Melancolia
Como definir essa onda de vaga tormenta,
Espiral de languidez e morte
Aspirando atos finais de trágicos emblemas
Nos mausoléus de ermos pensamentos ?
O amor a esse sofrimento evoca
Abortos mal sucedidos de tragédias recentes
Em cicatrizes extensas acima do céu
Percorrendo solitários devaneios.
Selado no túmulo abraçado ao olhar
De incoercível revolta contemplo
O nascimento de chagas nas mãos
Comprimindo inuteis laços corrediços
Que sangram farpas de partidos ossos.
Vestida de Sol
Numa busca desesperançosa
Pelo mais sombrio pântano
Foi com surpresa e espanto
Que eu percebi a aurora
Entre as copas da vegetação
Entre as mais vis feras
Você me lembrou como era
Valiosa a iluminação
Na escuridão do lamaçal, um farol
Guiava-me como uma estrela
Atraindo e salvando pela beleza
Encontrei você vestida de Sol
Poema em homenagem a uma amiga inteligente e espirituosa que conheci.
Desejada paz
A melancolia que a alma oprime
Deixa um vazio enorme e doloroso
Onde a própria existência é um crime
E o corpo, um recipiente tenebroso.
É encontrar os segredos mais obscuros
Nas trevas da solidão mortal,
Injetados pelos medos puros
Que curam as feridas com sal.
Na escuridão a dor ingrata fustiga
Esperando, o que o futuro traz,
Tendo a morte como única amiga
Que promete a desejada eterna paz…
José Coimbra
Maldita saudade
Ainda sinto a sua presença
Na indiferente madrugada,
Uma luz de esperança
Na solidão da almofada…
Ainda sinto o seu calor
Do seu irresistível abraço,
Mas só restou a maldita dor
Na penumbra do cansaço.
Ainda oiço a sua voz
Tão doce e serena,
Mas a saudade é atroz
E à agustia me condena…
Ainda chamo o seu nome
Entre a escuridão da cama
Pois a agonia me consome
Como uma inapagável chama.
Um amanhã não sei se haverá
Mas esta noite a irei visitar,
Não sei o que acontecerá
Mas com ela quero ficar…
Como é a vida sem ela
Mas com um gesto trémulo
Coloco a rosa negra, a mais bela
Sobre o seu túmulo…
José Coimbra
Honestidade
Tudo que se pode chamar de ternura, ficou no passado
Sob um céu de vinho tinto cor de veludo na noite turva
Ah, é tudo tão longe! É uma estrada só de acumular pó
Sobre minha história de ave de arribação mal explicada
Pela insônia tresnoitada dos pedaços de vida não vivida
A aurora rescende a rostos cheirando água de colônia
Lembrança de tantas ausências, de minutos esquecidos
A taça com um resto de vinho permanece no aparador
Simbolizando tudo aquilo que poderia ser e se esqueceu
Ou que a dor antiga confundiu fazendo não mais desejar
Onde foram os sonhos em que deitamos nossa esperança
Quais desvios que aceitamos no caminho sem o perceber
Sob quantas camadas secretas que se oculta a felicidade
Haverá alguma promessa que um dia se fará para cumprir
Um dia deixaremos de dizer coisas que podem machucar?
Saiba que depositei minha franca confiança no que dizias
Foram só mentiras que usaste apenas para me afastar
Porém nós sabemos que mentir trará um preço a ser pago
E eu devo te contar que esse preço é sempre alto demais
Queria te fazer feliz e fostes escravizada pela solidão
Sou poeta e todo poeta pode ter algo de triste, mas nunca infeliz
Morre-se à noite, se renasce na intransferível dimensão da manhã
Monica
Tantalizado martírio, rastejante absorvo cinzas do turíbulo onde são desfeitos restos de ascendência degenerada,
Ínnfimas lembranças vagas da Pátria Lusa,onde tu habitas,
No longo hausto de flébil paixão,cultuada tão distante,
Lágrimas de incontida torva,febril amor.
Gostaria de transpor esses limite de mar profano,
Embora apenas em contemplar-te dedicando minha alma,considere empíreo sortilégio,
Absorvendo a odílica influência da lua em sensibilidade acurada,
Feito talentos funestos e sensuais que detens com maestria.
Minha fronte ebúrnea desmanchada no espelho Cercado pela luzes acesas nas ruínas
Acalentam as sombras que movem-se na solidão,messe de infortúnios e traumas recorrentes,
Estes que apagam-se quando o desejo consome últimas forças e tombado tal Anelliese possuída Busco refúgio no chão onde atiro sangue em profundas pancadas,
Desejando apenas estar ao seu lado antes de finalmente cessar a pulsação desta latejante dor percorrendo braços cansados,
Em veias e artérias desfiguradas na magreza cruamente exposta em penumbra de mortalha erguida.
Diafaneidade fantasmagórica caminha trôpega,
Até o quarto onde o retrato santificado traz alento e deslumbre,
Repousando em tua beleza ímpar,na intemerata singularidade etérea,
Afrodite de cinzentos nuances abençoa-me com atenção de modesta sinceridade quando curvo-me reverente,
diante do amor que floresce,graças a ti rosa sombria de doces palavras,
Posso fugir do abismo colossal,patológico,diagnosticado em voz impessoal,
De surras,anseios decompostos e humilhações
esvaindo-se feito pó de túmulos violados
Quando o Paraíso feito delicado anjo sombrio,Musa gótica de negro vestido,escreve,admirando-me.
Sonho com beijos que jamais terei em tons delineados com volúpia soturna,
Inerente a toda aquela que porta qualidades únicas
concedendo motivos de veneração,
Em edênicos momentos que valeriam por cada minuto,
transcedendo a eternidade e qualquer outra dádiva,nada pode mesmo comparar-se,
Penso que teus braços aconchegantes e carinho tornariam suaves os prantos de minhas tantas chagas,em miríades de romances transmutados na colossal dedicação e afeto,
no mais idealizado e real,intenso sentimento,amo-te!
Quando a última chama sumir nas trevas de depressão e agonia,
Lembre-se de mim como aquele que sacrificaria infinita existência
para estar próximo, ainda que por parcos momentos
sorvendo graças e felicidade irreprimível em teus lábios,
Glorioso feito ascensão de Satan reconquistador abatendo arcanjos covardes,
E declarando esta paixão a maior das virtudes.
Chama medieval
Chegada ao teu rosto,
Esta era uma chama sem história,
Quase perfumada,
Que não gerava expetativas,...
Esperava-se por um fogo que ajudasse a embalar livros antigos,
E precisasse de alguma água para que as pessoas pudessem evoluir,
Deixassem de considerar imoral as faces imprecisas de um amor que se exprime por si próprio,
Sem lufa-lufas impessoais,
Apenas com roupas de rubras gargalhadas que deixassem ao expoente inalcancavel,
Tudo o que há por explicar em textos monolíticos como este,
Sem fendas,...
Percebendo que seria um rosto adormecido,
Aligeirado de forma quase socrática no escuro,
Acomodo-me num mundo acamado apenas pelo atraso nas experiências,
Aclamado à minha maneira silenciosa
Teu trono
“Ela esconde a sua verdadeira forma
No espelho que tudo transforma,
Iluminado pelas tremidas velas,
Esperando pelo sinal das estrelas…”
As estrelas dançam no céu
E deixas cair o teu negro véu
Para lua iluminar a tua branca pele.
Os segredos serão drenados
E serão ridicularizados e revelados
Pelo teu sorriso sensual e cruel.
As candeias iluminam o negro jardim
E o grandioso trono de marfim
Nesta noite que o sol não renascerá.
A esperança torna-se em lamento
Que é levado pelo frio vento
Nesta noite em que a lua reinará.
O instinto é ignorado e selado,
E, a inocência torna-se em pecado
Nesse trono em que és a rainha.
O sorriso transforma-se em oração
E a oração em tentação
Nesta noite em que serás minha…
José Coimbra
Wonder
o meu destino choveu
sobre ti,
a razão,
as coisas explicadas,
tudo enclausurado em pequenas
caixas sem cor,...
não há crenças mais fortes
que as que nos fazem dormir,
sem vontade de acordar,
se to dissesse,
renovarias uma defesa
incondicional,
incrustada na solidão,...
e parava o filme de
monólogo,
que não cessava
de passar em mim
Voz
não se sentia confortável com
a voz,
da que está untada numa pele,
o silêncio inchava como um filho
indesejado,
havia inoculações de sombra por entre
as paredes descontruídas
de qualquer abrigo,...
amontoavam-se palavras como
se de mosquitos da morte se,
tratassem,
e o refúgio fosse aquele resguardo
de tabique,
numa parede que iria ruir,
de velha,....
a voz doía,
ainda assim,
menos que a soma de todas
as exclamações