CHORO DE UM POETA TRISTE
Sinto desmoronar-se o Céu em mim
Vivo em rios de amargura que me afogam
Rajadas de dôr, vendavais sem fim
Atormentam-me o peito e me sufocam
Vivências, aventuras que sonhei
Ao lado meu passaram como um sonho
Na vida nada fiz, tudo falhei
Recordo o que não fui e sofro, sofro..
Gozei grandes paixões, grandes amores
Nem isso mereci eu ter vivido
Árvore apodrida, sem folhas nem flores
Quanto daria por não haver nascido
O peso desta vida que não quero
Carrego em mim e arrasto dia a dia
Nada aspiro, nada peço, nada espero
Minha alma são só nacos de agonia
Recordo a minha vida, triste história
Já não espero milagres nem me imponho
Já quis eu ser um génio, uma vitoria
Porém não sou nem eco desse sonho
Comparo-me a um rio ao entardecer
Água que corre em ânsia desmedida
Assim me sinto eu, água a correr
Assim correu por mim a minha vida
Paulo Varela
SENSUALIDADES
Quisera eu ser tua luz, teu despertar
O sol da aurora, a brisa matinal
Entrelaçar-me em mim e te cheirar
Como à mais bela rosa de um roseiral
Magoar os teus lábios com ternura
Morder teu peito em beijos de paixão
Embebedar-te em desejos e loucura
Cravar-me em ti, roubar-te o coração
Sonhar entrelaçados, eu e tu
Ver-te sorrir pra mim ao amanhecer
Adorar-te, olhar teu corpo nu
Devorar o teu corpo loucamente
Num gemido ofegante de prazer
E ser feliz contigo eternamente
Paulo Varela
CÂNTICO DO FUNDO MAR
Descobri um oásis no fundo do mar
Um lugar só meu, que me veste a alma
Que ilumina o meu ser e me fascina
Partilho o leito com as Sereias
Sereias e ninfas
Nuas ou vestidas de várias cores
Labios que me sussurram ao ouvido
Gemidos angelicais
Dos seus cabelos caem pepitas de cristal
E cachos de uvas
Neptunos de encantar,
Com braços e troncos de coral
Braços que me enlaçam e me embalam
E me desprendem de mim
Invade-me o cheiro a maresia e a kiwi
Frutos exóticos e proibidos
Que me fazem crescer água na boca
Sinto tremores de prazer
Orgasmos celestiais
Amor feito e partilhado ao som de liras,
Com que te canto serenatas mil
Sinto o feitiço da lua
Vejo arvores que dão estrelas
Estrelas que me alumiam o peito
E estas águas que reflectem as cores do mundo
Que me incendeiam a alma e me fazem vibrar
Peixes de ouro, cavalos marinhos de marfim,
Pastam em prados de pérolas
Hoje sinto que já posso morrer
Porque te senti o cheiro
Nem o vento Norte, nem as correntes
Que arrastam estas águas e as minhas lágrimas,
O conseguiram arrancar de mim
Mesmo nas profundezas dos mares,
Reconheci o teu cheiro
Porque ele é o meu!
Misturamo-nos há séculos
Em loucas maratonas de prazer
Fundimo-nos e ficamos um só
Abracei-te, abracei as ondas e sorri
Num sorriso aberto que vem de dentro
Já não sei se sinto que posso, ou se já morri...
Se estás em meus braços ou nos meus sonhos
Se isto é uma miragem, ou o paraíso
Mas sei que estás aqui
Vejo-te, toco-te, cheiro-te e isso basta-me
Até que seja em sonho.
Toma-me! Ofereço-me a ti!
Quero ter-te, entre lençóis de algas marinhas
Mesmo que seja a ultima vez
Faz-me teu, faz-me feliz!
Neste jardim da minha ilusão
Onde plantei rosas de varias cores
Onde te escrevo poemas de Amor
Ofereço-te as rosas, os poemas, o meu coração
Guarda-o nesse baú,
Onde guardas tantos que choram por ti...
Que me importa, se te Amo?
Se é mau contigo, mas pior sem ti?
Paulo Varela
PEREGRINO
Percorro o meu destino nesta estrada
E faço desta vida uma aventura
Sem marcos nem metas, só uma escada
No mapa que risquei, nesta loucura
Aqui piso, ali pulo e dou a volta
Seguindo em frente, sem olhar para Trás
Chorar, arrepender-me, não sou capaz
Meu coração é feito de revolta
E nesta maratona vou correndo
O asfalto que piso, que me importa?
Se é ilusão viva ou esperança morta
Se eu matando a vida vou vivendo
Se corro assim na vida é porque gosto
De não ter tempo para da vida gostar
Se o que gostei da vida foi desgosto
Como hei-de eu da vida desfrutar?
Quem fica, quem chora eu não lamento
Eu também já chorei! Quem se importou?
Quem olhou para trás, quem lamentou?
Quem foi que me amparou no sofrimento?
Paulo Varela
MAIS UMA CARTA PARA TI
UMA CARTA PARA TI
Hoje lavei-me de ti
Neste mar que já foi o mar dos nossos sonhos
Lavando-me vi-te ao longe
Sorrias-me e vi-te afastar
Percebi que já não estavas
Apertou-se-me o peito de saudades e tristeza
Mas sorri-te também e acenei-te
Com estas mãos que te conhecem o corpo
Estes braços que te embalaram a alma
E te fizeram feliz
Precisava disto
De saber que estás bem, para suportar esta dor
Quando o sol se afundou no mar já não te vi
Nas trevas fez-se luz
Nas águas o fundo iluminou-se
Ainda julguei que bailavas nas ondas, mas não.
Foi a lua que chegou, a confortar-me.
Lavei-me de ti
Rasguei as minhas dores e sorri
Porque o teu cheiro consumia-me
E amarrava-te a este mundo que já não te pertence
Compreendi que tinha que te soltar
E deixar-te sonhar no sono dos justos
Agora que sei que já não sofres
Mas que também não voltas
No céu não há dores de coração nem amarguras
Apenas um odor celestial
A cachos de uvas e a kiwi
Preciso de acreditar que dormes algures
Numa cama de amores perfeitos e alecrim
Embalado ao som de trompetes angelicais
Por fim consegui dizer-te adeus
Retirar o teu prato da mesa
Os teus chinelos do tapete
Hoje sinto-me mais só do que nunca
Não sei que fazer ao teu relógio
E às tuas gravatas
Às tuas promessas de felicidade eterna
Mas não te vou perguntar
É preciso que não te disturbe
Que se cumpra o luto de ti
Preciso vestir-me de preto
Para que o meu coração encontre as cores
Para que eu viva
Adeus meu grande amigo, meu Amor...
Paulo Varela
MEU CORPO
Meu corpo, meu templo de prazeres
Amado poço de desejos e paixões
Vulcão de amor que expeles emoções
Em grata sensação de em céu viveres
Vate é meu coração vadio, apaixonado
Desfrutador de ensejos e quimeras
A quem brindei eternas primaveras
Gozando os mil prazeres de ser amado
Minha cabeça, a eterna criadora
De trovas que cantei, febril loucura
Alma perversa, gentil e pecadora
Meus olhos: Faróis em eterna descoberta
Labios sedentos de beijos e ternura
Que afogassem meu peito; Porta aberta
Paulo Varela