Poemas, frases e mensagens de JoanaM

Seleção dos poemas, frases e mensagens mais populares de JoanaM

Para um amigo

 
Carta a um amigo

Escrevo esta carta à alma que me sustenta. Escrevo esta carta ao ombro amigo onde já tenho depositado lágrimas de saudade. Escrevo esta carta ao sorriso humano, imperfeito como todos, e mesmo assim divinal. Escrevo esta carta à companhia de muitas horas, minutos, segundos. E preciosos instantes.
Peço-te, não companhia para sempre mas para sempre a tua companhia. Peço-te as mais belas piadas, para que eu, só contigo, possa rir quando o mundo desabar sobre mim. Conta-me histórias de heróis que venceram tudo e todos, lutando pelo que queriam, defendendo o que acreditavam, e eu acredito que a nossa amizade é eterna.
Dá-me a certeza de que nunca me deixarás sozinha, fica comigo, mesmo que eu não queira. Fica presente, não te transformes em mais uma amizade ausente.
Fica até o sol nascer, poderás ficar até ele desaparecer? Não me fujas, não me escapes por entre os dedos como já fracos grãos de areia me escaparam, não me desapontes, não me pregues nenhuma rasteira para eu não cair num choro silencioso.
Dá-me um abraço, um longo e profundo abraço, e diz-me que não te esqueces de mim. Faz-me acreditar que posso contar contigo. Protege-me da chuva e do vento que teimam em fazer-me cair. Mostra-me que a amizade é intemporal, mostra-me que consegues fazê-lo a alguns quilómetros de distância. Faz-me ter saudades tuas, para que possa voltar a pensar em ti, e escrever mais um pouco. Para que possa pensar em ti, e sorrir mais um pouco. Para que possa falar de ti e dizer: “Ele é meu amigo”.

Porque as amizades vêm e vão... Mas as palavras ficam.
 
Para um amigo

Já não me pertences

 
Eu pensava que te tinha. Que te tinha... Aqui, reconfortado nos meus braços; lá, prendido aos meus pensamentos; longe, livre mas agarrado; calado, mas surdo pelas saudades que gritavam aos teus ouvidos. Pensava que bastaria qualquer palavra para te fazer voltar a mim, qualquer sussurro para que um arrepio te despertasse do teu sono inconsciente, qualquer canção entoada com a voz de quem gosta e de quem sempre quer mais. Pensava...
É como sentir a tua mão sobre o meu ombro, mesmo sabendo que já não estás. É como sentir um quente abraço teu, quando sei que tenho agora o corpo nu, ao vento. É como sonhar que te olho nos olhos, quando à minha frente apenas tenho vazio. É como sentir que ainda te tenho, quando sei que isso foi de outra vida. Transformas o meu riso num choro compulsivo, numa sensação de solidão imaculada, num fogo apagado, ainda com o ténue cheiro a fumo.
Fui andando, por essa estrada fora, sem ligar à tua sincronização forçada com os meus passos. Fui caminhando, porque te queria, mal ou bem, ao meu lado; porque precisava, a cada momento, da tua respiração quente no meu pescoço, do teu abraço sentido, dos teus olhos que me percorriam o corpo e que, quando se fixavam nos meus, me faziam sentir que tudo estava bem. Às vezes, ficava sozinha, durante a noite, sentada na minha cama, a olhar o vazio, a desejar a tua companhia, pelo menos a tua voz, a imaginar o reencontro fugaz dos nossos corpos cansados, mas habituados. Ficava pensativa, até que a buzina de um carro apressado, que vagueava na rua escura, me despertava destes pensamentos alheios. Acordada. Ainda o estou. Sonhando ingenuamente com esses dias confusos.
 
Já não me pertences

"Eu sou a simplicidade"

 
Vê-la caminhar de pés descalços sobre a rua lamacenta é algo que me reconforta.
Traz posto um vestido branco de algodão, fino e discreto, que se assemelha a um grande e liso lençol. Ela não se importa com a chuva que encharca os seus finos ombros, ao contrário dos demais que enchem Lisboa, barafustando contra o tempo sem tempo, enquanto se atropelam uns aos outros, fartos da chuva e de si mesmos. Tapam o rosto com os chapéus-de-chuva, a alma com a hipocrisia.
Ela não. Vai caminhando lentamente, alheia aos berros e à chuva intrometida; sem pressa, mas de passo graciosamente decidido, como se já soubesse de véspera a pedra da calçada que iria pisar. Caminha sem esforço, dos seus olhos correm lágrimas, da sua boca nasce um sorriso e ela, vivendo a sua própria existência, continua.
E caminha.
Os bancos ferrugentos cravados no jardim abandonado emanam agora um cheiro a Primavera, a flores esquecidas e ingénuas, ao invés do cheiro de inverno cansado e sujo que neles habitava antes de ela lá se sentar, meditando e sorrindo, vendo a vida com a graça que ela tem.
Tem mil anos de existência, mas não se parece importar com as rugas vincadas na sua pele frágil. Tem os olhos cansados de tudo o que já viu, e mesmo assim, ainda expectantes de um outro lado – o melhor, o puro, o belo.
E caminha.
Pisa a areia da praia como que pela primeira vez. As ondas tenebrosas do mar escuro curvam-se perante si, em sinal de respeito, ficando depois reduzidas a pequenas gotas de espuma, que a areia absorve, da mesma maneira que ela absorve o cheiro do mar. O vento, que serve de música para a dança ritmada das velhas árvores, envolve-a num turbilhão de cores e toques, beija-lhe a face com a mesma doçura de uma criança. Ela sente e respira. Inspira tudo o que a vida lhe dá, expirando depois tudo aquilo que da vida não guardou. Enterra as recordações na areia, na profunda humidade da Terra, esperando os segundos até que sejam embaladas pelo sal das gotas de água. Vira as costas, dá um passo.
E caminha.
Vem despedir-se de mim. Eu, que sempre me escondi atrás da Natureza que tanto a respeita, fui agora olhada por ela, com aqueles olhos doces e saudosos que nunca quis enfrentar. Disposta a tudo agora, deixo-me envolver num abraço familiar que, mais uma vez, dissipa a chuva e convida os tímidos raios de sol.
- Quem és tu, que tanto significas? – pergunto.
Numa voz suave e fugitiva, oiço:
- Eu sou a Simplicidade. Um pouco mais envelhecida talvez, mas nunca consegui ter o dom de parar o relógio. Os minutos transformados em dias que depois foram abraçados pelos anos foram desfilando ao meu lado, numa linda procissão. Eu? Eu fui transformando o pior no mais belo, o mais complexo no mais puro. A simplicidade das coisas difíceis está nos olhos com que as olhamos, na mão com que lhes tocamos. Abraço-te agora na esperança que consigas ser única, que ames, que deixes voar os teus pensamentos como estes meus fracos cabelos esvoaçam com o vento. Deixa nascer na vida as coisas mais simples – as que já conheces e as que nunca imaginaste. Sê livre. Simplesmente livre.

Ver-te caminhar foi talvez das coisas mais simples que já vi. Foi também das mais belas a que assisti. Não choro, tentando sorrir. Só que sorrir tornou-se hoje um bocadinho mais complexo do que imaginava.

(Para a minha Avó Materna)
 
"Eu sou a simplicidade"

Caminho infinito

 
Entrelacemos as mãos, caminhemos pela beira-mar, sentindo o vento primaveril cantar-nos ao ouvido, desafiar-nos os cabelos de sal. Deixemo-nos assim, exagerados, a flutuar numa nuvem de extremos e de limites, pintada de cal, onde a saudade nos adormece de todo e qualquer vago rancor.
Abraçemo-nos, meu amor, porque quem abraça esquece e quem esquece, sente. Sintamos cada fugaz batida dos nossos corações domesticados, habituados e rendidos às brincadeiras do tempo. Beijemo-nos, refugiemo-nos nos braços um do outro, deixemos os nossos sentidos anestesiados pela força de tanto querer. Saltitemos por entre as conchas, atiremos pedras cinzentas ao mundo de espuma e ondas, à espera que o destino nos dê resposta à pergunta que nos acorda todas as manhãs.
Não nos cansemos, porque cansar é demais. E tudo o que é demais, cansa. Talvez se continuarmos a caminhar possamos chegar lá, ao nosso escudo protector, que nos trará a paz que um dia deixámos fugir. Talvez...
Olhemo-nos nos olhos, sem pestanejar. Deixemos as recordações cegarem-nos o presente e impedirem-nos de pisar o futuro. Vivamos no passado, então. Vivamos na paixão nocturna e rebuscada em que nos formámos. Nas horas vagas em que adormecemos, sonhando com o adeus. Temos o sol à nossa frente, tão quente. Queima. Meu amor, tu não sabes que o sol acende o pavio da areia, a fogueira da tristeza, a fatalidade de assim sermos, como somos, sem estarmos como queremos ser, sem sermos como queremos estar. Acende e pinta de mil cores diferentes o rasto do ardor. Tu não sabes, porque não me deixaste segredar-to ao ouvido.
Deixemo-nos ir então, na vibração do riso, na dança da tranquilidade. Rasguemos os ventos do Norte, do Sul, de cá e de lá, de dentro e de fora. Rasguemos friamente, porque deles não queremos saber. Talvez tu queiras, meu amor, continuar a guiar-te por esse cheiro longíquo? Esqueçamos isso, e tudo o que nos prende, soltemos as rédeas do bem-querer, amemos e tornemos a amar, cada um de nós, sublime, prendido ao encanto um do outro.
Fiquemos acomodados, esperemos a lua. Ela chega, eu sei que chega... Silenciosa, matreira, familiar e cheirosa. Traz sempre com ela fitas coloridas, faz-nos cócegas na cabeça, inspira-nos mais uma vez. Cantemos para que possamos adormecer, só o corpo. A alma, essa, nunca dorme, brinca com a lua. Brinquemos, brinquemos, porque se já não sabemos de que somos feitos, não podemos viver a sério. Se já me esqueci de que me roubaste a alma e viciaste o corpo. Se já me esqueci de que tu és tu, e de que eu me perdi em ti. Se já me esqueci de que levei o teu sorriso até mim, e o adormeci entre os braços.
Não sei o que fizeste. Nunca quis saber. Guardei a fotografia tirada à nossa paisagem, mas tu teimaste em rasgá-la em mil pedacinhos iguais. Todos iguais. Chorei. E tu fizeste o vento deixar voar os teus rasgos à volta da minha cintura. Disseste, amor, que nós poderíamos viver numa festa silenciosa. Não acreditei. Se a alma não se ri, porque havíamos nós de celebrar, mesmo que baixinho?
Não sei, amor. E ainda não quero saber. Caminhemos então. Alheios aos ponteiros, ao tic-tac estonteante, ao comboio rápido, à vida que não nos escolheu. Caminhemos. Ou corramos, se quiseres. Finjamos então ter pressa, para enganarmos as horas. Para eu te enganar, contar-te uma doce mentira, fingir que não quero saber. Ah, nunca quis! Nunca gostei! Acreditas meu amor?
Se eu não acredito e teimo em fingir que sim!
Não pares, deixa, não sorrias. Não digas que estás cansado, não não! A lua está quase aí. Eu sei que está. Vem, se já andámos tudo isto. Não sabias pois não? Olha para trás, para as nossas pegadas imorredoiras. Elas não se cansam de existir. Ficam vincadas na areia com a mesma agilidade com que as folhas de calendário foram voando. Não vês?

Vem. O nosso caminho ainda não chegou ao fim.
 
Caminho infinito

Estado de tempo.

 
O tempo cansa como a chuva, rasgada em pequenas embalagens que se quebram quando tocam o chão. O tempo, também esse se quebra quando me toca, aqui estendida, à espera que (por mim) passe.
O tempo é a dor perdida na rua escura, são quatro estações, é a lágrima de alguém que ficou à espera eternamente. É o grito abafado de um relógio que não anda, mas que mesmo parado tem razão duas vezes por dia.
O tempo é uma fadiga.
(Quanto tempo falta?)
 
Estado de tempo.

Não sei.

 
Não sei porque te amo.
Nunca te quis amar
Nunca quis pensar em ti e,
Soluçando,
Sentir o abandono das palavras
Num olhar.
Não sei porque olho para os teus olhos.
Nunca quis perder-me no lago verde
Selva profunda penetrada por dois clarões
De energia cansada.
Não sei porque te quero,
Qual é a razão de te guardar todos os dias debaixo da cama
E à noite, no silêncio escuro,
Dar-te a mão para ver se ainda lá estás?
Não sei porque desisto.
Se habituada estava às lutas diárias
De me esconder do mundo aos teus olhos.
Não conheço o vento.
Não conheço o vento que te levou os cabelos
Onde todos os dias pousava a mão cansada
De virar páginas da nossa história.
Não sei
De ti, de mim e de nós.
E das músicas que cantavas para a cidade
No telhado, debaixo do luar
Fingindo que cantavas para mim.
Não sei dessas músicas, apesar de ecoarem
Todos os dias na sala vazia da minha saudade.
E de andarem...
De correrem...
De se esconderem no outro lado do mundo, onde tu vives feliz.
Feliz com a infelicidade de já não nos termos.
De já não nos pertencermos.
Não sei porque te amo, não sei.
Ignoro a razão de alimentar tal força que
Inocente, me leva o coração
A cada segundo que morre na minha mente.
Não sei porque rasgo as tuas fotografias,
E, vendo a saudade de saber que sorrias
Pensar que são meros papéis velhos espalhados pelo chão.
Não sei.
Não abandono esta raiva de odiar o amor que ainda sinto por ti.
Não sei porque te amo e,
Porque te odeio tanto,
Não sei.
 
Não sei.

Sento e Sinto

 
Sento-me no chão como se o corpo não fosse meu, como se a minha alma se debatesse contra mim mesma dentro de mim. Sento-me no chão porque chove, e a chuva cai leve nos ombros como as lágrimas caem no rosto. Chove porque o mundo hoje é triste e amanhã terá que sorrir. Por isso choro. E deixo a chuva cair.
Sento-me no chão imundo e fico à espera que chegues, para te sentares a meu lado. Sinto a chuva e quero que a sintas também. Sinto-me em ti, porque me sinto bem.

Sinto-me em ti, porque me sinto bem
Sento-me aqui porque não está mais ninguém.
 
Sento e Sinto