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Sou feliz e nem sabia

 
Sou feliz e nem sabia
 
Mulheres que me perdoem à incongruência nesse dia importante, aonde vão caladas?
Mas depois de ter vivido 6 horas presa num bar na lapa
Com chuva cobrindo os joelhos no primeiro andar
E sem serviço de cozinha e sem almoçar,
Com os garçons evitando a mesa, com três mulheres de perfis completamente diferentes no bar,
Posso declarar:
_ Sou feliz e nem sabia!
Porque mesmo vestida de lilás e com tênis roxo,
Levanto e pergunto em alto tom
Alguém está me vendo aqui?
_ O caldo veio estragado!
E a alagada rua da esquina e quiçá o planeta Terra todo,
Estávamos devidamente presos num bar.
Nessa altura, era um boteco qualquer e só não denuncio o nome,
Porque o Venturini estava lá dentro rindo de mim.
Chamei o garçom e perguntei:
_ Está me vendo aqui?
Conte quantos chopes?
(Obediente disse)- Cinco, pois é, quantas somos na mesa?
_ Três
_ Percebe que eu não estou brava?
Mas estou aqui há três horas e bebi apenas um chope?
Estou com fome, afinal, ontem fui a Búzios declamar poemas em homenagem a Mulher e hoje fiz evento para crianças e familiares de manhã, eu vim aqui para almoçar, já são 9 horas da noite!
E o caldo veio estragado! E o chop nem vem?
A chuva caia torrencialmente em cima do Rio de Janeiro, mas e a infra-estrutura?
- Sou de Brasília, não!
- Sou Mulher
A mesa da vizinhança já está solidária,
Já pediam por nós,
O Antonio, deve ser o dono do bar com certeza, é servido toda hora, e por vários garçons, conseguiu até uma empada de camarão!
Falei com ele:
- ÔÔ dono do bar, dá uma mãozinha aqui!
E o companheiro, já deitado sobre si mesmo, roncava feito o bebê que dormia sem nem saber sequer, o que estava acontecendo no Rio alagado.
As manchetes do jornal Nacional já denunciaram as imagens.
Nós somos o BBB 11, dizia a garoto do lado, num bar sem comida e o chope aguado, com gelo de raízes da poluição na cidade.
As pessoas já colocavam os sacos plásticos nas pernas para sair.
_ E nós?
O Fernando (o garçom) pergunta, o que quer? Vou anotar.
-Água, guaraná, chopes e torradas para espantar a fome.
Vamos ficar, amanhã é domingo, não vamos nos molhar, uma hora a chuva vai embora...Ah!! Será?
Mas e se o bebê acordar mal humorado?
- Temos música ao vivo(comentava o homem do lado, um homem solitário tira a gaita e toca qualquer coisa para espantar o tédio.
A comida aparece, pão nem torrado e catchup.
_ Coloca sal, para a minha pressão subir.
_ Felizes, todos comem a cortesia do bar.
Os garçons já de calças nos joelhos, tentam tirar o lixo dos bueiros. No meio do rio da rua, os ônibus conseguem passar e fazer ondas do mar. As ruas alagadas e sem saída.
O homem de chapéu Panamá está em cima da mesa no andar de baixo, abismado, imóvel...
Um barco viria bem a calhar...
Mas e o amor na noite de sábado?
Ah!!
O amor será prosa de outro conto, porque esse se estendeu demais e a água já abaixou.
E vou correndo para casa antes que o Rio alague de novo,já é madrugada, o amor dorme e perdi a fome,
Mas o bom humor...
Ah!! Isso é que não perco não! Nem por decreto!

Diana alagada na lapa.
Rio de Janeiro, 7 de março de 2010.


Diana Balis

 
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DianaBalis
 
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Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 07/03/2010 21:59  Atualizado: 07/03/2010 22:01
 Re: Sou feliz e nem sabia
Diana! somos felizes sim... li humoradamente sua crônica/conto pois sou também um personagem dela, aliás muitos cariocas são, pelo menos os boêmios. estive no mesmo dia (ontem, sábado) na Lapa, mas acabei indo me afogar na Praça da Bandeira. felizmente lá, apesar da enchente contumaz, pude tomar um caldo verde quentinho, duas cachaças, e perdi a hora e a conta dos chopps tomados; é que lá a água custa a baixar.rs um conto extremamente realista. gostei.

um beijo e afeto poetisa.

Silveira