. façam de conta que eu não estive cá .
a propósito do amor encolheu os ombros. acreditava nas flores, que haviam de nascer para alimentar a primavera, acreditava nas nuvens que haviam de partir para deixar o céu limpo, acreditava no mar que havia de abraçar a terra. mas do amor silêncio no movimento. o corpo está-lhe normalmente só, nas últimas páginas de um qualquer livro inquietante, o dia é sempre amanhã ou ontem, nunca vive o dia certo. sabe que traz bichos dentro da cabeça a alimentar memórias ou invenções destas, histórias felizes para contar mais tarde aos pássaros e aos peixes. acreditava nos pássaros que das migrações regressavam como partiram, o mesmo coração, as mesmas asas; acreditava nos peixes cegos do mundo. acreditava que a qualquer momento ele viria, de dentro das suas mãos para a levar. que todos os regressos se davam quando não esperamos, por isso lia. a propósito do amor deixou o musgo na humidade da boca, cresceram-lhe heras dentro, depois foram embondeiros que lhe nasceram no lugar do coração.