Poemas -> Surrealistas : 

CEGAMOS TODOS

 

Caminho por entre escombros e paredes
e arranco aos olhos a ferida, para que possa ver alguma beleza aqui.

Mendigos intransigentes, estendem a mão etérea,
no vazio de nossas consciências e de nossos problemas caseiros.

Muralhas caem, desfazendo castelos antigos,
só nós, que somos pomposos demais, mantemo-nos de pé, ante a peleja.

É que o «coto» é precioso demais e é preciso
procriar e ter descendentes, que sigam nossos passos nos lustrosos vitrais.

Homens sem membros, percorrem a cidade,
com esforço, dirigindo-se para os escritórios, como olhos de mosca.

Estatuetas e quadros, nos pregos das paredes,
exibem, para que todos vejam, a sua glória mumificada e poeirenta.

Aqui só entram os familiares e os filhos incestuosos –
é impossível haver misturas de sangue, só a congeminação é possível.

Estes são os novos patrões, que dão lugar ao imiscível,
e o lápis azul funciona de novo, para rasurar o que não lhes interessa.

É a inquisição no seu mais alto expoente, que
controla os jornais, televisões e rádios, num retrocesso a Salazar.

Jorge Humberto
03/12/10

 
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jorgehumberto
 
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Enviado por Tópico
MarisaSoveral
Publicado: 03/12/2010 20:47  Atualizado: 03/12/2010 20:47
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 Re: CEGAMOS TODOS
Gostei desta visão inóspita! Surreal, mas ainda assim real! Confesso que me lembrei de um romance de José Luis Peixoto!
Saudações,
Marisa