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. façam de conta que eu não estive cá .


a propósito do amor encolheu os ombros. acreditava nas flores, que haviam de nascer para alimentar a primavera, acreditava nas nuvens que haviam de partir para deixar o céu limpo, acreditava no mar que havia de abraçar a terra. mas do amor silêncio no movimento. o corpo está-lhe normalmente só, nas últimas páginas de um qualquer livro inquietante, o dia é sempre amanhã ou ontem, nunca vive o dia certo. sabe que traz bichos dentro da cabeça a alimentar memórias ou invenções destas, histórias felizes para contar mais tarde aos pássaros e aos peixes. acreditava nos pássaros que das migrações regressavam como partiram, o mesmo coração, as mesmas asas; acreditava nos peixes cegos do mundo. acreditava que a qualquer momento ele viria, de dentro das suas mãos para a levar. que todos os regressos se davam quando não esperamos, por isso lia. a propósito do amor deixou o musgo na humidade da boca, cresceram-lhe heras dentro, depois foram embondeiros que lhe nasceram no lugar do coração.




 
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Margarete
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Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 30/03/2010 21:43  Atualizado: 30/03/2010 21:43
 Re: . ...
Adoro a subtileza da tua ironia e a tua paleta de imagens desconcertantes, que nos botam pa pinsar e reflexionar e inbejar.
bjs
nuno

Enviado por Tópico
Nanda
Publicado: 01/04/2010 20:16  Atualizado: 01/04/2010 20:16
Membro de honra
Usuário desde: 14/08/2007
Localidade: Setúbal
Mensagens: 11076
 Re: . ...
Margarete,
pertences a uma nova geração de poetas que muito dignifica a língua Portuguesa.
"mas do amor silêncio no movimento...
"o dia é sempre amanhã ou ontem, nunca vive o dia certo..."
Este medo de se entregar ao amor...
Um beijo menina irreverentemente linda.
Nanda