A geometria dos escombros
Ensurdecedor se levanta o pó
e a cidade cega tateia em desespero.
Janelas envidraçadas se entregam
de peito aberto até que o ar
se encha de chuva
de estilhaço.
Alguns pilares resistem à vibração
do ar, como soldados suicidas,
enfrentam explosões
da temperatura hedionda
e vão trepidando e se quebrando
antes da desconstrução fatal.
Por alguns minutos, cinzas
sufocam gemidos e estes sucumbem
ao silencio.
Alguns gritos chegam com o vento;
balburdias da correria
pós conflitos
depois que a poeira senta
e a cinza se cola em alguns
bravos monumentos,
escombros revelam ao mundo
suas geometrias
e a dor calada em cada fotografia
vida em vida
Quando amarga as vezes vem
insistindo colorida
nas mãos trazendo
cheia taça de sonhos
prometendo alguma
alegria
até finjo que
não sinto
amargo travo na boca
de prazer suspirado
minto
mas de sorriso cheio não
vou
vou
faminto
Reprimidas
Todas as vozes que fogem
da multidão no âmago,
deixo morrer na ponta da língua.
Quem poderia entender as incoerências
articuladas das intempéries do coração?
Vertical em desalinho
O vento revira fazendo levitar
por segundos, folhas coloridas
que antes, sobre pés, se amontoavam...
Outonicamente despida,
de galhos erguidos,
altiva
por saber-se
logo estará vestida,
árvore não é
De ramagens, ninhos e floradas,
desconstituída e de olhos fixos.
Na pele a queixa ardida
de quem vê partir
quem vestia-lhe a vida,
envolta em folhas agora
paralisada, solitária, nua
... no entanto, erguida.
Até qUe peRcEbeu qUe nÃo Era flOr - microconto
Então ela teve a ideia de esperar
pelo amor e o tempo veio mas não trouxe
nenhum beija-flor
a ética dos corvos
Saudade da humana idade
das tardes de pipas e pássaros e das
algazarra das praças.
dos tempos de baixos telhados alaranjados
cobertos pela opulencia das sombras das árvores
do cheiro do café
desinibido adentrando nas janelas todo tempo abertas e indiscretas.
saudade do tempo de corvos rapinando carnes mortas... porque hoje a vida é descarnada andando e apodrece antes da morte.
da humana
idade, ai que dor
de saudade.
Alhures
Em algum lugar deve existir o mar.
Não esse mar de água
que se espalha só pra molhar;
Não esse mar de vida
que balança e contagia
e que às vezes doa ânsia de vomitar.
Esse que tem face alegre
e que de repente entristece engolindo
rios de euforia.
Falo daquele que m'água não abalroa
levando navegante a se afogar.
Falo daquele mar que se pode,
definitivamente, chamar de lar.
A pátria amada idolatrada, salvem, salvem! !
Eis que há espadas florescendo entre
flores e sangue
concorrendo
com rios
Como cuidar das
flores, sem ferir-se...
Como mergulhar
nos rios sem no sangue se manchar?
como enxergar
o lado de fora
sem deixar cego
o lado de dentro?
Não, não "podeis,
a pátria, filhos,
ver contente a
mãe gentil..."