A Melhor Fragrância
pedi um cálice de vinho tinto
e me destes
para atender aos meus apelos
teus lábios gotejantes de beijos
a melhor fragrância do néctar
que inda sinto
cúmplices de meu desejo...
deixei, então
a tua boca avinhar a minha
pelos muitos beijos
que me foram dados
revelando na saliva
infinitos segredos
em goles derramados...
depois, veio um sono
despido de tempo e de espaço
em teu abraço
olvidei as significâncias
da razão para te reter agora
assim, debruçado
sobre o meu peito
a ressonar
embriagado de emoção!
Maria Lucia (Centelha Luminosa)
Aquele Olhar
... segue assim, ainda
por vias estreitas e insuspeitas
astuto a colher belezas
apenas pressentidas
e os quase nadas
despercebidos
das pequenas coisas
a grandeza oculta
das mais insignificantes
momentânea, peregrina
dos movimentos ondulatórios
ciclos que se abrem
e se fecham
invisíveis ao olhar viciado
sem vibração
morno
no umbigo...
seu existir
no enredo matinal
adornado ao pão à mesa
do aroma
de café fresco
o fogão à lenha
a crepitar paixões
trigo ao vento
seus cabelos
seu jeitão
de cismar longe
descobridor de aquarelas
e, daqui sinto
que o teu sonhar menino
perdurará além
no infinito
no amanhecido olhar do meu pai!
Maria Lucia (Centelha Luminosa)
Ao meu pai, já em outra dimensão da Vida.
PARA RESPIRAR A VIDA
Não fossem as vergatadas
e o travo amargo
de outros tempos
estaria agora
a coser pano velho
como se tudo o mais
fatigasse por ausências
busco a linguagem
que se oculta
na penumbra da madrugada
para aplainar a solidão
em meus atalhos
indócil e desassossegada
incendeio sementes
por imposição de minh ‘alma...
se, por ora, me refaço
nas palavras
que me caem em pencas
é para permanecer
a salvo das intempéries
“Sine qua non”,
para que eu respire a vida
por onde me despenhei...
Maria Lucia (Centelha Luminosa)
CANTO INTENSO
A poesia
quem diria
soltou-se do lápis
embrenhou-se por entre as ondas
sabendo bem
desse viés subversivo
abusivo...
Paradoxo!
a flor do livro feneceu
esvaziou o papel
agora lhe dá licença
a Babel
tela fria impessoal
em clarão novo
quase urgência...
água que não dessedenta
efêmera...
perdura esse canto intenso
não declarado
ainda bem
sentido em epigramas soltos
nesse sopro de vida
virtualizado...
Maria Lucia (Centelha Luminosa)
SEMEADURA
A inquietude
vai para além dos dias
contemplação a esmo
no beiral do tempo...
reza os silêncios de cada dia
a alma pungente em noite escura
a fé surge iluminada...
pela mesma razão
se agita a paisagem em verdor
ante o zunir do vento
a chuva fina, a fruta, a flor...
agreste aroma
evola-se da terra arada
prenhe de semeadura...
Maria Lucia (Centelha Luminosa)
Asas da Imaginação
Do poema
fugitiva poesia
exalta o olhar
sedento de emoção
e explode
absoluta na alma
de quem a deseja e procura
de claridades unge
a noite mais escura
todavia
gesta raios de luar
em pleno sol do meio dia
entre o ímpeto da seiva
e a serenidade da fruta
segue resoluta
o caminho inverso do céu
desce
ao abismo das inquietações
e canta ao parir
novas asas pra imaginação...
Maria Lucia (Centelha Luminosa)
INDIFERENÇA
INDIFERENÇA
"A Poesia tem comunicação
secreta com o sofrimento do homem"
- Pablo Neruda –
Ouça...
O diálogo da noite com os raios da lua; o cantar do vento na ramada em parceria com os cães que ladram na rua de madrugada...
É a vida presente poetizando ruídos pra fazer companhia a tanta gente carente...
Pudesse
o mundo saber da amargura quando finda o sonho ao chegar a velhice, não construiria muros ao redor pra ocultar a própria indiferença...
Não haveria o riso deposto a contragosto em sua boca de beijos ausentes, vazia de palavras de amor...
Não entenderia
tão pouco, a falta de brilho que tem um olhar enrodilhado ao longe a esperar por ninguém...E, pra perceber o soluço sustado no peito que serpenteia pra se libertar, seria preciso olhos de ver, ouvidos de ouvir e, um coração que soubesse auscultar...
Ah!...Onde a luz que tarda a acender por dentro
desse mundo íntimo, tão particular?
Que cegueira é essa que impede de ver aquele olhar molhado, da lágrima que escorre sem freio, no frêmito do seio, a transbordar a agonia e os "ais" em tantas noites frias, no espaço vazio de camas grandes demais?...
Possa o amor que transcende os tempos suavizar como faria um ungüento, o tormento que dói em alguns, por causa de tanta incapacidade de amar...
Maria Lucia (Centelha Luminosa)
A SUA CHEGADA
Eu bem quis segurar o instante
minha palma não foi o bastante
esvaiu-se de mim como sopro
seu gosto, seu cheiro, seu som
nem da sua alma a tessitura
uma réstia do seu jeito de amar
eu não pude sustentar
vai-se às pressas, a madrugada
fustiga o sol que a clareia
nosso tempo é sem rumo, e um mote
as nossas vidas colcheia
antes que o pensamento divague
por aí, a sua procura.
cerro os olhos pra guardar
dos seus, ó Deus!...O brilho do amor
que eu vi logo na sua chegada!
Maria Lucia (Centelha Luminosa)
MAR DE MONGAGUÁ
Ah!...Esse mar de Mongaguá
que me acolhe
em suave marulhar
suas ondas calmas e serenas
no meu corpo a navegar
o Sol ao me lamber inteira
me põe as carnes morena
mas é no vai e vem espumante
das ondas a me emergir
que essa beleza quântica
me rapta
em delicioso abduzir!
Maria Lucia (Centelha Luminosa)
Mongaguá é um município do estado de São Paulo, na Região Metropolitana da Baixada Santista.
Linda cidade, com belas praias e mar temperamental, ora calmo, ora, furioso...
Mongaguá - origina-se da denominação dada pelos indígenas que na região viviam e batizaram o local de "Mongaguá" — que em tupi significa "Águas Pegajosas" ( hoje em dia, não o são, pois que são apropriadas pro mergulho)
Alma Acesa
Ligaste-me ao fio
do teu pensar
pra te amar assim
horas a fio...
meu desejo te impele
tuas carnes o fogo
à flor da pele
desejo mal disfarçado
pensa em mim
cheio de vida
ávido pra amar
em cascata...
entenda o meu sinal
leva-me no sonho
sem demora
à lua
bordado leito em azul
amor e prata
onde amorosa
eu me ponho
para te dar
enamorada
todo esse meu fanal...
deixa-nos
então, nus
agora
alma acesa pra viver
a fantasias
desse cio intenso
em seu feitio
nesse interminável fio
pra gozarmos
nessa hora...
Maria Lucia (Centelha Luminosa)