Uma paixão
Amo-te tanto,
Desejo-te tanto,
Espero-te tanto,
E tu meu bem querido
Não apareces,
Não vens ao meu encontro,
Nada me falas,
Nem ao menos um sinal,
Já não sei mais
Se me amas,
Se me queres,
Se me esperas,
E sentes saudades.
Pois, enquanto isso
Fico cá com esta ansiedade
E espera que é eternidade
Nesta falta de ti
A inquietar-me os sentidos
Em meu segredado amor
No silêncio da minha saudade
Sabido somente pelos céus
Que compadecidos testemunham
Minha agonia e minha dor.
( Amália Dias)
Canto de amor
Eu dormia, mas meu coração velava.
Eis a voz do meu amor.
Abri-me a porta minha querida,
Minha cabeça está coberta de orvalho.
Abri a porta ao meu amor,
Mas ele já se tinha ido embora,
Procurei-o e não o encontrei,
Chamei-o e ele não respondia.
Pelas ruas pus-me a vagar,
E pedi a quem o encontrar,
Que lhe descessem por favor,
Cá estou enferma d’amor.
Meu amor é forte e corado,
Distingue-se entre tantos,
Seus cachos, negros com o corvo,
Seus olhos são como pombas.
Seu corpo estátua de bronze,
Suas mãos, maciez de plumas,
Altivo e imponente de rara beleza,
Sua boca é cheia de doçura.
Seus lábios são lírios,
Suas faces, jardim perfumado,
Tudo nele é encanto,
Assim é o meu amado.
(Amália Dias
Flores e espinhos
Saudades minhas,
Que são só minhas,
Plantadas no meu jardim,
Regadas com minhas lágrimas,
Dissabor sem fim...
Jardim de tanta espera,
Espera que é eternidade,
Escondida no silêncio,
Entre flores e espinhos,
Das minhas saudades!
Tuas flores, teus espinhos,
Trazem-me as recordações
Das alegrias, das tristezas,
Das conquistas e fracassos,
Dos meus sonhos e ilusões...
(Ana Amália Dias Nobre)
Aprendi a aprender
Aprendi com anjos especiais:
A fazer do mundo um lugar melhor,
Acreditar nos sonhos,
Pensar nas pessoas ao meu redor.
A apreciar as coisas simples da vida,
Ser paciente e saber ouvir,
Chorar e sorrir.
Aprendi que o verdadeiro amor
É sem preconceitos e pretensões
Onde não há o egoísmo,
Mas a pureza dos corações.
A valorizar cada segundo de existência
Cada dia é uma nova experiência,
A conviver com as diferenças.
Vibrar com as conquistas,
Lançar novo olhar para a vida,
Vencer limites,
Superar desafios.
Ouvir e valorizar cada ser,
Amar e à mão estender,
Aprendi a aprender.
(Amália Dias)
Hoje trago tristezas
Hoje trago tristezas nos olhos
Sinto-me humilhada e por
Todos pisada.
Não somente pela incompreensão,
Mas também pela malícia
D’alguns.
Cruel mesmo são os julgares
De tantos e os aleives
Sobre mim.
Esmagador são os olhares atravessados
Que transpassam minh’alma
Já abatida.
Amargo é o desprezo silencioso
A gelar-me de tanta frieza
Ai, solidão.
Mas encontro consolo e conforto
Na esperança da verdade
Que um dia virá.
(Amália Dias)
Meu silêncio
Meu silêncio,
Vazio e tormento,
Saudade, lamento,
Do que se foi,
Sem ter sido.
Recolhido num gemido,
Contido, escondido,
Sentido, chorado,
Lembrado, amado,
Desejado, querido.
Onde é que foste?
Por que não voltas?
A prender-me ao peito?
E levar-me contigo?
Onde quer que vás?
Não sabes que sofro?
Com a falta de ti?
Amofino, perco o brilho,
Mas desabrocho se me olhas,
Se me prendes e abraças.
(Amália Dias)
Nasce o novo dia
Nasce um novo e belo dia
Alumiado pelo sol da justiça
A se levanta no céu do firmamento
Aos deixados à margem
Excluídos e oprimidos.
E Hasteada é a bandeira
Branca , soberana da paz
Entre povos e nações
Assolados por conflitos
E nos aflitos corações.
A generosa mãe terra
Presenteia seus filhos
Com seus frutos e dons
A fartar tantas mesas
Escassas de comunhão e pão.
(Amália Dias)
"Partida"
Triste foi o dia,
Dia em que partiste,
Que de mim se despediste,
Deixando-me triste a soluçar.
Em teu veleiro saíste
A navegar pelo mar,
Meus olhos que a ti seguiam,
Já não amais te viam.
Minha alma sem ti ficou estranha,
Ao ver-me só naquela praia,
Deserta, e como eu soltaria,
A dor foi-me tamanha.
Respirar não podia,
Faltava-me o ar,
De ver-te cruzar,
O horizonte daquele mar.
Naquele eterno instante,
Minha alma ainda errante,
Em meu xaile se envolveu,
E meu coração aqueceu.
Imóvel defronte a este mar,
Estou a ti esperar,
Para quando voltar,
Em meu xaile te enlaçar,
Prender e te amar.
(Amália Dias)
Lágrimas
Lágrimas que molham o rosto,
E também lavam a alma,
Que aliviam-nos os desgostos,
E fazem sentir-nos melhor.
Lágrimas de alegria,
De chegadas e de partidas,
De tristezas desmedidas,
Desabafo de nossas feridas.
Lágrimas de saudades,
De esperas e solidão,
Que cego nossos olhos,
Quando nos aflora a emoção.
Há também as reprimidas,
De todos bem escondidas,
D’amores segredados,
Ai, são as mais doloridas.
(Amália Dias)
Tu és meu desatino
Tu és meu desatino
Minhas noites mal dormidas,
Minha poesia mal formada,
Sem sentido , desordenada.
Meus gemidos escondidos,
Meus ais mais sofridos,
Nas noites mais escuras
Meu delírio de loucura.
Meu destino fadado,
Meu castigo e pecado,
Meu suspiro dobrado.
Minha lágrima reprimida,
Meu anjo de candura,
Minha paixão aguda.
(Amália Dias)