,
porque a morte não temo
que de mim em vida dei
por mais que me queira cobrar,
o que sou, mais não tenho…
Lua noivada
Cobiçei a lua mais rubra
que o céu tinha noiva
e do amor raiado
talvez descubra,
o que à vida me faz falta.
Casei sem aviso
com a única lua
que havia nos céus
e durante as núpcias vulgares
que o amor entorna sempre,
os dias viveram sem noites,
nem madrugadas,
no meu coração.
Jardins de revolução
Lilases, as flores pediram o sol
mas a ditadura roubou os céus
antes das preces vãs do pólen.
Na surdina do motim
as areias secaram os jardins
e as confissões dos olhos
com os silêncios que as horas
tramam disfarçados no riso.
E os políticos que mandavam
nos destinos do mundo,
ao verem os dias descolorir
em dentes de vingança,
soltaram o céu no seu lugar alto
e fugiram pelas brechas de piedade
que a luz das flores desenhavam
com abraços e beijos
na liberdade do sonho...
pelos jardins da revolução!
Swing
Vamos jogar este jogo inocente
onde o amor despe e ferve
gulosas extravagâncias do ser
que brotam das lajes
com o calor da sede.
Dá-me a tua mulher
em troca dou-te a minha,
e num arrabalde
vamos traçar as margens
entre o feno e lume
neste jogo de ritmos fogosos
onde os corpos se lavam
em matilhas de prazeres comuns,
gemidos suados debaixo da pele
a aguçar os sentidos frondosos
ora eu com a tua,
ora tu com a minha
ora todos no imprevisto,
presos aos sentidos
a dardejar emoções escondidas
no ventre e na alma.
Vamos brincar este jogo inocente
é o mete e tira
no mesmo brado gemido,
mimam-se sem murais,
acossam-se exaltações
a soçobrarem do sono promísco,
embalde pelo capricho da carne
e amanhã seremos de novo nós,
deglutidos pelo inolvidável,
imaculados.
Regatear a vida
Todavia regateio a vida
nas lotas dos vulgares,
com uma mão vazia
e a outra cheia de coisa nenhuma.
Corremos à volta da sorte
lacetados, a voltejar entre a ousadia
e o medo de perder... a alma,
num pavor surdo e fundo
que só sonha quando infeliz se deita,
em esperanças adulteradas
por tédios e melancolias,
que roubam vida à vida.
Hipotenusa da saudade
Com o movimento sisudo
de um adeus sem voz nem tez
a hipotenusa dos sentidos
estatelou-se no soalho do ângulo recto
mais amigo da bicetriz da alma
... tristemente ferida de morte
a saudade foi sepultada na carne
com prependiculares de lamentos
e absurdos quotidianos
onde mora o resto da vida
que não conhecemos!
Tracejamento
Faço um traço no papel
espesso como a razão de o fazer.
Demoro-me um pouco mais
a pensá-la, em vão...
... cansado, já pela noitinha
prolongo o traço pouco mais
que dois dedos travessos,
abro-o calado e deito-me
a pensar porque traçei eu
um traço tão grande
para só eu nele dormir...
... mas adormeço, tracejado.
Dor
Se a dor não doesse
era coisa boa
mas às vezes
a dor dói tanto
que até magoa...