A Menina que Mora em Mim
tom chambers photography
Com que ingenuidade tanta
tem pena de mim
que não sendo mais flor
estou fruta madura
que sequer a alimenta!
de olhos diáfanos
no meu ocaso
a menina que sofre em mim
move alegrias no moinho
por que bem sabe que rios de elegia
não me fluem por acaso...
com que riso, com que choro
faz um inciso em meu peito
sem nenhum respeito?
Nada !...poderá arrefecer
esse chão escaldante
de obrigações e deveres
que ainda tenho que galgar...
Oh!...Não cresça!
Menina que brinca em mim
permaneça pequenina
até que a fruta que sou
apodreça!
Maria Lucia (Centelha Luminosa)
Espelho, Espelho Meu, Quem Sou Eu ?
"Em que espelho ficou perdida a minha face?"
-Cecília Meireles (Antologia Poética)
Olho-me uma vez mais no espelho
já sem susto ou estranheza
na face não busco a beleza
aos meus disfarces me assemelho.
quem é essa no brilho do olhar de fera
que dos meus olhos se apodera
falando-me das mentiras que urdiu pra sobreviver?
transponho o espelho não como a Alice em aventura diferente da minha
que por insolência e esperteza fantasia ser rainha...
busco a ternura da menina
máscara que muito me fascina
entre todas, em tantas eras...
quantas fugas eu inventei
pra desafiar o destino que em surdina
tecia remendos pras balbúrdias
que eu criava em mim
faces disfarçadas, muitas vezes descartadas
vernizes enganosos da aparência, falsas imagens
engendradas personagens...
Quanto busquei por mim!
Um salto no escuro e a queda em confusos atalhos
penso em visualizar-me inteira
e, encontro-me colcha de retalhos.
Eu bem que poderia dar a esse olhar no espelho
um final feliz de reencontro sem reticências
uma brecha em meio ao caos
emergir fantástico no obscuro
com a dor da saudade de mim
que é a quem procuro...
talvez, me decida a desprezar as máscaras
abrir a verdadeira face ao mundo e o que há de melhor nela.
só assim valerá todas as penas vividas.
E nesse paradoxo de mentiras e verdades
do meu olhar de solidão
afasto a pedra de tropeço e sob a luz
que se acende em mim, indago mais uma vez:
-Espelho!...Espelho meu!...Quem sou eu?
Maria Lucia (Centelha Luminosa)
POETA PINTOR
poesia-me quando
me percorres o corpo
com o olhar do poeta pintor
ávido por um mote
uma tela ao seu dispor
e põe-me a beleza pressentida
sensível aos dedos
escreve-me um enredo
na folha úmida do olhar
abrevia-me como num haicai
e demora-me na odisseia
cheia de ousadia
a palavra desaparece, fica vã.
pra declamar-me, apaixonado fã
sem plateia, ao final do dia...
Maria Lucia (Centelha Luminosa)
No Brilho dos Olhos Teus
Qual mão de agora
acende o lume nos refolhos
da memória?
- o tapete de cumplicidade
de improviso
era ninho...
paixão fogo na lareira
nos aquecia...
o vinho
dos teus lábios
a curvatura dos meus
sorvia
em total identidade...
e tudo o mais
foi subtraído pelos dias...
retorna-me o passado
desbotado
pra revirar as páginas
do meu ser
doce ventura...
esse abraço
enrodilhado à saudade
amplexo de cura
entre a carícia e o beijo...
mas, é no brilho dos olhos teus
nesse instante
que inteira, me vejo!
Maria Lucia (Centelha Luminosa)
Orquestra Eduardo Lages
Música Amada Amante, composição Roberto Carlos
Lamentável a saída do poeta Aquazulis desse site.
Uso no presente momento esse espaço para manifestar meu descontentamento com acontecimentos torpes que vem ocorrendo no site, entre alguns membros briguentos, que usam seus espaços para agredir e ofender a outros, culminando com o afastamento do grande poeta Aquazulis ( Luis).
Admiradora desse poeta, e também do homem, por sua postura sempre íntegra, correta, respeitosa, sempre pautada pela discrição e correção, sinto que o site ficou mais pobre, sem encanto. Não tanto pela ausência em si, mas pelo silêncio que ficou após o término de sua participação por aqui.
Que pena.
Maria Lucia
ARIANA
Sol em Áries
início de um novo ciclo
que ao passado enterra
e eu me reciclo...
semente a rasgar o ventre da terra
amadurecida - impulso de vida
pela Justiça e a Verdade na Terra
me entrego em imolações
aos deuses da guerra...
Áries é Centelha, a luz da vela
que alumia a minha face de carmim...
fogo que arde e desmantela
qualquer sinal de passividade
que possa existir em mim
no embate quero o desafio
não me intimida as trevas e o vento frio
o mundo se me representa
uma vasta seara no cio...
normas sociais desiguais
me põem em ebulição
sigo a frente do meu tempo
pequena candeia em mim
já irrompe um vulcão...
me visto de púrpura
para viver as paixões
cativa da flecha do Cupido
não me rendo à grilhões...
o que eu desejo mesmo num lampejo
é recomeçar tudo a cada segundo
vitoriosa semente que rompe a casca
como num parto para abrir espaços
e conquistar a Luz do mundo!
Maria Lucia (Centelha Luminosa)
Versos construídos a partir das características do meu signo, Aries!
Algumas, correspondem à minha personalidade.
INDIFERENÇA
INDIFERENÇA
"A Poesia tem comunicação
secreta com o sofrimento do homem"
- Pablo Neruda –
Ouça...
O diálogo da noite com os raios da lua; o cantar do vento na ramada em parceria com os cães que ladram na rua de madrugada...
É a vida presente poetizando ruídos pra fazer companhia a tanta gente carente...
Pudesse
o mundo saber da amargura quando finda o sonho ao chegar a velhice, não construiria muros ao redor pra ocultar a própria indiferença...
Não haveria o riso deposto a contragosto em sua boca de beijos ausentes, vazia de palavras de amor...
Não entenderia
tão pouco, a falta de brilho que tem um olhar enrodilhado ao longe a esperar por ninguém...E, pra perceber o soluço sustado no peito que serpenteia pra se libertar, seria preciso olhos de ver, ouvidos de ouvir e, um coração que soubesse auscultar...
Ah!...Onde a luz que tarda a acender por dentro
desse mundo íntimo, tão particular?
Que cegueira é essa que impede de ver aquele olhar molhado, da lágrima que escorre sem freio, no frêmito do seio, a transbordar a agonia e os "ais" em tantas noites frias, no espaço vazio de camas grandes demais?...
Possa o amor que transcende os tempos suavizar como faria um ungüento, o tormento que dói em alguns, por causa de tanta incapacidade de amar...
Maria Lucia (Centelha Luminosa)
A SUA CHEGADA
Eu bem quis segurar o instante
minha palma não foi o bastante
esvaiu-se de mim como sopro
seu gosto, seu cheiro, seu som
nem da sua alma a tessitura
uma réstia do seu jeito de amar
eu não pude sustentar
vai-se às pressas, a madrugada
fustiga o sol que a clareia
nosso tempo é sem rumo, e um mote
as nossas vidas colcheia
antes que o pensamento divague
por aí, a sua procura.
cerro os olhos pra guardar
dos seus, ó Deus!...O brilho do amor
que eu vi logo na sua chegada!
Maria Lucia (Centelha Luminosa)
FLORESCÊNCIA
Vai direto ao cerne
esse olhar declarado
cheio de vontades
demasiado ousado
desliza em mim
maliciado
seduzindo, aliciando
pra me desvendar
até que se depara
com gotejante florescência
onde demora a esfaimada
vontade de amar
ali, um beijo vadio
já me acaricia.
Maria Lucia (Centelha Luminosa)
DANÇA COMIGO?
Eu só queria dessa noite
além dos passos da dança
um passo a mais
no teu corpo ver cessados
os meus anseios
nos movimentos ousados
de teus meneios sensuais...
busco-te a noite inteira
e, tu deslizas com outra
indiferente ao meu olhar
como é suave o teu dançar
em gingados de prazer e paixão
enquanto arrasto-me atrás de ti
pela força de irresistível atração...
dança comigo!
- um grito em pensamento
cheio de desejo
de ter nossos corpos jungidos
sussurros aos meus ouvidos
aos embalos de um "Chorinho" de Azevedo
ou um bolero com Miguel
na cadência de tua dança perfeita
ai..ai..tanto quero ser tua eleita
pra transpirar amor e mel...
fim de noite. Última canção
“Solamente Una Vez!”
de repente, uma emoção
minha face afogueia
o sangue gela na veia
e, o que eu julgava perdido
vem num convite sussurrado ao meu ouvido:
- Dança comigo?
Maria Lucia (Centelha Luminosa)