Cascais é nome duma tarde calma,
Duma vila quente, duma dor ausente.
Cascais ardente, sem se ver vivalma,
Manhã sombria, dia incandescente.
Chegaste tu. Atravessaste a rua,
Trânsito parado, como fosses nua.
Cascais suspirou, de vida suspensa,
Cascais eras tu, e tu, imensa.
A vida pára. Cascais, vacila.
O teu vestido ondula. O teu olhar cintila.
As ondas estacam, pela velha praia,
E a areia pasma, a maré desmaia.
Calam-se os pássaros, não se ouve o mar,
O sopro do vento, ninguém a velejar.
Todos se concentram num único olhar,
E, dum só folego, vêem-te passar.
Tu passas veloz, sem tomares noção,
Do sofrimento alheio, de todo este tormento.
Repensada mãe entrega a vida ao vento,
Repensado pai ao cais, e ao turbilhão.
E finalmente enfrento a dor da minha alma,
E finalmente falo com a mulher distante,
E o que que digo faz, para meu grande espanto,
Pairar esta paixão, pairar uma paz calma.
Olho-a nos olhos, encontro-a no cais,
E morro num olhar, azul, como Cascais!