Poemas : 

As minhas confortáveis botas de sebo

 
Puxei o lustro às botas
Para disfarçar as solas rotas...
Esfreguei-as com vigor
Com uma meia velha
Devedora de dias ao lixo.
Atarefado com este labor,
Untando a esquerda e direita em parelha,
Dei comigo de olho fixo
Num atacador
Que passava pelas ilhoses
Todo retorcido
E já muito sarrafado,
Tanto, que estava quase partido.

Aos anos que as tinha
E continuava a usá-las
E a tratá-las
E a guardá-las
E a usá-las
E a tratá-las
E a guardá-las
E a usá-las...

Valdevinoxis


A boa convivência não é uma questão de tolerância.


 
Autor
Valdevinoxis
 
Texto
Data
Leituras
1682
Favoritos
0
Licença
Esta obra está protegida pela licença Creative Commons
3 pontos
3
0
0
Os comentários são de propriedade de seus respectivos autores. Não somos responsáveis pelo seu conteúdo.

Enviado por Tópico
lucibei
Publicado: 28/12/2006 23:49  Atualizado: 28/12/2006 23:49
Super Participativo
Usuário desde: 01/10/2006
Localidade:
Mensagens: 138
 Re: As minhas confortáveis botas de sebo
Gostei!...Tens estilo, mesmo com as solas rotas...deve ser por estarem brilhantes da graxa.
Estilo despretencioso, mas bem escrito. Muito agradável.
Beijo

Enviado por Tópico
João Filipe Ferreira
Publicado: 29/12/2006 00:32  Atualizado: 29/12/2006 00:32
Colaborador
Usuário desde: 08/10/2006
Localidade: Lavra-Matosinhos
Mensagens: 1046
 Re: As minhas confortáveis botas de sebo
heheheh
gostei caro poeta...continue a dar graxa para continuar a caminhar neste mundo das letras!!
parabens pela sua inspiraçao:)

Enviado por Tópico
Junior A.
Publicado: 29/12/2006 14:09  Atualizado: 29/12/2006 14:21
Colaborador
Usuário desde: 22/02/2006
Localidade: Mg
Mensagens: 890
 Re: As minhas confortáveis botas de sebo
É meu caro.
De certo que pode ser ignorância de minha parte. Mas cá, não vejo graxa como beleza, apenas disfarça.
Vejo sebo.
E para que serve?
Para seder o couro, o mesmo que faz da bota, castigo para os pés que abraçam.
Trata-las seria unta-las, para que um dia quem sabe, deixe de machucar os pés de um caminheiro, que carece de um abraço aos pés, para prosseguir a labuta do existir, enquanto ainda não vive.
Talvez por isso hoje são confortáveis.

Introspectivo, de sentido dúbio, o que creio ser o teu intuito, justamente para essa diversidade de opiniões. Mas gostei de imaginar ao ler-te, fora isso que o teu quadro pincelou em mim.

Mui bueno