" PROCURA VÂ "
Embrenhei-me nas ruelas
Nas mais pequenas vielas
À procura da verdade...
Encontrei gente da vida
Gente na noite perdida
Entrei em todas as tascas
Das boémias às mais rascas
Ouvi guitarras e fados
Cruzei-me com delinquentes
Da vida tristes andantes
Ouvi mal fadados piropos
Dos piores imagináveis...
Mas nada me demoveu
Continuei minha procura
Caminhei na noite escura...
Já a lua ia alta e o céu a aclarar
Dei comigo a pensar
Nesta procura incessante
De pobre ignorante
Ao clarear o dia
Encontrei o que queria
Não vou mais procurar
Afinal o que queria
Era já meu conhecido,
Era o caminho seguido
Que a vida me tem concedido.
" TEU SORRISO ... UM POEMA "
Trocámos olhares e sorrisos
Brincavas com tuas mãos trémulas,
sem jeito, mas gentis no tocar
Olhavas em redor
na procura de algo,
na demência do sentir,
do ser, do existir...
Segui teus gestos desconexos,
Teus passos trespassados,
Teus olhos bem abertos,
brilhantes, vivos...
Teu sorriso franco e meigo.
Tu,
um menino que a vida traiu
Que com sua garra conseguiu
Ser igual a outros mais,
Brincando, olhando, sorrindo!
( Este foi o poema que escrevi, dedicado a crianças deficientes )
" MARIA "
Tal como uma adolescente,
Retrógada, ultrapassada,
Prisioneira, carente,
Sentiste-te renovada...
Tantas flores e beijos,
Carinhos, mensagens, desejos,
Tantas promessas sem tino,
Cairam num poço bem fundo
Transformando teu ser, teu mundo,
Traçando um novo destino.
Mentiras, atrás de mentiras,
Regadas com fantasia,
Como acredistaste Maria?!...
Mentiras, atrás de mentiras
Tua mente pura, infantil,
Fez-te sentir princesa,
Nesse castelo vil,
Onde só reina a fraqueza...
Com pontapés e sopapos,
Ultrajado o teu ser...
Juraste não mais creres,
Nesses outros sem caracter.
Então, erguendo a cabeça,
Saiste desses buracos
Sorriste de prazer...
Maria, voltaste a ser!
" PALAVRAS "
Serei poeta?!
Ou apenas junto as letras,
Tornando-as palavras?!
Palavras de riso e alegria,
Palavras de amor e paz...
Gritos entranhados em mim,
Revoltas sentidas,
Passadas, vividas...
Ou simplesmente palavras,
Sem jeito, sem nexo,
Onde remecho o passado,
Jamais olvidado?!
Onde prevejo o futuro,
Muito atribulado...
Palavras...
Que em harmonia,
Se transformam em poesia!
Sim, sou poeta!
" QUADRO EM BRANCO "
Peguei no pincel
tentei pintar teu rosto,
surgiu-me um sol
talvez sol posto...
Minha mão deslizou,
de novo tentou,
já não vi o sol
nem sequer teu rosto.
Na tela branca
a brancura alva...
Minha mão pousou,
o pincel deslizou...
caído no chão
ficou...
" MEIA - NOITE "
Ah!
A meia noite chegou!
Finalmente os ponteiros
Se uniram num abraço,
Num amor profundo,
Num regresso desejado,
de serem um só no mundo.
Meia noite,
Hora macabra,
de lobisomens e fantasmas,
de traidores, violadores,
de ladrões e assassinos,
daqueles que já foram meninos.
Não!
Esta meia noite, não!
Quero a outra,
Dos carinhos unidos,
Dos abraços sentidos,
Dos ponteiros aconchegados,
Num segundo, eternizados.
Ah!
A meia noite chegou!
" JANELA "
Passei contigo e em ti
Horas, dias, meses, anos
Foste um porto de abrigo
Meu confessionário
Aparaste minhas lágrimas
Meu desespero de prisioneira
De solidão de uma vida
Ah quanto tempo perdemos
Entre desabafos e ansiedade
Juntas tudo partilhámos
Bailes dos santos populares,
O saltar à fogueira,
Miudos livres a jogar à bola,
Saltar à corda, brincar
E nós prisioneiras de um só lugar
Unidas
Meus cotovelos criavam calosidades
Minhas lágrimas secavam com o vento
Mas não te podia largar
Eras o meu pequeno mundo
Que corria no mundo dos outros
Vivia sem viver
Mas tinha que assim ser...
Até o dia em que nos separámos
Tu, ficaste no teu espaço
No peitoril da janela do 2º andar
Eu, para outro local fui morar
Outro rumo segui, sem ti
Jamais esquecerei
Os momentos que contigo passei!...
" RECADOS ANTIGOS "
RECADOS ANTIGOS
Solto-me na magia das palavras
Mas às vezes me deixo entristecer
Tambem elas fracassam, mas são bravas
Me acompanham nesta estrada do viver.
A travessia é longa é lusco-fusco
Deixo-me a dormitar dentro da tarde
Ao fundo da memória eu vou e busco
Recados antigos que falam de saudade.
Vejo uma silhueta de mim menina
Sinto o sangue a latejar em mim
Passa mais uma primavera pequenina
E olhos, orvalhados choram-me assim!
O coração cansado ignora a subida
Tanta caminhada a mim me estonteia
Desarmada p'lo tempo me sinto perdida
Alma embaciada, na solidão vagueia.
rosafogo
Palavras soltas por magia
Desabafos, recordações sentidas
E neste cansaço, dia a dia
Vou lembrando passagens já vividas.
Meus sonhos de menina
Saltitando descalça p'los montes
São pérolas que guardei na retina
Como água limpida das fontes.
Meu coração embalado pela vida
Sobe e desce, pelo caminho...
Porque me sinto eu, sempre perdida,
Se meu viver não é sozinho?!
Ah tristeza, não vencerás
Vou afundar-te no mar sem guia
E assim, viver me deixarás
Com meus olhos brilhando de alegria!
Avozita
" PARTIR "
Quantas vezes pensei partir...
Mas fui ficando.
Meu partir, faria sofrer
aqueles que estou amando.
E partir porquê,
se tudo tenho?!
Talvez por ser fraca...
Ou serei demente?
Não!
Não partirei por querer.
Apenas e só.
quando Deus quiser.
" HOJE À TARDE "
Longa foi a tarde
num desejo oculto
de te encontrar.
Passeei p'la rua
sem tino
sem destino.
Jardinei,
no meu jardim
tirei as ervas daninhas.
Com agulha e linha
cosi
o meu coração
rasgado por ti.
Pousei meus olhos
num livro
p'ra descansar
tormentos.
Meus cabelos ao vento
no jardim sentada,
quando me apercebi
a tarde estava passada.