Contos -> Romance : 

Com Sofia só se casa uma vez

 




- Isso é mais uma farsa vulgar! Anedota de botequim ... O que significa tudo isso? Acaso está achando que a noiva iria esperar?
Um torvelinho de indagações emanaram dos lábios de Sofia, fazendo ver aos presentes que mesmo uma mulher bonita quando abria a boca para reclamar podia ensinar palavras e sentidos que jamais pensariam existir.

- Não tinha nada melhor que um ford ka? A noiva é especial, está sendo apresentada a pedido. Breve será uma esposa e não dará mais respostas. É nisso tudo que tenho que acreditar ? Ainda vociferava dirigindo-se ao chefe do cerimonial.

Estava claro a todos os presentes que o bolo não cresceu, salvando-se o suflê de iminente desastre. Seria absurdo valer-se agora do poder absoluto das patas de coelho. Pelo contrário, jamais seriam dadas respostas satisfatórias a todos que estavam questionando se aquela moça que ali estava, toda vestida de branco tinha o direito de tirar meleca do nariz com aquela desfaçatez descomunal.

No altar a chama queima lentamente iluminando a ara. Menos sombrios, artistas sóbrios sopram flautins para gáudio dos autistas ausentes e alívio dos presentes. Perceberam tardiamente que havia animais naquele jogo que certamente não era o de Sofia, mas fora tomado de assalto nas colinas de Tobruk.

- O que vai acontecer não sabe ainda. Sabe de nada, inocente... Acredite em mim. Não estou mentindo. Minha mão está dentro da luva e não embaixo dela, foram pensamentos que tomaram conta da mente de Sofia.

Rapidamente reagiu ruidosa, como fogo em rastilho de pólvora. Ou curto circuito em fios velhos e desencapados. E os demais perceberam que ela sabia de tudo. E como poderia não saber? Estava sempre segura de si, certa das palavras que deixava escapar como displicentes, porém cuidadosamente medidas, milimetricamente como num micrômetro de precisão Zaiss.

Esganiçou, já algo impaciente: - Tenho tanto a fazer em tão pouco tempo. Até parece que alguém já disse isso, mas com certeza não havia nenhum curinga nesse baralho. Sem esperar, ela mesma respondeu:

- Não se preocupem. Já dei a minha palavra e vou mantê-la a qualquer custo, com ou sem a vitória do general. É meu dever acima de qualquer outra obrigação não perder os prazos para saldar as prestações do carro da noiva. Afinal, ninguém iria querer uma reintegração de posse pelo banco na hora da cerimônia, não é mesmo?

O tempo agora se arrastava como cobra na areia quente do deserto do Mojave. Imediatamente, Sofia foi para fora apertar o botão do elevador. Em seguida, o carrossel começou a girar ao som de música de realejo secundada por um conjunto de gaitas de fole. Mariaches molengos e troikas cossacas consagradas corriam cortando laços consanguíneos. A moça tentou mais uma vez cortar-se na sega enquanto o Don deslizava cada vez mais silencioso pelas estepes geladas como numa superfície de espelho côncavo.

Mas, o que ela sabe ? Ponderaram os nubentes, num ato repetitivo, misto de prazer e alegria antenupcial. Se bem que a noite de núpcias já se concretizara bem antes com pares diferentes, mas isso é um sinal dos tempos e ninguém mais leva em conta esses detalhes insignificantes.








 
Autor
FilamposKanoziro
 
Texto
Data
Leituras
980
Favoritos
0
Licença
Esta obra está protegida pela licença Creative Commons
3 pontos
1
1
0
Os comentários são de propriedade de seus respectivos autores. Não somos responsáveis pelo seu conteúdo.

Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 20/11/2014 18:18  Atualizado: 20/11/2014 18:18
 Re: Com Sofia só se casa uma vez
ninguem merece mesmo, um ford ka!
(menos ainda, sofia..)



mas o texto continua aos moldes altos de quem faz bem a escrita.(eu só gostaria de ler algum poema, nesta base que vc apresenta.)




Um Abraço e continuação de boas leituras!



ps: vamos esperar pela noite de núpcias a um próximo texto, então..