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HOLOFOTES

 
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...os retrógrados estandartes púrpuro-doirados da intolerância, pois estes sempre se acalentaram no som dos coturnos marchando..."




Quando foi instalada a CPI para apurar delitos cometidos por narcotraficantes e quadrilhas especializadas, seu objetivo era claro e absolutamente necessário: apurar a atuação das quadrilhas, descobrir suas ligações, denunciar e punir. As CPI, no entanto, parece que se deixaram seduzir pelos holofotes e pelo espaço conseguido na mídia para travestirem-se de modernos Torquemadas. Este agia movido pela convicção que os hereges poderiam destruir a Igreja Católica. Aqueles, ao que parece, movidos pela autoconvicção que a polícia pode desestabilizar o equilíbrio da ordem constitucional, passarem a promover um verdadeiro tribunal da inquisição, ignorando princípios básicos do processo jurídico e das garantias constitucionais do cidadão. Os modernos inquisidores não podem mascarar a própria impotência sob o manto da legalidade, utilizando-se de meios que chegam a lembrar os métodos dos inquisidores de outrora que tiveram no início, somente a função de julgar as pessoas acusadas de heresias, mas extrapolaram. Estabeleceram a censura elaborando listas de livros que, em seu entender, “atentavam contra a fé e a moral”, com o chamado index livrorum proibitorum: o índice dos livros proibidos. Passaram a perseguir as minorias, principalmente os judeus. Instituíram os autos de fé, o julgamento pelo ordálio, fórmula de obtenção de prova no processo de então na qual aquecia-se uma barra de ferro e o acusado era obrigado a segura-la com as mãos nuas, invocando a atuação de Deus. Se tivesse as mãos queimadas pelo ferro ardente, era considerado culpado. Se por uma eventualidade, o ferro não queimasse a carne do miserável, era considerada uma intervenção demoníaca e considerado culpado de bruxaria, sendo levado à fogueira. Na inquisição moderna, um policial, convocado como testemunha, era obrigado a depor, publicamente, com microfones e câmaras de televisão, sem assistência de defensor e poderia sair diretamente para a cadeia. Se confessasse a culpa, era imediatamente preso. Caso calasse, era preso por recusar-se a responder as perguntas.
Uma imagem favorável perante a sociedade pode ser obtida não só com trabalho como se espera, mas também com muita propaganda. A mídia vende tudo, até imagens. Em nome da liberdade, da manutenção da democracia e dos valores que ela nos introduziu jamais se poderá regredir aos tribunais da inquisição, aos julgamentos pelo ordálio e mais recentemente à caça as bruxas que se verificou nos Estados Unidos, na década de cinqüenta. Justamente lá, que hoje auto-intitula-se defensores da liberdade mundial com direito a intrometerem-se em todos os paises do mundo quer queiram ou não ser lá chamados. O MacCartismo é exemplo contundente do que pode ser feito em nome da liberdade. Mais próximo temos os anos de chumbo da ditadura tupiniquim, onde generais formados na escola das Américas saíram do Panamá para por em prática os conceitos aprendidos com instrutores americanos, período em que se consagraram, entre outros desserviços, a censura da imprensa e da liberdade de expressão artística e intelectual, privilegiando também o patrulhamento ideológico de organizações conservadoras. Esses movimentos, ao título de preservar a religião, a integridade da família e a manutenção da propriedade, protegiam o regime da época, controlando os que a ele tentavam se opor. Tomara que as atuais CPI, inebriadas pelas luzes da ribalta que acendem todas as vezes que massacram policiais, não se deixem seduzirem e não tragam a tona mais uma vez, em nome da perfeita aplicação da justiça, os retrógrados estandartes púrpuro-doirados da intolerância, pois estes sempre se acalentaram no som dos coturnos marchando.



" ...descrevo sem fazer desfeita,
meu sofrer e meus amores
não preciso de receita
muito menos prescritores."




 
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LuizMorais
 
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Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 28/10/2014 02:53  Atualizado: 28/10/2014 02:53
 Re: HOLOFOTES
Excelente!