Menino do Lixo
Embalado pelos braços do abandono
As estrelas que vi eu perguntei
O meu rumo, o meu destino, o meu engano
O meu pecado, a minha vida – onde eu errei?
Fui jogado aos cantos porcos, maus e imundos
E pela luz da indiferença me guiei
No lodaçal todos os meus sonhos mais fecundos
Pelas sarjetas da vida eu me criei
Endurecidos corações, tamanho é o preço
Que permaneço à pagar vivendo assim
Nos açoites do mundo o meu começo
Que mais então deverá chamar-se fim?
George ArribasRecanto do Poeta
Moinhos...
Moinhos...
Partindo ágil a criativa pena...
Encena a régia sorte fria da quimera
Que deslizando suave vai de encontro a primavera
Ouvindo a lua entardecendo uma canção
O coração reflete a luz que abriga ansiosa espera...
Revelando ao dia o que a noite não revela
Entre os moinhos de vento da razão
George Arribas
Recanto do Poeta
Lia
Lia
E Lia ria pela estrada nua
Que se lhe abria como caminhada
E perseguia uma ensandecida lua
Que se movia como se fosse alada
E Lia ria como quem fugia
Da primazia de uma sorte errada
Que lhe valia uma envergonhada rua
Que lhe acolhia como se fosse amada
E Lia ria como lhe aprazia
Como quem sorria do que pranteava
Chorava Lia como lhe cabia
Como bem queria do que lhe tragava
E ria Lia como quem urrava,
Do que suportava, do que lhe doia
Como quem amava Lia nao vivia
Lia so morria como quem vagava
George ArribasRecanto do Poeta
Dona da Aldeia
Dona da Aldeia
Vejo sinais além do cais...
Como quintais a mais na areia
Velando velas zenitais
Que atroz voraz o vento ateia
Por entre umbrais escuto os ais
Dos frios punhais que a dor golpeia
Em profundezas abissais
Dona demais da minha aldeia
George Arribas
Recanto do Poeta
Negresia
Escreve a minha cor sem cor
- a cor da estupidez
No despudor descreve a dor de tua cor
- na cor sem vez...
Ufana a sensatez do amor
- na flor dessa altivez
Porque é livre e emana amor
- a cor de tua tez
George Arribas