Poemas, frases e mensagens de Xaradaa

Seleção dos poemas, frases e mensagens mais populares de Xaradaa

sou autor do livro "Aventuras em Karnak" sobre as aventuras de dois irmãos em um mundo paralelo e gosto de escrever textos em variados estilos.

Genealogia

 
Genealogia
 
Do olho no olho
De alma para alma
De um ser para outro
Brota o desejo
Do desejo nasce a paixão
A paixão excita a vontade
A vontade promove a relação
A relação desenvolve o respeito
O respeito intensifica a admiração
A admiração constrói o amor
O amor move as uniões
As uniões formam as famílias
As famílias se tornam raízes
As raízes árvores frondosas
Os frutos, das árvores, as novas gerações.
 
Genealogia

Caixa de supermercado

 
Existem costumes que vão se transformando durante o decorrer do tempo, um deles é a maneira de passar pelo caixa do supermercado. Não faz muito tempo, o brasileiro em geral tinha o costume de fazer compras para durar pelo menos o mês todo. Hoje em dia a coisa mudou um pouco, compra-se em quantidades pequenas, quer dizer, quando o estoque está acabando compra-se o necessário para mais alguns dias de sobrevivência.
O consumidor brasileiro está mais exigente e faz cotação de preço para comprar tudo que lhe é necessário. Nada mais justo, pois ele ganha o dinheiro e deve decidir onde e como gastá-lo.
Há uma profissão no Brasil ― falo no Brasil, porque não sei se é também no resto do mundo (sinto muito pela palavra resto, porque não foi escrita por maldade) ― que sofreu grandes modificações nos últimos tempos, principalmente no final do último e no início deste milênio. A profissão de que nesta hora falo é a de caixa de supermercado.
Há poucos anos atrás o coitado do caixa e me dou ao direito de chamá-lo assim: coitado, porque era a impressão que se tinha. Uma pessoa chegava, às vezes uma família; os carrinhos lotados até o teto, aquela fila de carrinhos engatados um ao outro e o(a) caixa tinha que digitar o valor de cada mercadoria, uma a uma, e ai dele se digitasse devagar... A fila ia aumentando, aumentando e aquela gentarada logo começava a reclamar e as reclamações se dirigiam todas para a cabeça do “coitado”. Dizem que nossos pensamentos são vibrações possíveis de serem direcionadas e podem também fazer bem ou mal. Se isto é possível, os caixas deviam chegar em casa com uma bruta de uma dor de cabeça, por causa de todos aqueles pensamentos revoltados entrando dentro da cabeça deles.
Após tantos valores digitados pelo caixa, o chefe da família, geralmente analisava os valores registrados em uma tira que podia chegar a metros, louco para encontrar um erro. Se encontrasse, não tinha a menor dúvida, atacava a pobre criatura chamada caixa com “elogios” que minha pobre mente cheia de censuras não permite colocar em uma folha de papel.
Ao término do expediente o caixa tinha de fazer o balanço do movimento diário e fazer bater o caixa. Se no “frigir dos ovos” sobrasse dinheiro no caixa ou batesse certinho, o caixa se sentia aliviado, mas se faltasse... O coitado soltaria o primeiro palavrão vindo à boca e os outros viriam por acréscimo. Além de trabalhar o dia inteiro e agüentar o consumidor impaciente, morria no prejuízo. Tempos idos estes que muitos não querem mais que volte, a não ser os consumidores e caixas masoquistas.
Tudo mudou hoje em dia, com o advento da tecnologia informatizada, criou-se uma tal de barra, formada por vários barradinhos que ao serem passados por um instrumento leitor de códigos, transmitem para uma tela de computador o valor do produto comprado. Tudo isto com grande praticidade. Isto na prática deveria ser o bastante para acabar com as filas no supermercado, mas existem os poréns. Os poréns são alguns consumidores que costumam freqüentar freqüentemente as filas dos supermercados. Podemos citar alguns:
☻O louco por cartões – acumula um grande número de cartões. A carteira fica abarrotada, estourando as costuras de tantos cartões. Não leva dinheiro de jeito algum. O consumidor que está atrás dele, inicialmente fica feliz, pois ele geralmente compra em quantidades pequenas, talvez porque goste de freqüentar as filas quase diariamente. Rapidamente o caixa passa todas as mercadorias. Chega a hora de pagar ele diz com toda a tranqüilidade:
― Experimente este cartão para ver se tem crédito?
O caixa atenciosamente passa o cartão na maquininha e solicita:
― Digite a senha por favor.
O indivíduo digita a senha. Aliás este tipo parece adorar digitar senhas. São dezenas de cartões e ele parece lembrar de todas as senhas. Após algum tempo, vem a resposta escrita na maquininha de que o cartão está vazio, sem créditos. Retira outro e diz:
― Este há de ter?
O caixa repete o processo.
― Digite a senha por favor.
Após inúmeras repetições o caso é resolvido. No último cartão havia o crédito necessário. A fila cresceu, mas o antigo próximo da fila já foi embora. Pensando comigo, acho que o principal interesse deste tipo de cliente é mostrar os cartões que tem.
☻O Portador de tickets – Este tem tickets de todo tipo e de várias origens. De empresas privadas e públicas. Nem dá para imaginar como ele consegue arranjar tantos tíckets. Hoje em dia também tem tickets em forma de cartões e que utilizam senhas. Arranca um amontoado de tíckets na hora de pagar e é um tal de perguntar se esse ou aquele vale naquele estabelecimento e depois vai somando os valores existentes em cada um dos tickets até chegar ao total da conta. Há como isso leva tempo...Aliás o tempo parece maior para quem espera.
☻O louco do kilo certo – Desse existem poucos. Ainda bem! Deus me livre se fossem muitos! Entram na fila do caixa com o carrinho lotado de frutas e legumes. Eu falo destes mercados em que tudo é pesado no caixa. Colocam o produto na balança e exigem do caixa que o peso só dê um kilo, pois é o que podem levar. O caixa retira um tanto e dá menos de um kilo, então vai repondo os legumes, trocando maiores por menores e vice-versa até dar o mais próximo de exatamente um kilo. Pesado aquele, passa para o próximo pacote até o último. Imagine o pensamento dos participantes da fila à espera da vez. Não é difícil.
☻O pagador com moedas – Este é mais comum do que se pensa. Ele não demonstra as intenções, deixa todos atrás dele esperançosos de que tudo vai ser rápido e ante o olhar dos enfileirados arranca da bolsa um pacote de moedas e pergunta:
― Quanto deu mesmo? Sem se arriscar a olhar para trás. É claro!
― São 120 reais e cinqüenta e cinco centavos. Responde o caixa.
― Aqui tem cem reais em moedas. Não precisa nem contar.
O caixa não pode confiar, sem correr o risco de morrer com o prejuízo e despeja o conteúdo do pacote sobre o móvel em sua frente e passa a contar moeda por moeda. Há...Como os próximos da fila ficam contentes! Tenho certeza, você já deve ter passado por isso e deve estar louco para passar outra vez.
☻O falta alguma coisa – Este tipo está sempre presente nas filas. São velhos conhecidos dos clientes dos supermercados. Chega a sua hora de pagar e você escolhe a menor fila. Se sente o mais esperto de todos. De repente, você olha e cadê o marido da mulher da frente? Foi buscar um produto que faltou. Ele volta e logo falta outro produto. Retorna a buscar. Faz isso várias vezes e o tempo passa. Geralmente este tipo é, também, portador de tickets ou louco por cartões.
☻O veloz – Este, geralmente chega com o carrinho cheio. Demora em colocar as compras para serem cobradas. Vai para o outro lado esperar as compras para empacotá-las, mas é tão lento que as compras vão se acumulando até que o caixa também tem de ajudar no empacotamento. Todos olham para ele com o olhar de quem não agüenta mais esperar e ele nem dá bola. Depois de tudo empacotado e colocado no carrinho, ele pega a carteira naquela velocidade habitual dele e faz o pagamento sem se importar com as críticas “maldosas”.
☻O portador de folhetos de propaganda – Este pode ser considerado por muitos o consumidor ideal, defensor dos próprios direitos ou aquele que valoriza o dinheiro, procurando pechinchar e economizar o máximo em todos os momentos. Porém até estes muitos podem mudar de idéia se um dia estiverem em uma fila de supermercado, com a pressa natural do paulistano e em sua frente encontrar-se um desses. Sabe aquela hora em que a fila foi caminhando e na sua frente só há mais um cliente. Você já está comemorando. Olhando para o relógio e contando os minutos para ir para casa e de repente ele, o cliente em sua frente, coloca alguns produtos sobre o balcão e retira um folheto de propaganda, confere os preços e mostra-os para mostrar ao caixa que o preço na loja concorrente está menor. Portanto ele só pagará o preço igual ao da propaganda. Então o caixa, acostumado com o tipo, atenciosamente, atende às exigências, inclusive utilizando o concurso do fiscal de caixas para dar o aval. Passados aqueles produtos, o cliente põe outros produtos e retira outro folheto com preços de outra concorrente. Nesta hora o seguinte da fila já está ficando com problema de pressão, mas o que fazer se o cliente postado no caixa está exercendo o seu direito? Para pressionar o folheteiro, o cliente seguinte lota o balcão para fazer pressão. Porém não adianta nada, porque a burocracia nestes casos é digna de serviços do funcionalismo público e é direito do cliente lutar pelos seus direitos. Bom nessa hora, acho que nem dá para imaginar o que o segundo cliente está desejando que o primeiro faça com seus direitos e com aqueles folhetos...
 
Caixa de supermercado

O outro sapato

 
—Dê-me aquele sapato, por favor.
—Qual?
—Aquele na vitrine.
—Preto ou marrom?
—O preto.
—Qual o número?
—O quarenta, geralmente, fica bom..
Genivaldo, já conhecendo o modelo, subiu por uma escada giratória e foi ao andar superior, no almoxarifado da loja, buscar o modelo solicitado. Logo voltou com as caixas debaixo do braço. Vendedor experiente que era e para não perder a viagem, trouxe também um 39 e outro 41.
Ao se abaixar para retirar, primeiramente o sapato 40 da caixa, observou uma cena, no mínimo, atípica. O homem tinha uma única perna e consequentemente um único pé; o direito. Por um lado, sentiu aflição e até, por que não dizer, um certo sentimento discriminatório por ver aquele homem naquela situação que jamais desejaria para si mesmo ou para alguém de quem gostasse. Por outro, ficou curioso para saber o que ele faria com o outro sapato já que a loja só vendia pares de sapatos. De repente, após um pequeno devaneio, voltou à realidade e pensou consigo mesmo: “o que tenho a ver com isso, meu negócio é vender sapatos. Pagando... Tudo bem”.
Genivaldo educadamente retirou o sapato antigo do pé do freguês e colocou o novo. Apertou com os dedos a ponta do sapato e sentindo haver muito espaço entre o dedão e o bico do mesmo, questionou:
—Está um pouco grande. Quer testar outro número menor?
—Não. É assim mesmo que eu quero. Aliás, é necessário ser um pouco maior do que meu pé. Respondeu o homem, acompanhado por uma jovem que parecia ser a própria filha, a qual concordou com ele.
O cliente pegou o sapato na mão, apertou e dobrou-o várias vezes e de várias formas para senti-lo melhor e se dirigiu à jovem:
—Pode pagar Clarisse.
O vendedor preencheu uma folha com os dados sobre o modelo e o valor do sapato e deu-a para a jovem que foi até o caixa, enquanto ele levou o sapato até um balcão e colocou-o em uma sacola para ser retirado. Após pagar, Clarisse foi até o balcão e retirou a sacola, dando o ticket para o vendedor. Então, foi até o “pai” , ele se levantou, sozinho, utilizando as muletas como apoio e ambos seguiram caminho, saindo loja afora.
Genivaldo ficou na loja imaginando a situação daquele homem e o que ele faria com o outro sapato, já que ele só tinha um pé, mas havia levado o par para casa.
Chegando em casa, o homem, de sua única perna, retirou o sapato antigo e colocou-o na prateleira. Calçou o novo no pé, fechou novamente a caixa com o sapato do pé esquerdo dentro e colocou a caixa em uma sacola. Encaixou a alça da sacola no ombro direito e saiu de casa, silenciosamente.
Andou quase um quilômetro rapidinho, pois estava acostumado a usar muletas, o que fazia desde a infância. Logo avistou uma casa. Ela era antiga, pintada de bege. Estava há uns 3 metros do chão e teve de subir por uma escada para adentrá-la. Na sala havia algumas pessoas esperando. Todas com aparência sofrida. Ele entrou, solicitou ser atendido e ficou esperando a vez, sentado em um banco de madeira como todos os outros. Depois de algum tempo, eis que foi avisado ser sua vez. Levantou, foi até o outro aposento, onde havia outro homem, um benzedor muito procurado para a cura de quebrantos, bucho-virado, dores e todo tipo de doenças. Um senhor de uns cinqüenta anos, cabelos crespos curtos já um tanto esbranquiçados, mas aparentando muita experiência e sabedoria. Ao entrar, o homem cumprimentou-o e o abençoou fazendo alguns gestos simbólicos com as mãos.
—Joana, traga uma cadeira aqui para o Valdomiro.
Logo a mulher trouxe a cadeira. Valdomiro se sentou, retirou o sapato (pé esquerdo) da sacola e deu-o para o benzedor que retirou o antigo do pé e calçou-o. Moveu o pé de várias formas para sentir se estava bom e sorrindo direcionou-se carinhosamente ao amigo.
—Deus lhe pague, Valdomiro... Deus lhe pague.
 
O outro sapato

O jogo do ano

 
Estava para começar a partida no campinho situado ao lado da Rua Guaramembé no Jardim Umarizal, uma pequena vila do Estado de São Paulo, ainda com muitos terrenos vazios, quer dizer sem moradias construídas. De um lado estavam os temidos jogadores mirins da rua Itamanduaba e do outro os desafiantes, todos moradores dos arredores do campinho. Chamavam de campinho em razão das dimensões reduzidas do local de jogo. Na verdade eram apenas dois terrenos juntos que foram carpidos pelos garotos num exemplo de trabalho comunitário. Ele era caído para o lado esquerdo em relação ao time que jogava do lado de baixo atacando para cima e para o lado direito para o time que jogava do lado de cima atacando para baixo. Traves? Redes? De maneira alguma. Geralmente os gols eram construídos com base em duas pedras e calculados, a medida entre elas por meio da quantidade de passos de um único jogador para que ninguém reclamasse de que os gols tinham medidas diferentes. Todos participavam das decisões; às vezes seis ou sete pés era a medida dos gols, literalmente falando. Às vezes alguém se arriscava a criar alguma maneira de fazer os gols com madeiras em pé, mas era fato raro. O campinho era circundado em um lado pela Rua Guaramenbé e os outros três lados por terrenos tomados pelo mato. Sendo que em um deles havia um caminhozinho que descia até um barranco de uns dois metros de altura que dava de frente para a rua de baixo. Do lado de baixo, não muito longe havia uma casa toda fechada. Então os jogadores de ambos os times sabiam que deveriam evitar chutar a bola de jeito a cair naquela casa, pois o proprietário costumava não devolvê-la ou de jeito a descer pelo caminhozinho que levava para a rua de baixo. A bola... Às vezes era de capotão... Se bem que não era aconselhável em razão de facilitar que qualquer um a chutasse onde não era devido fazê-lo. O mais provável mesmo era o jogo transcorrer com bolas pequenas de borracha, o que facilitava o jogo rasteiro e principalmente porque ninguém tinha dinheiro para comprar bola melhor.
Domingo... Quase duas da tarde. Os dois times já se encontravam em campo e prontos para a partida, porém havia ainda algumas pendências a serem resolvidas antes de começar o jogo.
―Boca! Olha só a flâmula (objeto decorado ou com logotipos, feito de tecido e com uma cordinha de um lado a outro para ser pendurado nas paredes para fazer propaganda de empresas e instituições) que eles trouxeram? É bem menor do que a nossa. Falou o Baiano com cara de poucos amigos.
Boca nem bem acabou de ouvir a reclamação de Baiano e chamou o capitão do outro time, Ivan o terrível para uma conversa, pois o jogo valia, além da dignidade do grupo, a flâmula do adversário que era uma espécie de troféu.
―E aí Ivan, deste jeito não dá! Olha o tamanho da nossa flâmula e olha só a de vocês! Desse jeito vocês terão de colocar duas flâmulas desse tamanho para valer pela nossa.
Ivan chamou o pessoal do time dele para conversar e colocar a reclamação dos adversários e após muita conversa e reclamações, o irmão do Ivan foi buscar outra flâmula e logo retornou. Tudo estava pronto para o início da partida, porém ainda havia outro problema a ser resolvido; quem apitaria o jogo? Os dois times estavam completos e só havia um jogador que ficaria na reserva do time de baixo; o Carioca.
―O Carioca apita. Falou o Tita que também fazia parte do time da rua Itamanduaba.
―Mas ele é do time de vocês e vai roubar! Falou Adãozinho que fazia parte do time do campo.
―Vocês têm outro para apitar? Questionou Tita que gostava de uma boa discussão.
―Não!
―Então... É melhor começar o jogo.
A bola foi colocada no centro do campo. O esquadrão da Rua Itamanduaba era formado por: Boca, Baiano, Betão, Gil Negrão, Niquinho, Tita e Rabiola. O esquadrão dos arredores do campo por: Ivan o terrível, Adãozinho, Adelino, Adilson, Paiê, Cláudionor, Marcola e Bolacha. Como era de costume, cada jogador jogava no gol durante dois gols feitos pelo próprio time ou pelo adversário. Tita começou em um dos gols e marcola no outro.
Os capitães; Ivan e Boca se encontraram no meio do campo e tiraram par ou ímpar para decidir quem tinha o direito de escolher o lado do campo para começar a partida e qual time tinha o direito de dar o pontapé inicial. Chuteira? De maneira alguma. Ninguém tinha esse luxo. No pé de alguns dava para ver o Ki-chute pretinho e no de outros o conhecido Bamba ou outro calçado similar. Apenas Rabiola jogava descalço, porque não gostava de colocar qualquer coisa no pé. Foi decidido o Time da Itamanduaba sairia com a bola e o desafiante escolheu o campo de baixo por causa do vento a favor.
O jogo começou amarrado. Todas bolas eram divididas e a bola nos pés da equipe da Itamanduaba caminhava de pé em pé até chegar nos pés de Rabiola. Rabiola ao invés de jogar para o time, só queria dar chapéus. Ele tinha o jeito dele de fazer isso e só ele conseguia, puxava a bola com o lado de fora do pé contra o próprio corpo ela subia e passava por cima do adversário, só que para o time não adiantava nada e logo os adversários perceberam e toda vez que a bola ia para ele, eles corriam para cima dele em dois ou três e tomavam-na. Não deu outra, todo o restante do mesmo time reclamava do parceiro: “passa a bola Rabiola”, “pô Rabiola! Assim não dá!” “Desse jeito, vamos perder!”. Enquanto as reclamações ocorriam, Ivan o terrível aproveitou as bolas tomadas de Rabiola e marcou dois a zero. Quando os nervos já estavam ficando à flor da pele no time da Itamanduaba, eis que Deus pareceu olhar por eles; Rabiola conseguiu dar um chapéu no Claudionor dentro da área e Claudionor para não levar desaforo para casa pegou a bola com a mão.
―Pênaltiiiii!!! Gritaram os companheiros de Rabiola. Carioca apitou um pouco tardio, mas não havia como não marcar, principalmente para os próprios companheiros.
Rabiola, contra a vontade dos amigos, pegou a bola e colocou-a debaixo do braço, dizendo por meio de gestos: “eu vou bater... Deixa que eu faço.” Colocou a bola no local da marca de pênalti, ficou de costas para a bola, dizendo que bateria de virada e sem olhar para o gol que era defendido naquele momento por Adelino. Este ato, mesmo antes da batida do pênalti já deixara todos os companheiros irritados: “onde já se vira alguém bater um pênalti sem olhar para o gol e o goleiro”, mas vindo de Rabiola tudo era possível. Porém, quando Carioca apitou para bater o pênalti, Rabiola fez cara de mau e virou-se já usando todo o impulso possível para bater forte na bola e colocá-la no canto do goleiro, mas pegou mal na bola e por estar decalco arrancou uma tampa do dedão do pé direito. A bola não entrou e o sangue correu. Todos olharam para ele e ele segurava o pé no alto com a mão e gemia de dor. Moral da história, ele teve que sair e desfalcar o time no restante da partida. Ainda bem que tinha o Carioca para substituí-lo. Aliás todo o time deu graças a Deus pela troca, pois agora poderiam recuperar o tempo perdido. Só ficou uma questão: Quem iria apitar? Ninguém... Os próprios jogadores usariam sua honestidade para dizer quando havia faltas, era escanteio ou bola fora. A partir daí o jogo esquentou. Algumas faltas eram indiscutíveis, mas outras nem tanto.
O jogo transcorria sob tensão constante, nem mesmo a contagem dos gols eram a mesma para ambos o time; para o esquadrão da Itamanduaba o resultado estava em cinco a cinco, para o time local era cinco a quatro para eles. O jogo havia sido estabelecido que viraria a seis e terminaria em doze gols. O time da casa fez o sexto gol novamente com Ivan o Terrível e o jogo virou. Os times mudaram de lado. Os desafiantes estavam na frente e já se sentiam com uma mão na flâmula adversária. A partir deste momento toda bola dividida era razão de discussão. Gil negrão virou um leão na defesa e chutava a bola pra qualquer lado contanto que defendesse sua equipe. Boca assumiu a marcação de Ivan o terrível e o fazia homem a homem no campo todo. Tita marcou Adãozinho o craque adversário dando botinadas o tempo todo. Tantas botinadas deu que o adversário diminuiu o ritmo de jogo. Muitos gols saíram de ambos os lados. Pelas contas do time da Itamanduaba estava onze a dez para eles e para o time da casa onze a onze. Foi neste momento que aconteceu a jogada mais polêmica de todas; Boca jogou a bola para Tita, que driblou Paiê pela esquerda e cruzou para Betão que conseguiu tocar no canto do goleiro adversário que no momento era o Bolacha, mas o goleiro como um gato conseguiu pegar a bola em cima da linha. Quer dizer, aparentemente em cima da linha. Para o time da casa foi antes da linha e para o time da Itamanduaba o gol havia acontecido. Com esse gol o time da Itamanduaba faria doze gols e seria o vencedor. A discussão começou perto do gol com Tita e Bolacha. Não demorou muito e Tita agarrou Bolacha pelo pescoço e rolaram pelo chão. Todos os integrantes de ambos os times se pegaram e a briga se generalizou. Enquanto todos brigavam , Carioca se livrou da briga correu pegou todas as flâmulas e gritou para os companheiros: “Pessoal, peguei as flâmulas!!!!” Dito isso saiu correndo descendo a ladeira em direção à Itamanduaba. Paiê que tinha esse nome por gritar pelo pai toda vez que acontecia alguma coisa, fez jus ao nome: “paiê... Paiê” Gritou muito com aquela voz que parecia até de tenor italiano e logo o pai chegou com o fusca azul e apaziguou a briga entre os times. As flâmulas já eram. O jogo? Não havia mais condições de recomeçar. O jeito foi dar por terminado. Todos foram para suas casas. Alguns contando vantagens e outros revoltados pelo resultado, mas cá para nós foi um grande jogo.
 
O jogo do ano

O computador, o vírus e o mouse

 
Se há algo hoje em dia que está determinando a inserção do homem em um mundo considerado avançado, este algo é o computador. Ele é útil... Divertido... Funcional... Comunicativo... Necessário e outras coisas mais. Dizem algumas pessoas, não sei se são exageradas, que o homem que não utiliza o computador pode ser considerado um homem das cavernas. Porém existe, um outro, algo que preocupa e muito os usuários desta nova maravilha tecnológica, é o tal do vírus. Na verdade, nem sei quem foi o inventor deste bichinho tecnológico, mas que ele existe, existe. Aliás, hoje em dia temos também o tal do spy, do spam e outras coisas mais que perturbam os nossos momentos computacionais. Entre os vírus, existem os chamados worms, keyloggers, zumbis, os trojans, alguns até chamados de trojans horse, fico até imaginando se ele é parecido com um cavalinho. Enfim, nem é preciso dizer que existem pessoas com muita imaginação e inteligência neste mundo sendo usadas para o mal. Como diria o velho Batman: “Se ele tivesse usado a inteligência para o bem?”
Para aumentar a preocupação dos usuários de computador, chegam todos os dias pelos canais de televisão, notícias de hackers que invadem milhares de computadores; roubam senhas e informações e a partir delas, roubam o dinheiro dos correntistas de bancos. Outro fato apavorante é o número de pessoas desconhecidas, que estão todos os dias criando vírus novos e mais poderosos para infiltrar, não sei se esta seria a palavra mais adequada para o assunto, pois invadir ou infectar também cairiam bem, os computadores e promover desequilíbrio nos programas instalados nas máquinas.
Para lutar contra esses seres tecnológicos, instalamos as nossas “muralhas de defesa”, o tal do anti-vírus. Podemos escolher os pagos, que todo ano têm de ser pagos novamente para funcionarem em dia com precisão, pois têm de estar atualizados para se defenderem contra as novas criações tecnológicas do mal. Há também os grátis, os quais funcionam até...Não sei dizer até que ponto, mas funcionam.
Tudo isto, narrado até o momento, é para contar-lhes o que me aconteceu um certo dia, não me lembro ao certo a data, mas foi no ano de 2007. Já havia alguns dias, que eu me sentava frente ao computador e quando abria o programa de digitação de textos, eu sofria um bocado para digitar qualquer texto que fosse. A dificuldade era tanta, que no meio do texto, já tinha perdido toda a inspiração de escrevê-lo. Toda vez em que eu utilizava o mouse para destacar alguma coisa ou cricava frente a alguma letra, nem sei dizer direito o que é que acontecia, mas vou tentar; era para aparecer aquele tracinho característico do mouse ao lado da letra, mas ao invés disso, selecionava-se a linha inteira e se eu insistisse, tudo se embaralhava. Se eu cricava uma única vez em um ícone, era para acionar o copiar ou outra coisa qualquer, o ícone já se abria. Sinto muito, se você não entende nada de informática, fica difícil de entender do que estou falando, mas o assunto é sério. Meu Deus! A primeira coisa a vir na minha mente: “meu computador está infectado por um vírus”. Olhei para a tela do monitor e pensei: “e agora”? “O que é que eu faço?” Pensei logo na solução mais fácil, vou rodar o anti-vírus. Foi justamente o que eu fiz, mas tudo continuou como estava antes. Então rodei o anti-spy, nada mudou. Já no apavoramento, fiz a tal da limpeza de disco e da desfragmentação, mas tudo continuou na mesma. Só faltou-me olhar para o computador e dizer: “e agora quem poderá me ajudar?
Passaram-se mais dois ou três dias e toda vez que eu tinha inspiração para escrever alguma coisa, olhava para a tela do monitor e travava longos momentos de reflexão, nos quais ficava pensando se enfrentaria tentar escrever novamente e passar por toda aquela irritação dos dias anteriores. Na verdade, era eu e o computador, uma batalha na qual estava perdendo, aliás o problema já citado começou a dificultar também o uso da internet. Eu tinha de tomar uma solução e solução exige poder de decisão, e já nem sei se eu ainda tinha frente aquele problema. Eu gosto muito de acreditar na minha intuição e ela dizia: “o problema é o mouse”. Acreditando nela, abri o painel de controle e busquei as configurações do mouse. Durante vários minutos, eu tentei descobrir o que estava errado na configuração do mouse e nada. Passado mais um dia e eu estava lá mexendo nas configurações do mouse e nada. Após mais algum tempo, comecei a pensar em reinstalar todo o computador, formatando novamente todo o HD, isto certamente mandaria de volta aquele vírus para o inferno. È isto mesmo, o inferno, era isto que merecia aquele....Desculpe não vou falar o palavrão que me veio à cabeça. Porém havia um problema, eu tinha muitas coisas no computador e para reinstalá-lo, seria preciso toda uma preparação para não sair perdendo nada e um bom tempo de reinstalação. Então pensei, não vou perder esta batalha, Desinstalarei todos os últimos programas instalados no computador, se o vírus veio com um deles, ele será expulso junto ao seu hospedeiro. Comecei a minha batalha, desinstalando e desinstalando programas; desinstalava e testava, e para a minha decepção o problema continuava. Foi então que resolvi ouvir a minha intuição que invadiu a minha mente novamente falando: “é o mouse”. Foi então que finalmente usei minha inteligência para valer, em concomitância com minha intuição e fui ao outro computador, pertencente às minhas filhas, retirei o mouse e substitui o mouse que estava no meu. Foi como um passe de mágica...Tudo ficou perfeito novamente na minha máquina pessoal. Se por um lado estava aliviado, pelo outro, tinha de ouvir a minha intuição dizendo: “por que você não presta atenção no que eu falo?”
Agora, mais aliviado, restava outro problema, comprar um novo mouse. Numa quarta-feira, durante a manhã, peguei o ônibus e segui rumo à Santa Ifigênia, o centro dos aparelhos tecnológicos de São Paulo. Lá chegando, passei por diversas lojas, procurando um mouse interessante para mim e ao mesmo tempo para o meu bolso também. Aliás o mouse tem sido tão importante na minha vida, que eu acho que vivo mais com ele do que com minha esposa. Mouse é uma palavra inglesa, mas o jeitinho brasileiro já a aportuguesou ou a abrasileirou, pois o plural de mouse na língua inglesa é mice e no português quem tem dois, diz: “mouses”.
O mouse tem mudado muito nos últimos anos: na forma e no funcionamento. Lembro-me do primeiro; movimentava-se sobre uma bolinha e agora existem os chamados ópticos e eu, é claro, queria um óptico, pois é muito melhor do que o antigo. Após passar por diversas lojas, eis que me deparei com uma diferente, porque haviam mouses variados. Gostaria de dizer que geralmente gosto das coisas simples, mas aqueles modelos me chamaram a atenção. O primeiro a me chamar a atenção, foi um em forma de carro de corrida, acho que talvez fosse produzido para as pessoas que gostam de carros de corrida, havia um todo florido para uso feminino, mas o que me encantou mesmo, foi um que era ao mesmo tempo: mouse, abajur e ventilador. Para quem nunca viu é até difícil de imaginar como ele seja. Levei dois: um comum, quer dizer um óptico para trabalhar e me divertir no computador e aquele três em um para iluminar e me refrescar de vez em quando.
 
O computador, o vírus e o mouse

Simplesmente pensei

 
Pensei que te conhecia...
Pensei que te possuía...
Pensei que você me amava,
Mas sua alma não me pertencia.

Pensei ter te seduzido...
Pensei fazer parte de seus sonhos...
Entreguei-me todo, sem restrições,
Mas o amor é flor que não floresce da mentira.

Pensei ser tudo pra você...
O acordar, o viver, o adormecer.
Me dediquei a dar-te o mundo por prazer,
Mas foi tudo ilusão de um coração apaixonado.

Simplesmente pensei...
Te entreguei o melhor de mim...
Nenhuma dúvida ficou após tudo que aconteceu...
Sua alma, na verdade, nunca me pertenceu.
 
Simplesmente pensei

Sapato

 
O sapato
Pelo pé pisado
Feito sapo, coachou.
Solapado caminhou em novo passo pelo ar
Enquanto seu irmão gêmeo, sem reclamar,
Apoiado no chão, ficou.
“Vida de sapato...
Não é fácil, não”, ele pensou.
É duro conviver com essa meia fedida
A cada passo em que eu vou.
Chulé, meia suja, passo-a-passo...
Sol escaldante...
Quem paga o pato é o sapato!
Nhéca!!!
 
Sapato

acredito

 
Acredito Senhor... Sim, eu acredito...
Que um dia abrirei as cortinas da vida
E o mundo será diferente...
Crianças sendo respeitadas
Idosos amparados
Sofredores consolados.

Acredito Senhor... Sim, eu acredito...
Que um dia o amanhecer será mais apreciado
O direito de todos respeitado
Os animais tratados como irmãos
E o anoitecer recebido...
Com praças cheias de pessoas livres do temor.

Acredito Senhor... Sim, eu acredito...
Que um dia o dinheiro será apenas um detalhe...
A sinfonia da natureza tocará fundo os corações...
O amar será o verdadeiro ganho das horas trabalhadas
A harmonia cósmica...
Será o parâmetro para nossas realizações.

Acredito Senhor... Sim, eu acredito...
Que a vida por si só já será um sonho
Realizado em si mesma.
Nossas bússolas serão nossos corações
Abraçados pela razão...
Desprendida de interesses indignos.

Acredito Senhor... Sim, eu acredito...
Em ti, sentido por nós em toda sua plenitude
A voz da alma falando mais alto do que as palavras
A família tendo por base...
Os conceitos universais do amor incondicional.
Acredito Senhor... Sim, eu acredito...
 
acredito

Lágrimas

 
Dos olhos marejados
Uma lágrima rolou
Delineando por meu rosto triste
O caminho da tristeza que ficou.
Mal a lágrima sentida no chão se arremessou
Os olhos se apertaram...
Outra lágrima se formou.
A cada uma que escorria
Uma nova se formava
Mas não se formava no olho não
Ela se formava da dor medo desesperança
Alimentadas no fundo do coração.
 
Lágrimas

Conversa com o coração

 
Eu tenho muito a te dizer coração...
Quero falar-te no ouvido...
Palavras sussurradas...
Que só para você e eu fazem sentido.

Te aconselho o bom-senso...
Acabamos de sofrer momentos de dor...
Nem ao menos esfriaram os tristes momentos...
Você já acena com a chegada de outro amor.

Você é mesmo ousado e aventureiro,
Nada detém sua busca pela felicidade.
Eu às vezes te atrapalho
Com meu orgulho e minha vaidade.

Preciso me entregar a suas vontades,
Reconhecer seu acerto nessa decisão.
Apesar da dor que sofri, juntar-me a ti e dizer:
Vamos nessa, Coração.
 
Conversa com o coração

Fones de ouvido

 
O fone de ouvido já é um antigo conhecido. Quando eu era criança ele já fazia parte do mundo. Não eram usados como os de hoje. Lembro-me e se você também é de gerações passadas, tem perto de cinquentinha mais ou menos, vai lembrar também. Claro que eu respeito se você quer dizer que não se lembra apenas para sentir-se mais jovem. Na década de setenta o fone era usado, geralmente, em salões de bailes pelos hoje chamados DJ’s que os usavam para trocar os famosos discos de vinil. Logicamente que algumas pessoas os tinham em suas casas, mas não era um costume comum. Poucos ouviam músicas em suas casas com fones de ouvido.
Há alguns anos atrás eu coordenava um trabalho com jovens e lembro-me de ter aparecido na época o tal do disc-man, todos os jovens queriam ter um. Era uma verdadeira febre pelo tal do disc-man. Caríssimo, poucos podiam ter um e se tivesse tinha de zelar por ele, pois podia criar pernas a qualquer momento. Antes disso o fone de ouvido só podia ser acoplado a grandes aparelhos impossíveis de serem carregados. Se você é de gerações anteriores a de 80, tente imaginar um disc-man que tocasse long plays (chamados também de bolachões). Um homem carregando um desses no ônibus. Seria do tamanho de uma mala. Alguém poderia dizer assim: “e se fosse feito apenas para tocar compacto simples ou compacto duplo?” Bom já seria um pouco só maior do que um cd, mas caberia duas ou quatro músicas apenas. Quer dizer o proprietário do aparelho teria de trocar de disco a todo momento e por isso levar uma bolsa com diversos deles para viajar. Bem, diz o ditado: “tudo vem a seu tempo”, realmente tudo a seu tempo. Antigamente a televisão não tinha controle remoto e era um tal de senta, levanta,...Senta, levanta,...Senta levanta. O negócio era usar só a famosa calça das propagandas de televisão; a Pervinc 70, a calça que nunca perdia o vinco e jamais precisava ser passada. Depois do advento do controle remoto parece que houve um aceleramento no progresso do mundo e tudo foi se transformando tão rapidamente, mas tão rapidamente que foi difícil acompanhar.
Bom...Voltemos ao hoje. Voltemos ao mundo atual. Acho que você já nem agüentava mais tanta velharia. Até mesmo o disc-man que apareceu há pouco tempo está entrando em extinção, tornando-se peça de museu. Foi-se o tempo que foi centro do desejo da juventude mundial. Tanto é verdade que em um dos ônibus em que eu viajava, havia um senhor moreno de uns 50 anos mais ou menos, é difícil precisar a idade, pois dizem que pessoas da raça negra quando aparecem os cabelos brancos é porque já passou dos setenta. Estava ele ouvindo música, pois percebi o fone de ouvido em seus ouvidos. Passado mais algum tempo uma poltrona ficou vazia e resolvi instintivamente mudar de lugar, ficando ao lado dele e foi uma surpresa vê-lo portando um grande disc-man. Não que isso seja preconceito, mas após o advento do MP3, MP4 e outros... Foi interessante observar aquilo. Não sei o que é que ele estava ouvindo, entretanto ele tinha um sorriso constante no rosto. Certamente devia estar ouvindo algo muito prazeroso. Prazeroso pra ele é claro! Não sei de que tipo de música você gosta, e nem ele, mas cada um deve ouvir aquilo de que gosta e ele estava satisfeito. Pena não poder transmitir o sentimento de prazer que aquele senhor estava sentindo, pois valeu a pena olhar para ele. Ele segurava aquele aparelhão nas mãos e nem ligava. Será que os jovens de hoje aceitariam sair por aí carregando um aparelhão daqueles nas mãos. Certamente seriam poucos.
Sinceramente, toda vez que vejo alguém com fones de ouvido, ouvindo músicas, fico curioso. O que será que ele está ouvindo? Lembro-me como se fosse agora, era entre meia-noite e uma da manhã e no banco ao lado do meu, estava um rapaz, aparentemente dormindo, vestido com roupas de tecido moletom acinzentadas com listras brancas. Olhei e observei os fones no ouvido. O rosto aparentava felicidade constante. Não dá curiosidade de compartilhar esses momentos com as pessoas? Conhecer-lhes o gosto? O que representa aquela música para eles? Porém eu não tive a coragem ou covardia, sei lá, de perguntar-lhe em meio ao seu deleite.
Hoje em dia, toda vez que alguém sobe em um ônibus, pode prestar atenção, dificilmente não haverá alguém com fones no ouvido. Houve viagens em que contei mais de cinco pessoas nesse estado de espírito. Isso acaba sendo uma terapia para não sentir o tempo da viagem.
Acredito que a tendência é cada dia mais aumentar o número de usuários deste instrumento cativante. Cada vez mais o progresso tecnológico cria novos aparelhos: menores, mais potentes, com maiores possibilidades de colocar números maiores de músicas e de organização e facilidade de uso. Isso certamente ajuda a melhorar a vida das pessoas e diminuir as tensões do dia-a-dia.
 
Fones de ouvido