Samedi,13
Uma branca alourada encapsulada num modelito justo preto de lycra. Apressada como todas elas são, falando ao celular e nem prestou atenção no poeta em pé no meio da porta a observa-la com um olhar de águia caçadora – lembrava-lhe da sua eterna e querida Dona Van nos tempos áureos dos loucos amores no inicio de suas relações, há trinta anos atrás ainda no Desterro. Good times!
Hoje mais solitário que poste telegráfico no meio do deserto, o poeta sem esperanças, vaga a esmo nas suas memorias em busca de efêmeros momentos felizes que um dia viveu. Refugia-se na sua minguada e esfomeada poesia que não escreveu, o poema ainda o espera em alguma esquina do tempo – o poeta tenta renascer das cinzas como uma fênix – apreensivo em viver a sua terceira idade, o temor de uma doença terminal, uma nova perspectiva de realizar alguns de seus sonhos – tipo morar num espartano quarto no centro antigo, onde nascera e se criara, e onde residira por quase trinta anos na grande casa grande paterna da rua Afonso Pena, Desterro.
“Sou um desterrense? Não um desterrado”
Final da manhã – rua dos cabarés em ebulição.
- Agora vou vender fiado pro bonito – disse arrogantemente Charmille com sua cara de gorila filé mignon – Tai, o congelador lotado, R$ 314 reais de mercadoria para dar para os outros.
Seu Pedro, pedreiro das antigas, parente do ex-vigia aposentado Seu Raimundo Zarolho como chamava-lhe o pai de Gaspar, o saudoso Dudu apenas ouvia sorvendo a sua breja e ouvindo Gregory Isaacs - balanço sua cabeçorra afirmativamente. O poeta nas suas cinco castanhas e a caminho das seis ( cinquenta a sessenta reais), pasmem de doses fiadas diárias.
A rua 17 ou a dos cabarés como chamava-a a irrepressível senhora Vince aquecia-se ao sol morno das onze. Charmile mas inflamado que peito de gorila contentem dois clientes sorviam cervejas nas suas mesas. As habitués Loca e sua parceira, a morena grandona que o poeta queria exportar para o bairro da lâmpada vermelha em Amsterdam, Holanda – faturar em euros bebem no José Son, depois de saírem da Dona Rose, a mulher do prequitão – no momento fundearam-se no Bar do Finado Bispo. Cibacoca, antigo fornecedor dos ovos cozidos do comandante de olho na churrasqueira. O cheiro convidativo de carne assada. O comandante LaSierra no celular, louco para atingir a meta diária de cinquenta reais.
Começo da tarde.
O poeta um pouco acima do chão. Seu Baixinho ainda na luta para rebocar a parede lateral do terraço – doses e mais doses. Ajuntou no lixo de Zeca, o verdureiro, cebolinha verde que pica e acrescenta na sopa de ontem. Deu uma boa barricada e um banho em seguida e com um real voltou ao Lasierra para encher outro copo e trazer para a pensão e degusta-la deitado. As habitués completaram o circulo e bebem no seu Raimundo em frente ao LaSierra. -a pesca não está muito boa para elas.