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AUSTROLOPITHECUS

 
Tags:  SONETOS 2010  
 
AUSTROLOPITHECUS

Tenho andado com quatro patas: Sim
Quatro patas no chão!... Como se houvesse
Decidido por bem regredir. Esse
Insólito fenômeno que, por fim,

É desevolução... Ainda assim,
Rompi o ciclo em que se nasce, cresce
Reproduz-se e morre... Tudo parece
Querer se rebelar dentro de mim!

Semovente, já vou seguindo ao léu
Os meus últimos dias sobre a Terra
Sem nem sequer sonhar com qualquer céu.

Enfim, dos sucessores os sucessos
Admiro enquanto minha trilha encerra:
Mesmo bípedes, andam aos tropeços!

Betim - 02 11 2010



Ubi caritas est vera
Deus ibi est.


 
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RicardoC
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Enviado por Tópico
RicardoC
Publicado: 04/10/2015 01:31  Atualizado: 04/10/2015 01:52
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 Re: AUSTROLOPITHECUS
O mais curioso deste soneto para mim -- além do tema cientificista, é claro -- é o uso da técnica do "transbordamento de versos e de estrofes" conhecida pelo termo francês "enjambement". O uso desse recurso denota, para mim ao menos, certa urgência e mesmo confusão do personagem que conduz o discurso poético, no caso, alguém que se compara a um austrolopithecus...

Apesar de ter ficado de fora da linha evolutiva, inclusive por não conseguir ser sempre bípede e tampouco desenvolver o suficiente seu cérebro, nosso parente primata contempla quase indiferente a extinção de sua espécie enquanto admira o franco desenvolvimento dos homus erectus-após-sapiens.

É isto.

Abraços, Ricardo Cunha.