A geometria dos escombros
Ensurdecedor se levanta o pó
e a cidade cega tateia em desespero.
Janelas envidraçadas se entregam
de peito aberto até que o ar
se encha de chuva
de estilhaço.
Alguns pilares resistem à vibração
do ar, como soldados suicidas,
enfrentam explosões
da temperatura hedionda
e vão trepidando e se quebrando
antes da desconstrução fatal.
Por alguns minutos, cinzas
sufocam gemidos e estes sucumbem
ao silencio.
Alguns gritos chegam com o vento;
balburdias da correria
pós conflitos
depois que a poeira senta
e a cinza se cola em alguns
bravos monumentos,
escombros revelam ao mundo
suas geometrias
e a dor calada em cada fotografia
Ser.tão faminto
Eram dois olhos opacos gigantes na face magra.
Quatro galhos secos imitavam pernas e braços.
Pequeno ser cortando vento; como vulto bambo, trôpego nos passos.
- Mãe, o que tem ele? Por que só geme e não responde? Por que sua pele não tem viço...Por que anda com esse passo?
- É porque dentro dele, filho,
a fome encontrou espaço.
Cardápio
- O que temos para hoje?
- Palavras!
- E para amanhã?
- A m a n h ã ...
Vertical em desalinho
O vento revira fazendo levitar
por segundos, folhas coloridas
que antes, sobre pés, se amontoavam...
Outonicamente despida,
de galhos erguidos,
altiva
por saber-se
logo estará vestida,
árvore não é
De ramagens, ninhos e floradas,
desconstituída e de olhos fixos.
Na pele a queixa ardida
de quem vê partir
quem vestia-lhe a vida,
envolta em folhas agora
paralisada, solitária, nua
... no entanto, erguida.
Até qUe peRcEbeu qUe nÃo Era flOr - microconto
Então ela teve a ideia de esperar
pelo amor e o tempo veio mas não trouxe
nenhum beija-flor
O ADEUS DISSE SIM
Poeticamente entristecido
cobriu-me as cinzas de um dia de partida.
em tudo há tremor e vejo
que é de outros dias rindo inabaláveis
com o tempo escuro sobre eu
derramado.
distanciadas ficam alegorias das cores
no comboio da alegria.
órfão de margens, trilho solitário
indeciso branco amarrotado
em pensamentos rotos.
inteiros maciços aconteceres mais que
sonhos deveriam atravessar
os dias com a valentia de um pássaro
cruzando o vácuo azul-fantasia.
viajante mártir nas asas
do adeus imposto entrego ao
tempo o lapidar das sombras
véus do meu rosto.
Alhures
Em algum lugar deve existir o mar.
Não esse mar de água
que se espalha só pra molhar;
Não esse mar de vida
que balança e contagia
e que às vezes doa ânsia de vomitar.
Esse que tem face alegre
e que de repente entristece engolindo
rios de euforia.
Falo daquele que m'água não abalroa
levando navegante a se afogar.
Falo daquele mar que se pode,
definitivamente, chamar de lar.
Trajetos
Sempre haverá diálogos
e bandeiras brancas erguidas
entre potencias
cheias de projéteis
O trajeto dos mísseis
rumam para fragilidades.
O trajeto da indiferença
preenche mapas
vida em vida
Quando amarga as vezes vem
insistindo colorida
nas mãos trazendo
cheia taça de sonhos
prometendo alguma
alegria
até finjo que
não sinto
amargo travo na boca
de prazer suspirado
minto
mas de sorriso cheio não
vou
vou
faminto