uma conversa com a mar

falo de uma vida vivida em silêncio. sentida e imaginada – um dia vou deitar uma escada que vai terminar no céu. uma escada em caracol. onde será possível cada um de nós subir – subir por um lado e descer por outro – [conversas. talvez de gente louca(?). és sempre bem-vinda]

beijo alexis

sampaio(r)ego

trazes uma dor sempre tão azul – olho-te nos desesperos. amarro cada palavra como se fosse a última vez que me falasses – corto as mãos para não me poder despentear. quando estou triste afago o cabelo com raiva. esconjuro a dor. coisas que aprendi na primavera – mas desta vez não quero. quero sentir os teus prantos pela coisas da vida ou da morte. quero perceber a fé de que um dia tiveste nas palavras e que te enfeitiçaram com sonhos que ainda não descobriste – um dia sonhei toda a noite. de manhã a cama era uma ilha – foi a primeira ilha que conheci. era criança. mas tinha crescido tanto durante aquele sonho. os cabelos rolavam pelo canto do quarto. tinha-os arrancado durante a noite – compreendi que jamais sairia daquela ilha – quando a perco. pelo desnorte que muitas vezes me encontro. faço outra. ainda com mais gaivotas – acho que estou louco. estou sempre a fazer ilhas – cada vez com menos palavras – um dia farei uma ilha apenas com as lembranças das palavras que existiram no meu olhar.

beijo mar

sampaio(r)ego

nem sei por onde andei esta terça-feira. talvez pelos mesmos sítios que ando hoje – há dias em que apenas caminho. nunca sei os dias da semana – enquanto caminho posso falar comigo. tenho que fazer as pazes entre todos os loucos que vivem dentro de mim. são loucos difíceis. são loucos. mesmo loucos – não sei como este corpo aguenta. estes doidos trabalham dia e noite na busca de mundos que apenas vivem nos sonhos de cada maluco – conheço todos os frios do corpo. ainda na semana passada senti um frio no braço direito. tinha acabado de fazer uma carícia a uma memória que guardo como recordação de uma época em que ainda acreditava nas palavras – o frio tornou-se insuportável. o braço enregelou. o sangue que tinha comprado a um doente terminal de amor paralisou. a escuridão abraçou a omoplata e ao fim da noite o braço tinha caído – talvez fosse lepra – embrulhei-o em papel de embrulho com lustro e com uma fita prata enviei-o ao destino. sem remetente – também tem que sofrer

beijo mar

sampaio(r)ego