Poemas : 

a sinuosidade da usura no buraco

 


Aglutinemos nossas almas, talvez possamos dar um pouco de alegria à nossa infindável tristeza.

Lavo a mão que se esgota
E saio na barca para a aurora junto da cabeça
Cantando a tarefa dos homens desesperados
Afogando o passo em cada volta de agua
Órfão do verde em sono
E baloiçando deus no leito
Nu, leito da rua selado
Angustia ou desejo tanto faz
Desde que arranhemos a pele no relento
E gritamos a sinuosidade da usura no buraco
Contamos os dias duas vezes
A noite clara e o dia sol
Duas vezes inocente esta hora
Este espaço de hora que se move na sua própria vontade
A passagem bate nos olhos do poeta no coração
E nos pulmões das costas curvadas
Somos o café
Congestionamos a idade neste momento
E espancamos a lentidão do tempo
Batemos na fertilidade do ar
Nas folhas do morrer hoje
Neste anel de fogo exorbitamos a padeira de coisa alguma
Temos o sexo branco no meandro do sangue
Como escavasse-mos o firme dos nossos remos
Saberemos mais tarde
Que a queimadura na parte exterior da perna esquerda
Vive fragmentos de granito constantes
em bocados sentimentais
E da existência
Partimos as danças ao meio e da garganta dos sapatos
Libertamos as plantas dos pés
A mulher deu-me um livro infantil para a moer
A mão que tocou o seu marfim quente
E a língua que beijou a sua uva canta
Canta as palavras do mar criança
Do velho que coleccionava objectos redondos
O corpo é um peso circular e a ponte é fresca
E prende-se na menina de cabelo amarelo
Amamos a eternidade do vento sul
E a pimenta dos confins da África moderna
Nomeamos as árvores em nosso redor
Bebemos calos do pensamento neste degrau
Transfigura-se a espuma das flores
É o que nos resta na memória saltitar
E por agora somos inacabados
Continuação do encanto jovial
Estamos bem mais gordos quando saímos da rua deitados.





 
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Caopoeta
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Enviado por Tópico
Nanda
Publicado: 15/05/2010 07:11  Atualizado: 15/05/2010 07:11
Membro de honra
Usuário desde: 14/08/2007
Localidade: Setúbal
Mensagens: 11076
 Re: a sinuosidade da usura no buraco
Rogério,
Mais um excelente poema escrito pelo teu "encanto jovial".
Beijo
Nanda


Enviado por Tópico
Caopoeta
Publicado: 15/05/2010 07:30  Atualizado: 15/05/2010 07:30
Colaborador
Usuário desde: 12/07/2007
Localidade:
Mensagens: 1988
 Re: a sinuosidade da usura no buraco
é fácil entender este poema.
nem sei mesmo o que me remete a escrever desta forma..ou porque ou assim;escrever,
queria coisas bem mais fáceis.
queria uma vida normal onde pudesse simplesmente amar as coisas e os homens.
na verdade este poema é tao moderno que nem passado vivido nem o segredo revelado do futuro o pode entender...
destesto esta coisa de escrever assim.
detesto-me como sou.
odeio-me sempre que escrevo coisas desta forma ou de outra...
não há outra forma para escrever e eu estou farto desta "merda" que se chama escrita.


Enviado por Tópico
MariaDeCarvalho
Publicado: 15/05/2010 14:40  Atualizado: 15/05/2010 14:40
Da casa!
Usuário desde: 11/03/2009
Localidade: Suiça
Mensagens: 421
 Re: a sinuosidade da usura no buraco
Eu não acho nada fácil de entender...
Fiquei com dúvidas....

Beijo


Enviado por Tópico
SantosAlmeida
Publicado: 20/05/2010 12:18  Atualizado: 20/05/2010 12:18
Colaborador
Usuário desde: 14/01/2009
Localidade:
Mensagens: 595
 Re: a sinuosidade da usura no buraco
e estamos bem mais magros se não deitados sairmos.

impressionante, depois li o teu comentário, hum, que dizer se sais a toda a hora de casa?
eternamente nem morrer podes! nem sequer viver...

bem, foi um grito contra a tua comodidade e/ou insatisfação?
satisfaz-te assim: não sei bem como mas tu o deves saber, e se não souberes, não sejas outro que não tu, pois o teu mais próximo não está mais próximo, nem longe nem no meio. também não sei onde ele fica/está, mas fica o seu registo algures, ele deve ser intemporal ou merceeiro.
e tu sentes que és escritor/escrita?
então quem é o teu próximo? quem és tu?

olha agora levaste com as perguntas que faço a mim mesma, se te ajudarem a questionar, estou satisfeita.