Poemas : 

"Howl", de Allen Ginsberg (Tentativa de tradução minha)

 
Camaradas,
Segue uma tentativa de tradução do célebre poema "Howl", de Allen Ginsberg, um dos poemas mais interessantes que li até à data. Daí o risco de o tentar verter para o português. Aceitam-se naturalmente sugestões.
Um abraço
Xavier Zarco


UIVO

Para Carl Solomon


I




Eu vi as melhores mentes da minha geração destruídas pela loucura, esfomeadas histéricas nuas,

arrastando-se através das ruas dos negros de madrugada procurando uma violenta dose,

hipsters com cabeça de anjo ardendo pelo ancestral acordo celeste com o dínamo estelar na maquinaria da noite,

que pobres e maltrapilhos e de profundas olheiras e sentados a fumar no breu sobrenatural dos apartamentos de água fria flutuando através dos cumes das cidades contemplando jazz,

que despiram os seus cérebros ao Céu sob Ele e viram os anjos de Maomé vacilarem nos telhados iluminados,

que passaram pelas universidades com olhos radiantes alucinando Arkansas e tragédias sob a luz de Blake entre eruditos da guerra,

que foram expulsos das academias por loucura & publicação de odes obscenas nas janelas do crâneo,

que se agacharam em cuecas em quartos por barbear, queimando o seu dinheiro em jacós do lixo e ouvindo o Terror através da parede,

que foram apanhados pelas suas púbicas barbas no regresso por Laredo com um cinto de marijuana para Nova Iorque,

que comeram fogo em hotéis pintados ou beberam terebentina em Paradise Alley, morte, ou flagelaram seus troncos noite após noite

com sonhos, com drogas, com pesadelos vividos, álcool e caralho e colhões sem fim,

incomparáveis becos de nuvem trémula e relâmpago na mente que salta para os postes da Canada & Paterson, iluminando todo o mundo imóvel do Tempo entre,

a solidez do Peyote dos corredores, alvoradas no quintal de árvores fúnebres verdes, bebedeiras de vinho sobre os telhados, montras do burgo da viagem cintilante do néon de semáforos de um viciado, vibrações de sol e lua e árvore no bramir do anoitecer de Brooklyn, declarando caixotes de lixo e meiga reinante luz da mente,

que se acorrentaram ao metro para uma viagem sem fim de Battery até ao sagrado Bronx em benzadrina até ao barulho de rodas e crianças os trouxeram de volta estremecendo de boca desfeita e o ermo espancado cérebro seco do esplendor nas tristes luzes do Zoo,

que afundaram toda a noite na luz submarina de Bickford voltando à superfície e sentaram-se ao fim da tarde com cerveja morta no desolado Fugazzi ouvindo o crepitar do destino na jukebox de hidrogénio,

que falam sem cessar setenta horas do parque até à estrada até ao bar até Bellevue até ao museu até à Ponte de Brooklyn,

um batalhão perdido de conversadores platónicos saltando as escadas as saídas de emergência os parapeitos o Empire State fora da lua,

falando gritando vomitando sussurrando factos e memórias e anedotas e efeitos visuais e choques em hospitais e prisões e guerras,

todos os intelectos regurgitados em total recordação durante sete dias e noites com olhos brilhantes, carne para a Sinagoga atirada para a rua,

que desapareceram para lugar algum no Zen de New Jersey deixando um rasto de ambíguos postais de Atlantic City Hall,

sofrendo suores Orientais e triturações ósseas Tangerianas e dores de cabeça da China sob ressaca num quarto mal mobilado de Newark,

que vaguearam às voltas e voltas à meia-noite na estação de comboios questionando-se para onde ir, e foram, deixando nenhum coração partido,

que acenderam cigarros em vagões vagões vagões que iam ruidosos através da neve até às quintas solitárias na noite dos antepassados,

que estudaram Plotino São João da Cruz telepatia e cabala bop porque o cosmos instintivamente vibrava aos seus pés no Kansas,

que vaguearam solitários através das ruas de Idaho na demanda de anjos visionários anjos índios que eram anjos visionários índios,

que pensaram que eram somente loucos quando Baltimore surgiu em êxtase sobrenatural,

que saltaram em limousines com o Chinês de Oklahoma no impulso da chuva de inverno à meia-noite à luz das ruas da pequena cidade,

que vadiaram esfomeados e solitários através de Houston à procura de jazz ou sexo ou sopa, e seguindo o brilhante Espanhol para conversar sobre a América e a Eternidade, tarefa sem esperança, e assim embarcaram para África,

que desapareceram nos vulcões do México deixando nada para trás excepto a sombra do macacão e da lava e da cinza da poesia espalhada na lareira de Chicago,

que reapareceram na Costa Oeste investigando o FBI de barbas e calções com grandes e sensuais olhos pacifistas nas suas peles morenas passando panfletos incompreensíveis,

que queimaram seus braços com cigarros protestando a neblina narcótica de tabaco do Capitalismo,

que distribuíram panfletos Supercomunistas na Union Square chorando e despindo-se enquanto as sirenes de Los Alamos os deprimia e deprimia-se Wall, e o ferry de Staten Island também se deprimia,

que começaram a chorar em ginásios brancos nus e a tremer perante a maquinaria de outros esqueletos,

que morderam detectives no pescoço e guincharam com prazer nos carros de polícia por terem cometido crime algum para além da sua própria pederastia selvagem e intoxicação,

que uivaram ajoelhados no metro e foram arrastados para fora do telhado agitando genitais e manuscritos,

que se deixaram enrabar por virtuosos motociclistas, e gritaram com prazer,

que chuparam e foram chupados por esses serafins humanos, os marinheiros, carícias de amor do Atlântico e Caribenho,

que ejacularam pela manhã pelo entardecer em roseirais e gramados de parques públicos e cemitérios espalhando livremente o seu sémen a qualquer um que viesse,

que soluçaram sem parar tentando rir mas acabando com um suspiro atrás de uma divisão num Banho Turco quando o louro & nu anjo surgia para os penetrar com uma espada,

que perderam os seus amantes para as três velhas víboras do destino a víbora de um só olho do dólar heterossexual a víbora de um só olho que pisca fora do ventre e a víbora de um só olho que nada faz mas que se senta sobre o seu rabo e cortaram os dourados fios intelectuais do tear do artesão,

que copularam absortos e insaciáveis com uma garrafa de cerveja uma namorada um maço de tabaco uma vela e caíram da cama, e continuaram pelo chão e através do corredor e acabaram desfalecidos na parede com a visão da última cona e vinham iludindo o último lampejo da consciência,

que adoçaram o arrebatar de um milhão de raparigas tremendo ao pôr-do-sol, e que tinham os olhos vermelhos pela manhã mas que estavam prontos para adoçar o arrebatar do sol nascente, nádegas brilhantes nos celeiros e nus no lago,

que se prostituíram pelo Colorado numa miríade de carros nocturnos roubados, N. C., heróis secretos destes poemas, garanhão e Adónis de Denver – alegria para a memória das suas inúmeras fodas com raparigas em terrenos ermos & traseiras de restaurantes, filas raquíticas de cinema, no topo de montes em cavernas ou com descarnadas empregadas no familiar levantar de saias à beira da estrada & especialmente secretos solipsismos das retretes das estações de serviço & também becos da cidade natal,

que desapareceram na vastidão dos filmes sórdidos, foram transportados em sonhos, acordando numa súbita Manhattan, e escolheram-se para saírem das caves da ressaca com cruel Tokay e horrores dos sonhos de ferro da Terceira Avenida & cambalearam para os gabinetes do desemprego,

que andaram toda a noite com seus sapatos cheios de sangue pelas docas da neve à espera de uma porta no East River que se abra para uma divisão cheia de vapor e ópio,

que criaram grandes dramas suicidas nos penhascos do apartamento de Hudson sob o holofote turvo em tempo de guerra da lua & as suas cabeças serão coroadas com louros e esquecimento,

que comeram cordeiro guisado da imaginação ou digeriram o caranguejo no fundo lamacento dos rios de Bowery,

que choraram perante o romance das ruas com os seus carrinhos de mão repletos de cebolas e má música,

que se sentaram em caixotes respirando na escuridão sob a ponte, e se levantaram para edificar clavicórdios nos seus sótãos,

que tossiram no sexto andar de Harlem coroado com chama sob um céu tuberculoso rodeado por caixotes laranjas de teologia,

que rabiscaram toda a noite embalando e rolando sobre sublimes encantamentos que na manhã amarela eram estrofes disparatadas,

que cozinharam animais podres pulmão coração pés cauda borsht & tortilhas sonhando com o reino de vegetais puros,

que se enterraram a si mesmos sob camiões de carne à procura de um ovo,

que atiraram os seus relógios dos telhados para fazerem as suas apostas para a Eternidade fora do Tempo, & despertadores caíram nas suas cabeças todos os dias durante a próxima década,

que cortaram por três vezes os seus pulsos sucessivamente sem sucesso, desistiram e foram forçados a abrir lojas de antiguidades onde pensaram que estavam a envelhecer e choraram,

que foram queimados vivos nos seus fatos inocentes de flanela em Madison Avenue no meio de explosões de versos de chumbo & a algazarra do enebriamento dos regimentos de ferro da moda & o guinchar da nitroglicerina dos maricas da publicidade & o gás mostarda da inteligência sinistra dos editores, ou foram atropelados pelos taxistas bêbados da Realidade Absoluta,

que saltaram da Ponte de Brooklyn isto realmente aconteceu e partiram desconhecidos e esquecidos para dentro da fantasmagórica confusão das vielas da sopa de Chinatown & carros de bombeiros, nem uma cerveja à borla,

que cantaram em desespero para fora das suas janelas, caíram da janela do metro, saltaram no sujo Passaic, pularam nos negros, choraram pela rua, dançaram descalços sobre copos de vinho partidos esmagaram discos de jazz Alemão da nostalgia Europeia dos anos 30 acabaram o uísque e vomitaram lamentando-se na toalha ensanguentada, lamentos nos seus ouvidos e o estrondo de colossais apitos de vapor,

que rolaram nas auto-estradas do passado viajando para a solidão da cadeia pelos broches de cada um em Gólgota viram a encarnação do jazz de Birmingham,

que conduziram através do país setenta e duas horas para descobrirem se eu tive uma visão ou tu tiveste uma visão ou ele teve uma visão para descobrir a Eternidade,

que viajaram para Denver, que morreram em Denver, que regressaram a Denver & aguardaram em vão, que procuraram por Denver & meditaram & solitários em Denver e finalmente foram embora para procurar o Tempo, & agora Denver tem saudade dos seus heróis,

que se ajoelharam em catedrais sem esperança rezando pela salvação de uns e outros e luz e peitos, até que a alma iluminasse o seu cabelo por um segundo,

que chocaram contra a suas mentes na prisão esperando por impossíveis criminosos com cabeças douradas e o charme da realidade em seus corações que cantassem o doce blues para Alcatraz,

que se retiraram para o México para cultivar um vício, ou para as Montanhas Rochosas para ofertar Buda ou Tânger para rapazes ou o Pacífico Sul para a locomotiva preta ou Harvard para Narciso para Woodlawn para a orgia ou sepultura,

que demandaram testes de sanidade acusando a rádio de hipnotismo & foram abandonados com a sua insanidade & suas mãos & um júri suspenso,

que atiraram salada de batata aos palestrantes de Dadaísmo na CCNY e subsequentemente se apresentaram nos degraus de granito do manicómio com as cabeças rapadas e discurso de suicídio de arlequim, exigindo lobotomia instantânea,

e que receberam em troca o concreto vazio da insulina Metrazol electricidade hidroterapia psicoterapia terapia ocupacional pingue-pongue & amnésia,

que em protesto sem humor viraram uma única simbólica mesa de pingue-pongue, quedando-se por instantes em catatonia,

regressando anos mais tarde verdadeiramente carecas excepto por uma peruca de sangue, e lágrimas e dedos, para a visível perdição do louco das celas das cidades-manicómio do Este,

fétidos corredores de Pilgrim State Rockland e Greystone, altercando com os ecos da alma, embalando e rolando no banco da solidão do reino do dólmen da meia-noite do amor, sonharam da vida um pesadelo, corpos tornando-se em pedra pesada como a lua,

com a mãe finalmente ******, e o último fantástico livro arremessado pela janela da habitação, e a última porta fechada às 4 da madrugada e o último telefone atirado à parede em resposta e a última divisão mobilada esvaziada até à última peça da mobília mental, uma rosa de papel amarelo torcida num cabide no armário, e mesmo isso imaginário, nada excepto um pequeno naco de alucinação esperançoso,

ah, Carl, enquanto não estiveres salvo eu não estou salvo, e agora tu estás realmente na total sopa animal do tempo –

e que por isso correram pelas ruas geladas obcecados com um súbito flash da alquimia do uso do catálogo da elipse uma medida variável e vibrante plano,

que sonharam e fizeram fendas encarnadas no Tempo & Espaço através de imagens justapostas, e capturaram o arcanjo da alma entre 2 imagens visuais e uniram os verbos elementares e colocaram o substantivo e o travessão da consciência juntos saltando com sensação de Pater Omnipotens Aeterna Deus

para recriar a sintaxe e medida da pobre prosa humana e ficaram à tua frente sem falar e inteligentes e tremendo com vergonha, rejeitados no entanto revelando a alma para conformar-se com o ritmo do pensamento na sua cabeça nua e infinita,

o louco vagabundo e anjo bateu no Tempo, desconhecido, no entanto colocando aqui o que pode ser deixado para dizer no tempo que vier após a morte,

e ergueram-se reencarnados nas roupas fantasmagóricas do jazz na sombra da trompa dourada da banda e sopraram o sofrimento da mente nua da América por amor até um saxofone chorar um eli eli lamma lamma sabacthani que fez arrepiar as cidades até à última rádio,

com o absoluto coração do poema da vida retirado dos seus próprios corpos bom para comer por uns mil anos.





II




Que esfinge de cimento e alumínio arrombou os seus crânios e comeu seus cérebros e imaginação?

Moloch! Solidão! Imundice! Fealdade! Caixotes de lixo e dólares inobtíveis! Crianças gritando sob as escadarias! Rapazes soluçando nos exércitos! Velhos chorando nos parques!

Moloch! Moloch! Pesadelo de Moloch! Moloch o sem amor! Moloch mental! Moloch o duro juiz dos homens!

Moloch a incompreensível prisão! Moloch a cadeia sem alma de ossos cruzados e Congresso de lamentos! Moloch cujos edifícios são julgamentos! Moloch a vasta pedra da guerra! Moloch os governos admirados!

Moloch cuja mente é pura maquinaria! Moloch cujo sangue é dinheiro a correr! Moloch cujos dedos são dez exércitos! Moloch cujo peito é um dínamo canibal! Moloch cujo ouvido é uma sepultura fumegante!

Moloch cujos olhos são mil janelas cegas! Moloch cujos arranha-céus estão em longas ruas como Jeovás sem fim! Moloch cujas fábricas sonham e coaxam no nevoeiro! Moloch cujas pilhas de fumo e antenas coroam as cidades!

Moloch cujo amor é óleo e pedra infindos! Moloch cuja alma é electricidade e bancos! Moloch cuja pobreza é o espectro do genial! Moloch cujo destino é a nuvem de hidrogénio assexuada! Moloch cujo nome é Mente!

Moloch onde me sento sozinho! Moloch onde eu sonho Anjos! Louco em Moloch! Brochista em Moloch! Mal amado e sem homens em Maloch!

Moloch que entrou cedo na minha alma! Maloch onde sou uma consciência sem um corpo! Moloch que me afugentou da minha natural êxtase! Moloch a quem abandono! Acordem em Moloch! Luz correndo para fora do céu!

Moloch! Moloch! Apartamentos robóticos! subúrbio invisível! tesourarias de esqueletos! capitais cegos! indústrias demoníacas! nações espectrais! manicómios invencíveis! caralhos de granito! bombas monstruosas!

Eles partiram as suas costas elevando Moloch ao Céu! Pavimentos, árvores, rádios, toneladas! elevando a cidade ao Céu que existe e está em todo o lado sobre nós!

Visões! presságios! alucinações! milagres! êxtases! foram na corrente do rio Americano!

Sonhos! adorações! iluminações! religiões! um barco sobrecarregado com merda sensitiva!

Avanços! sobre o rio! volteios e crucificações! indo com a corrente! Pedradas! Epifanias! Desesperos! Dez anos de gritos animais e suicídios! Mentes! Novos amores! Geração louca! atiradas pelas rochas do Tempo!

Verdadeira gargalhada santa no rio! Eles viram tudo! os olhos selvagens! os gritos sagrados! Eles acenaram adeus! Eles saltaram do telhado! para a solidão! levando flores! Rio abaixo! para a rua!





III




Carl Solomon! Estou contigo em Rockland

onde és mais louco do que eu

Estou contigo em Rockland

onde te deves sentir muito estranho

Estou contigo em Rockland

onde imitas a sombra da minha mãe

Estou contigo em Rockland

onde assassinaste as tuas doze secretárias

Estou contigo em Rockland

onde riste a este humor invisível

Estou contigo em Rockland

onde somos grandes escritores na mesma terrível máquina de escrever

Estou contigo em Rockland

onde a nossa condição se tornou séria e é notícia na rádio

Estou contigo em Rockland

onde as faculdades do crâneo não admitem mais os vermes dos sentidos

Estou contigo em Rockland

onde bebes o chá dos seios das solteironas de Utica

Estou contigo em Rockland

onde fazes trocadilhos os corpos das tuas enfermeiras as harpias do Bronx

Estou contigo em Rockland

onde gritas num colete de forças que estavas a perder o jogo do pingue-pongue actual do abismo

Estou contigo em Rockland

onde bates no piano catatónico a alma é inocente e imortal não deve nunca morrer ímpia num manicómio armado

Estou contigo em Rockland

onde mais cinquenta choques nunca nos devolverá a tua alma ao teu corpo através da sua peregrinação para uma cruz no vazio

Estou contigo em Rockland

onde acusas os teus médicos de insanidade e de planearem a revolução socialista Hebraica contra o nacional fascismo de Gólgota

Estou contigo em Rockland

onde irás dividir os céus de Long Island e ressuscitar o teu Jesus vivo e humano do seu sobre-humano túmulo

Estou contigo em Rockland

onde estão vinte e cinco mil camaradas loucos e que cantam em coro a estrofe final da Internacional

Estou contigo em Rockland

onde nos abraçamos e beijamos sob os nossos lençóis os Estados Unidos que tossem a noite inteira e não nos deixam dormir

Estou contigo em Rockland

onde acordamos electrificados fora de coma pelas nossas próprias aeronaves da alma rugindo sobre o telhado vieram para largar angélicas bombas o hospital ilumina-se a si mesmo paredes imaginárias colapsam Ó legiões esqueléticas correm para a rua Ó estrelado choque de misericórdia a guerra eterna está aqui Ó vitória esquece as cuecas estamos livres

Estou contigo em Rockland

nos meus sonhos caminhas a pingar de uma viagem marítima pela auto-estrada através da América em lágrimas até à porta da minha cabana na noite Ocidental



São Francisco, 1955-1956




Nota de rodapé para Uivo




Santo! Santo! Santo! Santo! Santo! Santo! Santo! Santo! Santo! Santo! Santo! Santo! Santo! Santo! Santo!

O mundo é santo! A alma é santa! A pele é santa! O nariz é santo! A língua e o caralho e a mão e o buraco do cú são santos!

Tudo é santo! toda a gente é santa! todo o lado é santo! todo o dia está na eternidade! Todo o homem é um anjo!

O vadio é tão santo como o serafim! o louco é tão santo como tu minha alma é santa!

A máquina de escrever é santa o poema é santo a voz é santa os ouvintes são santos a êxtase é santa!

Santo Pedro santo Allen santo Solomon santo Lucien santo Kerouac santo Huncke santo Burroughs santo Cassady santo o desconhecido cansado e o pedinte sofredor santos os repugnantes anjos humanos!

Santa minha mãe no asilo insane! Santos os caralhos dos antepassados do Kansas!

Santo o saxofone que geme! Santo o apocalipse bop! Santos as bandas de jazz gementes marijuana hipsters paz peyote cachimbos & tambores!

Santa a solidão dos arranha-céus e pavimentos! Santas as cafetarias cheias com os milhões! Santos os misteriosos rios de lágrimas sob as ruas!

Santo o solitário destruidor! Santo o vasto cordeiro da classe média! Santos os pastores loucos da rebelião! Quem sabe Los Angeles SÃO Os Anjos!

Santa Nova Iorque Santa São Francisco Santa Peoria & Seattle Santa Paris Santa Tânger Santa Moscovo Santa Istambul!

Santo o tempo na eternidade santa eternidade no tempo os relógios no espaço santa a quarta dimensão santa a quinta Internacional santo o Anjo em Moloch!

Santo o mar santo o deserto santo o caminho de ferro santa a locomotiva santas as visões santas as alucinações santos os milagres santo o globo ocular santo o abismo!

Santo o perdão! misericórdia! caridade! fé! Santo! Os nossos! corpos! sofrendo! Magnanimidade!

Santa a supernatural extra brilhante inteligente meiguice da alma!



Berkeley, 1955


O original

HOWL

For Carl Solomon


I




I saw the best minds of my generation destroyed by madness, starving hysterical naked,

dragging themselves through the negro streets at dawn looking for an angry fix,

angelheaded hipsters burning for the ancient heavenly connection to the starry dynamo in the machinery of night,

who poverty and tatters and hollow-eyed and high sat up smoking in the supernatural darkness of cold-water flats floating across the tops of cities contemplating jazz,

who bared their brains to Heaven under the El and saw Mohammedan angels staggering on tenement roofs illuminated,

who passed through universities with radiant cool eyes hallucinating Arkansas and Blake-light tragedy among the scholars of war,

who were expelled from the academies for crazy & publishing obscene odes on the windows of the skull,

who cowered in unshaven rooms in underwear, burning their money in wastebaskets and listening to the Terror through the wall,

who got busted in their pubic beards returning through Laredo with a belt of marijuana for New York,

who ate fire in paint hotels or drank turpentine in Paradise Alley, death, or purgatoried their torsos night after night

with dreams, with drugs, with waking nightmares, alcohol and cock and endless balls,

incomparable blind streets of shuddering cloud and lightning in the mind leaping toward poles of Canada & Paterson, illuminating all the motionless world of Time between,

Peyote solidities of halls, backyard green tree cemetery dawns, wine drunkenness over the rooftops, storefront boroughs of teahead joyride neon blinking traffic light, sun and moon and tree vibrations in the roaring winter dusks of Brooklyn, ashcan rantings and kind king light of mind,

who chained themselves to subways for the endless ride from Battery to holy Bronx on benzedrine until the noise of wheels and children brought them down shuddering mouth-wracked and battered bleak of brain all drained of brilliance in the drear light of Zoo,

who sank all night in submarine light of Bickford’s floated out and sat through the stale beer afternoon in desolate Fugazzi’s, listening to the crack of doom on the hydrogen jukebox,

who talked continuously seventy hours from park to pad to bar to Bellevue to museum to the Brooklyn Bridge,

a lost battalion of platonic conversationalists jumping down the stoops off fire escapes off windowsills off Empire State out of the moon,

yacketayakking screaming vomiting whispering facts and memories and anecdotes and eyeball kicks and shocks of hospitals and jails and wars,

whole intellects disgorged in total recall for seven days and nights with brilliant eyes, meat for the Synagogue cast on the pavement,

who vanished into nowhere Zen New Jersey leaving a trail of ambiguous picture postcards of Atlantic City Hall,

suffering Eastern sweats and Tangerian bone-grindings and migraines of China under junk-withdrawal in Newark’s bleak furnished room,

who wandered around and around at midnight in the railroad yard wondering where to go, and went, leaving no broken hearts,

who lit cigarettes in boxcars boxcars boxcars racketing through snow toward lonesome farms in grandfather night,

who studied Plotinus Poe St. John of the Cross telepathy and bop kabbalah because the cosmos instinctively vibrated at their feet in Kansas,

who loned it through the streets of Idaho seeking visionary indian angels who were visionary indian angels,

who thought they were only mad when Baltimore gleamed in supernatural ecstasy,

who jumped in limousines with the Chinaman of Oklahoma on the impulse of winter midnight streetlight smalltown rain,

who lounged hungry and lonesome through Houston seeking jazz or sex or soup, and followed the brilliant Spaniard to converse about America and Eternity, a hopeless task, and so took ship to Africa,

who disappeared into the volcanoes of Mexico leaving behind nothing but the shadow of dungarees and the lava and ash of poetry scattered in fireplace Chicago,

who reappeared on the West Coast investigating the FBI in beards and shorts with big pacifist eyes sexy in their dark skin passing out incomprehensible leaflets,

who burned cigarette holes in their arms protesting the narcotic tobacco haze of Capitalism,

who distributed Supercommunist pamphlets in Union Square weeping and undressing while the sirens of Los Alamos wailed them down, and wailed down Wall, and the Staten Island ferry also wailed,

who broke down crying in white gymnasiums naked and trembling before the machinery of other skeletons,

who bit detectives in the neck and shrieked with delight in policecars for committing no crime but their own wild cooking pederasty and intoxication,

who howled on their knees in the subway and were dragged off the roof waving genitals and manuscripts,

who let themselves be fucked in the ass by saintly motorcyclists, and screamed with joy,

who blew and were blown by those human seraphim, the sailors, caresses of Atlantic and Caribbean love,

who balled in the morning in the evenings in rosegardens and the grass of public parks and cemeteries scattering their semen freely to whomever come who may,

who hiccuped endlessly trying to giggle but wound up with a sob behind a partition in a Turkish Bath when the blond & naked angel came to pierce them with a sword,

who lost their loveboys to the three old shrews of fate the one eyed shrew of the heterosexual dollar the one eyed shrew that winks out of the womb and the one eyed shrew that does nothing but sit on her ass and snip the intellectual golden threads of the craftsman’s loom,

who copulated ecstatic and insatiate with a bottle of beer a sweetheart a package of cigarettes a candle and fell off the bed, and continued along the floor and down the hall and ended fainting on the wall with a vision of ultimate cunt and come eluding the last gyzym of consciousness,

who sweetened the snatches of a million girls trembling in the sunset, and were red eyed in the morning but prepared to sweeten the snatch of the sunrise, flashing buttocks under barns and naked in the lake,

who went out whoring through Colorado in myriad stolen night-cars, N.C., secret hero of these poems, cocksman and Adonis of Denver – joy to the memory of his innumerable lays of girls in empty lots & diner backyards, moviehouses’ rickety rows, on mountaintops in caves or with gaunt waitresses in familiar roadside lonely petticoat upliftings & especially secret gas-station solipsisms of johns, & hometown alleys too,

who faded out in vast sordid movies, were shifted in dreams, woke on a sudden Manhattan, and picked themselves up out of basements hung-over with heartless Tokay and horrors of Third Avenue iron dreams & stumbled to unemployment offices,

who walked all night with their shoes full of blood on the snowbank docks waiting for a door in the East River to open to a room full of steam-heat and opium,

who created great suicidal dramas on the apartment cliff-banks of the Hudson under the wartime blur floodlight of the moon & their heads shall be crowned with laurel in oblivion,

who ate the lamb stew of the imagination or digested the crab at the muddy bottom of the rivers of Bowery,

who wept at the romance of the streets with their pushcarts full of onions and bad music,

who sat in boxes breathing in the darkness under the bridge, and rose up to build harpsichords in their lofts,

who coughed on the sixth floor of Harlem crowned with flame under the tubercular sky surrounded by orange crates of theology,

who scribbled all night rocking and rolling over lofty incantations which in the yellow morning were stanzas of gibberish,

who cooked rotten animals lung heart feet tail borsht & tortillas dreaming of the pure vegetable kingdom,

who plunged themselves under meat trucks looking for an egg,

who threw their watches off the roof to cast their ballot for Eternity outside of Time, & alarm clocks fell on their heads every day for the next decade,

who cut their wrists three times successively unsuccessfully, gave up and were forced to open antique stores where they thought they were growing old and cried,

who were burned alive in their innocent flannel suits on Madison Avenue amid blasts of leaden verse & the tanked-up clatter of the iron regiments of fashion & the nitroglycerine shrieks of the fairies of advertising & the mustard gas of sinister intelligent editors, or were run down by the drunken taxicabs of Absolute Reality,

who jumped off the Brooklyn Bridge this actually happened and walked away unknown and forgotten into the ghostly daze of Chinatown soup alleyways & firetrucks, not even one free beer,

who sang out of their windows in despair, fell out of the subway window, jumped in the filthy Passaic, leaped on negroes, cried all over the street, danced on broken wineglasses barefoot smashed phonograph records of nostalgic European 1930s German jazz finished the whiskey and threw up groaning into the bloody toilet, moans in their ears and the blast of colossal steamwhistles,

who barreled down the highways of the past journeying to each other’s hotrod-Golgotha jail-solitude watch or Birmingham jazz incarnation,

who drove crosscountry seventytwo hours to find out if I had a vision or you had a vision or he had a vision to find out Eternity,

who journeyed to Denver, who died in Denver, who came back to Denver & waited in vain, who watched over Denver & brooded & loned in Denver and finally went away to find out the Time, & now Denver is lonesome for her heroes,

who fell on their knees in hopeless cathedrals praying for each other’s salvation and light and breasts, until the soul illuminated its hair for a second,

who crashed through their minds in jail waiting for impossible criminals with golden heads and the charm of reality in their hearts who sang sweet blues to Alcatraz,

who retired to Mexico to cultivate a habit, or Rocky Mount to tender Buddha or Tangiers to boys or Southern Pacific to the black locomotive or Harvard to Narcissus to Woodlawn to the daisychain or grave,

who demanded sanity trials accusing the radio of hypnotism & were left with their insanity & their hands & a hung jury,

who threw potato salad at CCNY lecturers on Dadaism and subsequently presented themselves on the granite steps of the madhouse with shaven heads and harlequin speech of suicide, demanding instantaneous lobotomy,

and who were given instead the concrete void of insulin Metrazol electricity hydrotherapy psychotherapy occupational therapy pingpong & amnesia,

who in humorless protest overturned only one symbolic pingpong table, resting briefly in catatonia,

returning years later truly bald except for a wig of blood, and tears and fingers, to the visible madman doom of the wards of the madtowns of the East,

Pilgrim State’s Rockland’s and Greystone’s foetid halls, bickering with the echoes of the soul, rocking and rolling in the midnight solitude-bench dolmen-realms of love, dream of life a nightmare, bodies turned to stone as heavy as the moon,

with mother finally ******, and the last fantastic book flung out of the tenement window, and the last door closed at 4 A.M. and the last telephone slammed at the wall in reply and the last furnished room emptied down to the last piece of mental furniture, a yellow paper rose twisted on a wire hanger in the closet, and even that imaginary, nothing but a hopeful little bit of hallucination -

ah, Carl, while you are not safe I am not safe, and now you’re really in the total animal soup of time -

and who therefore ran through the icy streets obsessed with a sudden flash of the alchemy of the use of the ellipsis catalogue a variable measure and the vibrating plane,

who dreamt and made incarnate gaps in Time & Space through images juxtaposed, and trapped the archangel of the soul between 2 visual images and joined the elemental verbs and set the noun and dash of consciousness together jumping with sensation of Pater Omnipotens Aeterna Deus

to recreate the syntax and measure of poor human prose and stand before you speechless and intelligent and shaking with shame, rejected yet confessing out the soul to conform to the rhythm of thought in his naked and endless head,

the madman bum and angel beat in Time, unknown, yet putting down here what might be left to say in time come after death,

and rose reincarnate in the ghostly clothes of jazz in the goldhorn shadow of the band and blew the suffering of America’s naked mind for love into an eli eli lamma lamma sabacthani saxophone cry that shivered the cities down to the last radio

with the absolute heart of the poem of life butchered out of their own bodies good to eat a thousand years.



























































II




What sphinx of cement and aluminum bashed open their skulls and ate up their brains and imagination?

Moloch! Solitude! Filth! Ugliness! Ashcans and unobtainable dollars! Children screaming under the stairways! Boys sobbing in armies! Old men weeping in the parks!

Moloch! Moloch! Nightmare of Moloch! Moloch the loveless! Mental Moloch! Moloch the heavy judger of men!

Moloch the incomprehensible prison! Moloch the crossbone soulless jailhouse and Congress of sorrows! Moloch whose buildings are judgment! Moloch the vast stone of war! Moloch the stunned governments!

Moloch whose mind is pure machinery! Moloch whose blood is running money! Moloch whose fingers are ten armies! Moloch whose breast is a cannibal dynamo! Moloch whose ear is a smoking tomb!

Moloch whose eyes are a thousand blind windows! Moloch whose skyscrapers stand in the long streets like endless Jehovahs! Moloch whose factories dream and croak in the fog! Moloch whose smoke-stacks and antennae crown the cities!

Moloch whose love is endless oil and stone! Moloch whose soul is electricity and banks! Moloch whose poverty is the specter of genius! Moloch whose fate is a cloud of sexless hydrogen! Moloch whose name is the Mind!

Moloch in whom I sit lonely! Moloch in whom I dream Angels! Crazy in Moloch! Cocksucker in Moloch! Lacklove and manless in Moloch!

Moloch who entered my soul early! Moloch in whom I am a consciousness without a body! Moloch who frightened me out of my natural ecstasy! Moloch whom I abandon! Wake up in Moloch! Light streaming out of the sky!

Moloch! Moloch! Robot apartments! invisible suburbs! skeleton treasuries! blind capitals! demonic industries! spectral nations! invincible madhouses! granite cocks! monstrous bombs!

They broke their backs lifting Moloch to Heaven! Pavements, trees, radios, tons! lifting the city to Heaven which exists and is everywhere about us!

Visions! omens! hallucinations! miracles! ecstasies! gone down the American river!

Dreams! adorations! illuminations! religions! the whole boatload of sensitive bullshit!

Breakthroughs! over the river! flips and crucifixions! gone down the flood! Highs! Epiphanies! Despairs! Ten years’ animal screams and suicides! Minds! New loves! Mad generation! down on the rocks of Time!

Real holy laughter in the river! They saw it all! the wild eyes! the holy yells! They bade farewell! They jumped off the roof! to solitude! waving! carrying flowers! Down to the river! into the street!









III




Carl Solomon! I’m with you in Rockland

where you’re madder than I am

I’m with you in Rockland

where you must feel very strange

I’m with you in Rockland

where you imitate the shade of my mother

I’m with you in Rockland

where you’ve murdered your twelve secretaries

I’m with you in Rockland

where you laugh at this invisible humor

I’m with you in Rockland

where we are great writers on the same dreadful typewriter

I’m with you in Rockland

where your condition has become serious and is reported on the radio

I’m with you in Rockland

where the faculties of the skull no longer admit the worms of the senses

I'm with you in Rockland

where you drink the tea of the breasts of the spinsters of Utica

I’m with you in Rockland

where you pun on the bodies of your nurses the harpies of the Bronx

I’m with you in Rockland

where you scream in a straightjacket that you’re losing the game of the actual pingpong of the abyss

I’m with you in Rockland

where you bang on the catatonic piano the soul is innocent and immortal it should never die ungodly in an armed madhouse

I’m with you in Rockland

where fifty more shocks will never return your soul to its body again from its pilgrimage to a cross in the void

I’m with you in Rockland

where you accuse your doctors of insanity and plot the Hebrew socialist revolution against the fascist national Golgotha

I’m with you in Rockland

where you will split the heavens of Long Island and resurrect your living human Jesus from the superhuman tomb

I’m with you in Rockland

where there are twentyfive thousand mad comrades all together singing the final stanzas of the Internationale

I’m with you in Rockland

where we hug and kiss the United States under our bedsheets the United States that coughs all night and won’t let us sleep

I’m with you in Rockland

where we wake up electrified out of the coma by our own souls’ airplanes roaring over the roof they’ve come to drop angelic bombs the hospital illuminates itself imaginary walls collapse O skinny legions run outside O starry-spangled shock of mercy the eternal war is here O victory forget your underwear we’re free

I’m with you in Rockland

in my dreams you walk dripping from a sea-journey on the highway across America in tears to the door of my cottage in the Western night



San Francisco, 1955-1956








Footnote to Howl




Holy! Holy! Holy! Holy! Holy! Holy! Holy! Holy! Holy! Holy! Holy! Holy! Holy! Holy! Holy!

The world is holy! The soul is holy! The skin is holy! The nose is holy! The tongue and cock and hand and asshole holy!

Everything is holy! everybody’s holy! everywhere is holy! everyday is in eternity! Everyman’s an angel!

The bum’s as holy as the seraphim! the madman is holy as you my soul are holy!

The typewriter is holy the poem is holy the voice is holy the hearers are holy the ecstasy is holy!

Holy Peter holy Allen holy Solomon holy Lucien holy Kerouac holy Huncke holy Burroughs holy Cassady holy the unknown buggered and suffering beggars holy the hideous human angels!

Holy my mother in the insane asylum! Holy the cocks of the grandfathers of Kansas!

Holy the groaning saxophone! Holy the bop apocalypse! Holy the jazzbands marijuana hipsters peace peyote pipes & drums!

Holy the solitudes of skyscrapers and pavements! Holy the cafeterias filled with the millions! Holy the mysterious rivers of tears under the streets!

Holy the lone juggernaut! Holy the vast lamb of the middleclass! Holy the crazy shepherds of rebellion! Who digs Los Angeles IS Los Angeles!

Holy New York Holy San Francisco Holy Peoria & Seattle Holy Paris Holy Tangiers Holy Moscow Holy Istanbul!

Holy time in eternity holy eternity in time holy the clocks in space holy the fourth dimension holy the fifth International holy the Angel in Moloch!

Holy the sea holy the desert holy the railroad holy the locomotive holy the visions holy the hallucinations holy the miracles holy the eyeball holy the abyss!

Holy forgiveness! mercy! charity! faith! Holy! Ours! bodies! suffering! magnanimity!

Holy the supernatural extra brilliant intelligent kindness of the soul!





Berkeley 1955

 
Autor
Xavier_Zarco
 
Texto
Data
Leituras
14533
Favoritos
0
Licença
Esta obra está protegida pela licença Creative Commons
6 pontos
6
0
0
Os comentários são de propriedade de seus respectivos autores. Não somos responsáveis pelo seu conteúdo.

Enviado por Tópico
Caopoeta
Publicado: 23/04/2013 15:22  Atualizado: 23/04/2013 15:22
Colaborador
Usuário desde: 12/07/2007
Localidade:
Mensagens: 1988
 Re: "Howl", de Allen Ginsberg (Tentativa de tra...
este uivo já passou pelas minhas mãos,
já faz tempo.
gostei imenso de o ler novamente. faz falta gente assim por aqui.
fazes falta nesta casa de "luto".

abraço camarada.

Enviado por Tópico
Xavier_Zarco
Publicado: 23/04/2013 21:13  Atualizado: 23/04/2013 21:13
Membro de honra
Usuário desde: 17/07/2008
Localidade:
Mensagens: 2207
 Re: "Howl", de Allen Ginsberg (Tentativa de tra...
Camarada,
Falta certamente que não faço, aqui ou em outro lado qualquer, mas este poema faz falta, sem dúvida, este ou as produções, por exemplo, do Pround ou do Eliot ou do Kerouac ou do... Brecht ou do Ungaretti ou do Pavesi ou do... enfim, julgo que entendeste. Não te agradeço a leitura, que esta não foi muito certamente indiferente, mas agradeço o comentário.
Um abraço
Xavier Zarco

Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 19/06/2013 10:04  Atualizado: 21/03/2015 12:43
 .
.

Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 19/06/2013 13:04  Atualizado: 19/06/2013 13:04
 Re: "Howl", de Allen Ginsberg (Tentativa de tra...
Não somente aqui nem noutro lugar estão todas as lições para se ter a poesia mais próxima do entendimento, tampouco tudo que precisam ledores, escritores e poetas interessados e ávidos em saber de literatura, amadores ou não. Mas, inegavelmente, comprova-se no seu post, o esmero com que tratas a poesia e a força com que a faz representar na Língua Portuguesa... É assim que se pode aprender todos os dias respeitá-la, sem precisar imitá-lo e nem ninguém...

Agradeço a partilha, Zarco, cumprimento-o pelo bem que fazes a poesia. Respeito, sobretudo, quem não desperdiça o saber, com coisas vãs, compromisso que se pode notar advindo do seu tino de editor, ledor e poeta... Então; permita-me cumprimenta-lo com as palavras que se seguem;

O poema não tem plano. Escrevo meio cego. É uma descoberta passo a passo, algo que vai sendo revelado a mim mesmo a cada momento. Eu nunca presto atenção no modo como construo um poema. O poema para mim é a grande aventura de como fazer. Costumo dizer que,(...) quando vou escrever um poema, a página está em branco, e isso significa que todas as possibilidades estão abertas, são infinitas. No momento em que sorteio uma palavra, reduzo as possibilidades, o acaso é menor. Mas não sei o que vai acontecer. O poema é cura, não doença. Escrevo para ser feliz, para me libertar do sofrimento, não para sofrer. É a alquimia da dor em alegria estética. Mesmo quando a coisa é doida, amarga, naquele momento a transformo no ouro que é o poema.”
Ferreira Gullar

Enviado por Tópico
fotograma
Publicado: 19/06/2013 13:34  Atualizado: 19/06/2013 13:34
Colaborador
Usuário desde: 16/10/2012
Localidade:
Mensagens: 1473
 Re: "Howl", de Allen Ginsberg (Tentativa de tra...
consigo entender o valor histórico, a pungência da geração beat

mas esteticamente me parece aquilo que é: crônicas de um viado viciado relatando suas taras e merdas. por que eu deveria me importar?


"who let themselves be fucked in the ass by saintly motorcyclists, and screamed with joy,

who blew and were blown by those human seraphim, the sailors, caresses of Atlantic and Caribbean love,"


o resto segue a mesma linha. Não soa hoje como um soco no estômago, soa exatamente como o mictório do Duchamp ou 4.33" do John Cage: a revolta provocada é supostamente a verdadeira obra de arte. no que arte como essa difere então de uma calamidade natural provocando semelhante alarde?

penso que da mesma forma que "arte" não pode ser só beleza, amor, também não pode ser só soco no estômago, vômito... ao contrário, acho que arte deveria buscar elevar os espíritos, à despeito de um eventual torcicolo...

Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 28/02/2023 10:35  Atualizado: 28/02/2023 10:35
 Re: "Howl", de Allen Ginsberg




Para Carl Solomon*

I

Eu vi as mentes mais brilhantes da minha geração destruídas pela
loucura, famintas histéricas nuas,
a arrastarem‐se na aurora pelas ruas de negros em busca de uma
dose feroz,
gingões de angélicas cabeças ardendo pelo velho contacto celeste
com o dínamo estelar na maquinaria da noite,
que de miséria e andrajos e olhos cavos e alucinados se sentavam
a fumar na penumbra sobrenatural de quartos de águas frias
flutuando pelos cumes das cidades contemplando o jazz,
que esventravam os cérebros aos céus sob a ascensão do metropolitano e viam anjos maometanos ziguezagueando nos telha‐
dos de prédios iluminados,
que passavam pelas universidades com olhos de radiante lonjura
a alucinar o Arkansas e a tragédia à luz de Blake entre os
catedráticos da guerra,
que eram expulsos das academias por demência & publicarem
odes obscenas nas janelas do crânio,
que se agachavam em quartos com a barba por fazer em roupa
interior a queimar dinheiro nos cestos de papéis e a escutar
o Terror através da parede,
que eram filados pelas barbas púbicas quando regressavam via
Laredo com marijuana à cintura para Nova Iorque,
que comiam fogo em pensões esconsas ou bebiam aguarrás no
Beco do Paraíso, a morte, ou batiam com as costas no pur‐
gatório noite após noite,
com sonhos, com drogas, com pesadelos acordados, álcool, pica,
piças, bolas sempre a abrir,
incomparáveis ruas cegas sem saída de nuvens convulsas e relâmpagos na mente galgando aos polos de Canadá & Paterson,
iluminando o mundo todo imóvel do Tempo entre,
solidezes de átrios sob peiote, madrugadas sepulcrais de árvores
verdes de quintais, bebedeira de vinho nos telhados, montras de bairros comerciais a tripar com a moca no semáforo
piscando de néon, vibrações de sol e lua e árvores nos crepúsculos de inverno e vendavais de Brooklyn, vociferações
sobre latas de cinza e lixo e o sopro brando soberano fulgor
da mente,
que se amarravam aos metros para a interminável viagem desde a
Battery ao santo Bronx anfetaminados até ao barulho das
rodas e crianças os trazer à terra convulsos de bocas escoriadas e esfolados de cérebro todos escorridos de brilho à
fera luz da estação terminal do Zoo,
que se afundavam a noite toda à luz submarina de um Bickford’s
daí flutuando e ficando pela tarde de cerveja choca no triste
Fugazzi’s, escutando o estrondo do Juízo Final na jukebox
de hidrogénio,
que falavam sem parar setenta horas dos parques aos apartamen‐
tos ao bares ao Hospital Bellevue ao museu à Ponte de
Brooklyn,
um batalhão perdido de conversadores platónicos saltando o gradeado das escadas de incêndio dos parapeitos de janelas do
Empire State além da Lua,
patati‐patateando gritando vomitando sussurrando factos e memórias e anedotas e tripes oculares e choques elétricos dos
hospitais das cadeias das guerras,
intelectos inteiros regurgitados em recordação total durante sete
dias e noites de olhos brilhantes, carne para a Sinagoga ati‐
rada à calçada,
que desapareciam para a Terra do Nunca da Nova Jérsia Zen dei‐
xando um rasto de ambíguos postais ilustrados da Assem‐
bleia Municipal de Atlantic City,
sujeitando‐se aos suores orientais e aos ossos triturados em Tân‐
ger e às enxaquecas na China sob uma ressaca de droga no
quarto desmobilado de Newark,
que deambulavam em círculos à meia‐noite pelos depósitos das
locomotivas incertos sobre onde ir, e iam, sem corações
despedaçados atrás de si,
que acendiam cigarros em vagões vagões vagões resvalando pela
neve para solitárias fazendas na noite do avô,
que estudavam Plotino Poe São João da Cruz telepatia e cabala‐
‐bop visto que o cosmos vibrava instintivamente aos seus
pés no Kansas,
que vagueavam sozinhos pelas ruas de Idaho buscando anjos ín‐
dios visionários que eram anjos índios visionários,
que se julgavam apenas loucos quando de Baltimore dimanava
um êxtase sobrenatural,
que saltavam para dentro de limusinas com o chinês de Oklahoma
no impulso da chuva invernal dos lampiões na meia‐noite
provinciana,
que se espraiavam famintos e solitários por Houston buscando
jazz ou sexo ou sopas, e iam atrás do deslumbrante latino
para conversar sobre a América e a Eternidade, uma tarefa
inútil, pelo que embarcavam para África,
que desapareciam nos vulcões do México sem deixar nada para
trás senão a sombra de umas jardineiras de ganga e a lava e
a cinza da poesia pelo braseiro de Chicago,
que reapareciam na Costa Oeste a investigar o FBI de barbas e
bermudas com grandes olhos pacifistas tão sensuais na sua
pele morena a estender folhetos incompreensíveis,
que queimavam buracos de cigarros nos braços a protestar contra
a tabágica neblina narcótica do Capitalismo,
que distribuíam panfletos Supercomunistas na praça pública de
Union Square lacrimejando e despindo‐se enquanto as sire‐
nes bombásticas de Los Alamos os desalmavam, reverbe‐
rando nos muros de lamentações de Wall Street, e também
a balsa de Staten Island se lamuriava,
que se debulhavam em lágrimas em ginásios brancos nus e tre‐
mendo diante da maquinaria dos outros esqueletos,
que mordiam o pescoço de agentes da polícia e guinchavam de
prazer nos carros da polícia por não cometerem crime que
não fosse a sua própria pederastia e intoxicação a fervilhar
de loucura,
que uivavam de joelhos no metro e eram arrastados pelo tejadilho
a acenar com genitais e manuscritos,
que deixavam que motociclistas devotos lhes comessem o cu e
urravam de alegria,
que chupavam e eram chupados por esses serafins humanos, os
marinheiros, carícias de amor atlântico e caribenho,
que pinocavam de manhã de tarde nos jardins de rosas e na relva
dos parques públicos e dos cemitérios espalhando livremen‐
te o sémen a quem calhasse vir,
que soluçavam sem parar a tentar rir mas acabavam a ganir por
trás dum biombo num banho turco quando o anjo louro &
nu chegava para os trespassar com uma espada,
que perdiam os namorados para as três velhas megeras do destino,
a megera zarolha do dólar heterossexual a megera zarolha
que pisca o olho do ventre e a megera zarolha que se senta
somente com o cuzinho quente e tece os fios de ouro inte‐
lectuais do tear artífice,
que copulavam em êxtase e insaciáveis com uma garrafa de cerve‐
ja uma miúda amorosa um maço de cigarros uma vela e
caíam da cama, e continuavam pelo soalho até ao corredor e
acabavam a desmaiar na parede com uma visão derradeira de
cona e esperma fintando o último fluido fértil da consciência,
que melavam as pássaras de um milhão de miúdas estremecentes
ao pôr do sol, e de manhã tinham os olhos vermelhos mas a
postos de melar a pássara da aurora, de nádegas ao léu de‐
baixo dos celeiros e nus dentro do lago,
que andavam ao ataque pelo Colorado numa miríade de carros
noturnos roubados, Neal Cassady, herói secreto destes poe‐
mas, garanhão e Adónis de Denver — recordação de prazer
das suas inúmeras trepas de miúdas em baldios vazios &
saguões de cafetarias, filas estreitas das salas de cinema, no
cume dos montes em grutas com empregadas de mesa es‐
canzeladas na vulgar ascensão de roupinhas interiores à
beira da estrada & solipsismos especialmente secretos de
lavabos de bombas de gasolina, & ainda nos becos da cida‐
de natal,
que se esvaíam em imensos filmes sórdidos, se mexiam em so‐
nhos, despertavam numa súbita Manhattan, e agarravam em
si para fora de caves ressacados de impiedosas zurrapas e
horrores de sonhos de ferro da Terceira Avenida & tropeça‐
vam para os guichés do desemprego,
que caminhavam toda a noite com os sapatos cheios de sangue nas
docas cobertas de neve aguardando que se abrisse uma por‐
ta no East River para um quarto cheio de vapor quente e
ópio,
que criavam grandiosos dramas suicidas nas margens de fragas de
apartamentos do Hudson sob o holofote bélico do clarão
azul da Lua & terão um dia as cabeças coroadas de louros
no oblívio,
que comiam o ensopado de borrego da imaginação ou digeriam os
caranguejos do fundo enlameado dos rios da Bowery,
que choravam com as românticas ruas com os seus carrinhos de
mercearia cheios de cebolas e má música,
que se deixavam ficar sentados em caixotes a respirar nas trevas
debaixo da ponte, e acordavam para construírem cravos
temperados nos seus lofts,
que tossiam no sexto andar de Harlem coroados de chamas sob o
tísico céu rodeados de teologia em grades de laranjas,
que rascunhavam pela noite fora embalados de rock and roll com
louvores às alturas que na manhã amarela eram estrofes mal
paridas,
que cozinhavam animais podres pulmão coração patas cauda
borscht & tortillas sonhando com o reino da pureza vegetal,
que mergulhavam sob os camiões do talho à procura de um ovo,
que atiravam os seus relógios do telhado para depositarem votos
para a Eternidade fora do Tempo, & lhes choverem desperta‐
dores em cima das cabeças todos os dias da década seguinte,
que cortavam os pulsos três vezes consecutivas sem sucesso, de‐
sistiam e se viam obrigados a abrir lojas de antiguidades
onde julgavam estar a envelhecer e choravam,
que eram queimados vivos nos seus fatos inocentes de flanela na
Madison Avenue por entre rajadas de versos de chumbo &
a barulheira enlatada dos férreos regimentos da moda & os
guinchos de nitroglicerina das mariquices da publicidade &
o gás de mostarda dos editores sinistros e inteligentes, ou
eram atropelados pelos táxis embriagados da Realidade Ab‐
soluta,
que saltavam da Ponte de Brooklyn coisa que realmente aconte‐
ceu e desandavam de lá desconhecidos e esquecidos na ne‐
blina espectral dos becos de sopas & de carros de bombeiros
da Chinatown, nem sequer uma cerveja de borla,
que se punham em desespero a cantar à janela, caíam da janela do
metropolitano, saltavam para o imundo Passaic, pulavam
sobre os negros, gritavam por toda a rua, dançavam descal‐
ços sobre copos de vinho em cacos rebentavam discos de
grafonola de jazz alemão nostálgico dos anos 30 acabavam
com o whiskey e vomitavam a grunhir na retrete maldita, os
ouvidos cheios de lamentações e de tremendas sirenes de
vapor,
que desciam a toda a brida as estradas largas do passado viajando
para o turno da cela solitária de velocidade e estrondo e Gól‐
gotas uns dos outros ou encarnação de jazz de Birmingham,
que viajavam pelo país fora setenta‐e‐duas horas sem parar para
descobrir se eu tinha uma visão ou se tu tinhas uma visão ou
se ele tinha uma visão para descobrir a Eternidade,
que viajavam para Denver, que morriam em Denver, que volta‐
vam para Denver & aguardavam em vão, que olhavam por
Denver & amuavam & se isolavam em Denver e por fim se
iam embora para descobrir o Tempo, & Denver tem agora
saudades dos seus heróis,
que caíam de joelhos em catedrais sem esperança a rezar pela
salvação e a luz e os peitos uns dos outros, até que a alma
iluminava o cabelo por um segundo,
que torpedeavam por dentro das suas mentes na prisão à espera de
impossíveis criminosos de douradas cabeças e o encanto da
realidade nos seus corações e que cantavam doces blues a
Alcatraz,
que se retiravam para o México para cultivar um hábito, ou para
as Montanhas Rochosas para servir a Buda ou para Tânger
a rapazes ou para a Southern Pacific à negra locomotiva ou
para Harvard a Narciso ou para o cemitério de Woodlawn à
última floração ou morada,
que exigiam exames de sanidade acusando a rádio de hipnotismo
& eram abandonados à sua insanidade & às suas mãos & a
um júri incapaz de consenso,
que atiravam salada de batata aos conferencistas de dadaísmo da
Universidade de Nova Iorque e subsequentemente se apre‐
sentavam nos degraus de granito do manicómio com cabe‐
ças rapadas e um discurso suicida arlequinado, exigindo
uma lobotomia instantânea,
que recebiam ao invés o vazio concreto de Metrazol insulina ele‐
tricidade hidroterapia psicoterapia terapia ocupacional pin‐
guepongue & amnésia,
que protestando com mau humor derrubavam uma só simbólica
mesa de pinguepongue, repousando por instantes catatónicos,
regressando anos mais tarde absolutamente calvos à exceção de uma
peruca de sangue, e lágrimas e dedos, à visível perdição dos
loucos dos quartos hospitalares das loucas cidades do Leste,
os corredores fétidos dos manicómios de Pilgrim State e Rockland
e Greystone, gotejando com os ecos da alma, embalando‐se
de rock and roll nos domínios notívagos de dólmenes e ban‐
cos de solidão do amor, sonho de vida de um pesadelo, cor‐
pos transformados em pedra tão pesados como a Lua,
com a mãe finalmente ******, e o último livro lunático atirado da
janela do pardieiro, e a última porta fechada às quatro da
manhã, e o último telefone lançado à parede em resposta e o
último quarto mobilado despido até ao último pedaço de mo‐
bília mental, uma rosa amarela de papel retorcida num cabide
de arame no armário, e também isso era só imaginário, nada
além de um bocadinho esperançoso de alucinação —
ah, Carl, enquanto não estiveres a salvo eu não estou a salvo, e
agora nadas realmente na canja absoluta do tempo —
e que por conseguinte corriam pelas ruas cobertas de gelo obceca‐
dos com um brusco vislumbre da alquimia do uso das reti‐
cências da enumeração da métrica & do plano vibratório,
que sonhavam e abriam brechas incarnadas no Tempo & Espaço
por meio de imagens justapostas, e encurralavam o arcanjo
da alma entre 2 imagens visuais e juntavam os verbos ele‐
mentares e uniam o substantivo e o travessão da consciência
galgando com a sensação de Pater Omnipotens Aeterne Deus
para recriarem a sintaxe e medida da pobre prosa humana e se
levantarem à vossa frente sem palavras e inteligentes e a
tremer de vergonha, rejeitados e todavia confessando toda a
alma para se conformar ao ritmo do pensamento na sua ca‐
beça nua e interminável,
o louco vagabundo e anjo na batida do Tempo, uma incógnita,
todavia deixando escrito aqui o que talvez fique por dizer no
tempo por vir depois da morte,
e reencarnados se erguiam nas roupas espectrais do jazz na som‐
bra da trombeta dourada da banda e sopravam o sofrimento
da mente nua da América pelo amor até um grito saxofónico
de eli eli lamma lamma sabacthani que arrepiava as cidades
até ao último rádio
com o coração absoluto do poema da vida retalhado da carne dos
seus próprios corpos bom para comer durante mil anos.







*Carl Solomon (1928 – 1993), a quem o poema é dedicado, foi um dadaísta do Bronx que escreveu poesia em prosa.