A Grande Amante
Foste a pior das minhas amantes,
A que despendi mais que tempo para uma vida.
Foste a primeira e única, sempre presente.
Contigo traí todas as outras.
És veneno viciante,
Por muito distante que me encontre,
Encontro-te sempre, sinto-te.
Volto. Como volto sempre,
Eu nesse mundo fechado sobre ele próprio
Diferentemente comum a todos que te conhecem.
Talvez sejas uma Deusa, uma Deusa viva do amor,
Uma Afrodite (Vénus),
Ísis, Freya; um demónio,
Vampiro sedento.
Meu amor, quantas vezes te devia ter deixado?
Quão perdi por ti?
E o tempo que me roubaste
Quando brincavas com clausuras,
Atracção física, centro de gravidade.
Quantas vezes brincaste?
Foste a melhor das amantes,
Os sítios que tão bem conheço.
Não te conheço por inteiro,
Mas o que conheço,
Conheço mais intimamente
Que a mais ínfima chama que não ardeu por ti.
Foste a minha prisão, privação, isolação,
És de onde ainda é difícil fugir.
Amar-te-ei sempre acima das outras,
És algo que se traz cravado no corpo,
Uma certeza sem dúvida,
O sentimento permanente,
Como te amo, como me permiti amar-te assim?
Descontrolado,
Sempre teu, sempre...
Não morre este amor
Tão certo como a minha respiração,
Quem sabe, mesmo depois desta cessar.
Foste, és, serás.
Por ora tenho que te abandonar
(Mesmo no sofrimento da tua indiferença)
Vou-te deixando
Aos poucos
Que ressaco de ti.
Matas-me quando me alimentas
Na falta do teu veneno as células sedentas
Estimulam a dor
Que o cérebro distribui pelo corpo.
Meu amor, compulsão
Amas-me da mais estranha maneira,
Da forma que permiti que me amasses.
Meu amor, deixa-me buscar mais,
Deixa-me amar quem quero amar,
Alguém que irrompa as tuas fronteiras,
Que explore as tuas limitações.
Meu amor, ter demorado tanto tempo
Que eu mesmo te rasguei para sair.
Mesmo à tua indiferença
Digo, vou e amarei.
A ti voltarei; sempre.
13/07/2009
Vermelho
Em mim e no que me enleia
É tudo vivo, vermelho.
De um sangue tão vivo
Que tudo e todos permeia.
Um vermelho sujo de ira,
Preenchido de raiva
Que apanhei por aí.
Nasce em mim o Sol.
Põe-se em mim o Sol
E o vermelho é vivo,
Tudo é vivo aqui,
Em mim e ao meu redor.
De um vermelho tão doce!
E tão fogoso também!
Como se todo eu tivesse sido posto a arder
E todo eu sou, de repente,
Um sagrado coração.
Nada... Nada...
Nada!
Nada disto sou,
Sou tudo, menos isto!
Isto, emano, irradio.
Acabo por encontrar diminuto
Em evidência por se destacar de tudo
Um quase nada;
E um pouco mais de nada
Eu seria o vazio!
17/04/2007
Coração de Veludo
imagens fragmentadas
memórias confusas
já não sei porque escrevo
Foi o vermelho vivo
Do teu coração de veludo
Que me impeliu.
E tudo o que lhe quero fazer,
É corta-lo em pedaços
E atear-lhe fogo.
Agora significa apenas o que passou,
Não existe, extinguiu-se.
E não, não quero comiserações
Apenas destruir emoções.
06/10/2007
Último Pôr-do-Sol
... não vieste e o Sol está a pôr-se.
Esperei demasiado debaixo desta árvore
Vi folhas nascerem, caírem.
Não vi flor, nem fruto
Como um tu diminuto
Que nunca nasceu.
Debaixo da árvore
Encostado
Subida
Abraçada
Trepada (até ao topo)
De ti,
Nada.
... não vieste e o Sol está a pôr-se,
A tua memória não reza história
Morre, e morre sem glória
Que podia ter almejado.
25/02/2009
Pinta-me Esta Noite
Pinta-me!
Molda o meu corpo, organiza-o, esculpe-o.
Prometo ficar sossegado
Nas constantes horas de trabalho
Para mostrares o que valemos juntos.
Pinta-me, tal qual o espelho,
De tal forma que fique impresso nele.
Mostra-me a arte
Que nos podes dar.
Modifica o espelho a gosto:
Cortes, retalhos, cores. sobreposições,
A óleo, acrílico, água, café...
Mas pinta-me esta noite.
23/07/2003
Cacos Espelhados/Espalhados
Já é noite e as luzes estão apagadas,
Parece que já ninguém vive aqui,
Nesta "cidade" resguardada no centro.
A luz que emano
Não é do meu corpo humano,
Um projector por trás
De um espelho retorcido
Espelhando-me/Espalhando-me renascido
Nos cacos espelhados/espalhados de um vidro partido.
Cuidado menino
Com teus pés no chão,
Sei que és crescido,
Agarra a minha mão.
23/05/2008
Fé Esquizofrénica
Havia roupas espalhadas por mim.
Coberto, abandono.
Roupas jogadas, tapando-me;
Despejadas...
Delas veio o calor,
Insubstituível conforto.
Um conforto apertado,
Tantas pregas vincadas
Ah! Alma irada
Que ficas aí sem fazer nada!
Reboliça-te, atiça-te.
Acorda, discorda
da razão e da crença da razão de um coração.
C
E pó,
Ora diamante
E pó novamente
Nunca mudando a sua essência,
O básico elemento presente.
(Fénix Química) - 11/05/2009
Nulo
Nulo
Devolve-me a minha importância.
Apaga o que escreveste por cima dos meus escritos.
Não me anules a expressão.
E hoje! Oh hoje!
Espiralo numa cidade ocupada pelo desejo.
Hoje! Hoje! Hoje!
Vibro totalmente com apenas um sopro.
Não me apagues,
Não me esmaeças
Que eu trato disso.
Hoje só busco prazer!
08/06/2007
Arqueio
Eu não queria, mas teve de ser.
Eu queria arquear-me sobre ti
E ser o teu abrigo
Mas o tempo desencontrou-nos.
Eu queria ter-te poupado a tudo,
Ou parte de tudo,
Mas não houve tempo.
Há tempo hoje, amanhã...
Para te aproveitar, apreciar,
Proteger se for preciso.
Hoje há tempo,
Não o faças ser ontem,
Nem amanhã.
Hoje é hoje
E hoje há tempo, espaço (tanto!)
E além disso, estou aqui.
Não vês a forma das minhas costas?
Encurvadas como que para me esconder.
Ao invés de as veres assim preparadas
Para te acolher.
Hoje é tempo!
Amigo,
Lamento não ter estado
Quando foi preciso.
07/08/2007