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amorte

 
bateu à porta, gélida a mão que se estende, toc-toc, levanto-me para abrir e juro a pés juntos que será a última vez que deixo o calor dos cobertores, caminho com o passo descompassado que adivinha o desamor que ocupa o espaço, tu repousas ainda agarrado ao tanto que somos como se fosse possível repousar sossegado com este frio que se sente. dói qualquer coisa que nunca entendi o que é, dói e arrefece tudo o que nos vai dentro, de tal forma que nos congela o coração, glaciar. abro e caio, bato com as costas no chão de madeira, a cabeça parte o vaso de rosas que me ofereceras à dois dias, desconheço-me e tudo em mim estala.
acordo, a face vermelha de sangue já seco, levanto-me ainda meio tresloucada e vou até ti, não me ouviste chamar? tu não respondes e um arrepio inunda o meu corpo, caminho tonta até à casa-de-banho, lavo a cara, olho o espelho, limpo a cara e vou até ti, quero estar certa de que dormes sossegado, desligo o televisor, não me sabe bem o silêncio que se sente no ar, não te sinto. deito-me ao teu lado, estás gelado, grito o teu nome na solidez da quietude, não respondes e eu caio sobre o teu corpo como uma viúva certa, congelam-se lágrimas na minha face e os lábios trémulos sentem o beijo da morte.

falar da tua morte não me assusta:
bateu à porta, entrou, levou-te e eu nada pude fazer.
digo-te que dói como doem todas as coisas que nos deixam tristes,
digo-te que a nossa história sempre terá um final feliz.



. façam de conta que eu não estive cá .

 
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Margarete
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Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 23/05/2008 21:24  Atualizado: 23/05/2008 21:24
 Re: amorte/Margarete
Olá,

já te tinha dito que tens uma criatividade generosa? Se não te tinha dito, digo-te agora. Tens!!!

(e por favor não me morras, que eu já comprei o barquito e estava a contar contigo para comprares a bomba de pedal)


Enviado por Tópico
Alemtagus
Publicado: 23/05/2008 23:48  Atualizado: 23/05/2008 23:48
Membro de honra
Usuário desde: 24/12/2006
Localidade: Montemor-o-Novo
Mensagens: 3100
 Re: amorte p/ Margarete
Choro perante a macieza com que tratas a morte no seu leito, como a aceitas como certa. Realmente dói.
Lembra-te de acordares amanhã com mais um sorriso e no dia seguinte igual, pois o teu sorriso é tão belo quanto as tuas palavras.

Beijo