Membro de honra
Usuário desde: 10/08/2010
Localidade: Brasil
Mensagens: 7283
|
 Re: pergunta a quem souber para a Roque Silveira
Oi Roque...
Continuo dizendo que essa é discussão inglória, sem a menor intenção de ser estraga prazeres... rs Mas dou muito mais valor à ela do que parece e louvo a sua pretensão de abrir debate através dela. Porque é preferível fazer uma pergunta simples, porém extremamente filosófica e útil como essa do que publicar tantos outros textos completamente inúteis que aparecem por aqui.
O que quero dizer é que "liberdade" é apenas uma palavra sem voz própria. Não sei de suas raízes etimológicas e nem irei pesquisar para respondê-la, mas provavelmente foi criada para diferenciar o individuo preso ou escravizado daquele que foi liberto. O pouco que conheço é o termo em latim "libertas" que é a condição de homem livre. Agora, veja a gama enorme de outras concepções que os homens deram ao longo da história para essa palavra, além dessa...
A filosofia está com você Roque e prega que o termo não é abstrato, tanto que é tema de debate de todos os grandes filósofos... A busca das "qualidades da liberdade" na filosofia é condição central. Cada filósofo conhecido dá a sua versão "concreta" de liberdade, cada um deles... O meu pensamento é mais romântico e, portanto, sempre tenderá para o subjetivo e menos exato... rs Para mim, jamais cairá para consenso ou concretude o que é interpretação emocional de cada um, inclusive a desses filósofos. Será apenas mais uma discussão infrutífera ou muito frutífera, como queira os olhos de cada um. Querer definições é empobrecer a amplitude do termo, ou seja, uma mera tentativa de exprimir uma situação ou condição que simplesmente não tem fronteiras delimitáveis através de definições consensuais.
Você me pergunta: de que serviria a liberdade se o homem não pensasse? Falamos de qual liberdade? A minha, a sua? Liberdade é para ter serventia? Tudo isso é interpretado com pesos inequânimes e conforme o indivíduo. Quem representa os movimentos do intelecto e revela o pensamento é a palavra. Perceba: cá estamos conversando através delas, não? A palavra necessariamente induz ao erro, veja o exemplo dessa conversa. Talvez você já esteja aí se remoendo com essa argumentação não concordando absolutamente, talvez não, até aceite algo ou tudo. Quem sabe? Porque existe a interpretação que sempre é segundo as nossas crenças.
Quando olhamos um pássaro voando muitas vezes pensamos de forma tão comum, induzidos por nossos conceitos: "Ah, lá vai um pássaro livre a voar!" Nós o tornamos livre por nossas palavras e conceitos e assim o definimos. O pássaro lá saberia pensar, como que dizendo assim para si mesmo: ah, como eu sou livre!(?) O termo é apenas uma invenção para definir o estado interior humano e não o sentimento do pássaro já que o vôo é coisa da experiência dele. A interpretação sim é conforme a compreensão de cada um.
A liberdade não existe como algo independente do homem, daí a necessidade do termo. Interpretações não podem se unir, apenas se somar. Exemplo: Liberdade para um padre é ver-se livre de satanás ou dos pecados, já para o político é falar sobre os direitos do cidadão e a constituição, agora, para o preso encarcerado numa penitenciária é simplesmente estar do lado de fora das grades e por aí vai. Liberdade para uma criança é poder brincar quanto quiser e esse conceito de liberdade vai se alterando até a idade adulta quando termina apenas com a morte. O termo não é definitivo nem para um ser humano em particular, quanto mais defini-lo em conceitos ou qualidades e dar a ele concretude... Desculpe, mas impossível.
Sobre eu dizer que a liberdade total está além-intelecto é porque, poucos percebem, mas o próprio intelecto também tem as suas limitações e não conseguirá imaginar além do seu ambiente material, que é o pensamento. Por isso que digo que se houver consenso para a liberdade, este estará apenas além-intelecto, sob uma forma praticamente transcedental e individual, jamais coletiva. Estamos limitados pelos nossos cinco sentidos, já pregava Kant. Precisaremos ainda de prisão mais inexpugnável do que os sentidos? Ele é o limite da nossa liberdade vivencial...
Obrigado pela oportunidade. Conhecendo sua pessoa pelos seus textos e manifestações neste site como acho que aprendi a conhecer; por seu alto senso de respeito às opiniões de terceiros, senti-me à vontade para expor minhas convicções respeitosamente assim como recebo as suas.
Espero que este complemento elucide meu primeiro comentário que, admito era um tanto "hermético"...rs
Um beijo, Roque. Gê
|