Poemas : 

… gelados, os lagos e os gestos

 
Choro a tua boca verde de mim
e os teus olhos ausentes das maças do rosto,
em orifícios ocos, escavados a bisturi
no sangue a fumegar de quente.

Choro a saudade latente em cada vaga -
vaga-lume incendiária, na colina acidulada,
da tarde burilada nas costas das nossas vidas.

Das crostas, as feridas e o infecto pungente
que nos assola cães vadios na tibieza das pernas,
no desapego de um vento.

Na caserna desabrigada borbulham-se
rituais orgânicos, em águas afogueadas
de vulcões entorpecidos.

… gelados os lagos, de tão salgados.

Petrificados, amado, todos os meus gestos
na submissão sonâmbula,
na vassalagem do verbo incerto, no aposto,
no oposto e no imposto, de um eco
que não chega,
que não é brisa, nem afago,
nem tão pouco carícia retribuída,
no tacto de quem, por medo, partiu,
quando o anil do céu em luz se abriu
e a noite do dia amanheceu.

Choro a minha boca verde de ti
nas raízes apodrecidas de uma árvore
que robusta, não nasceu.


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Autor
Mel de Carvalho
 
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Enviado por Tópico
lucibei
Publicado: 07/07/2007 21:09  Atualizado: 07/07/2007 21:09
Super Participativo
Usuário desde: 01/10/2006
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Mensagens: 138
 Re: … gelados, os lagos e os gestos
Está exuberante este teu poema. Perfeito.
Beijo enorme

Enviado por Tópico
MariaSousa
Publicado: 07/07/2007 23:19  Atualizado: 07/07/2007 23:19
Membro de honra
Usuário desde: 03/03/2007
Localidade: Lisboa
Mensagens: 4038
 Re: … gelados, os lagos e os gestos
Sempre a beleza da tua escrita, Mel.

Bjs