Textos : 

o grande caderno azul - XVII

 


XVII

Segunda-feira de manhã no décimo quarto dia do ano - Com cara inchada, a moral também e os problemas psicológicos de sempre. Coloco álcool 70 nos ferimentos - Não vou trabalhar, mas amanhã com a graça de Deus irei. Lia ainda pouco o mestre Ferreira Gullar. Os velhos temores de algo horrível acontecer inesperadamente - mas Deus é Pai! Minha incansável cunhada estende as roupas no terraço. E eu com receio de ter vacilado no box de Seu Raposo. Esse álcool ainda vai me matar. Quase fui atropelado e tropecei fui a lona ou melhor a lama, E agora colho o que plantei - a cara toda arranhada. Oh! Pauvre poète! quando tu vai tomar vergonha nessa cara sem vergonha e largar essa cachaça maldita que só te leva pro chão.
10:25 - O drama do gás que acabou e a minha cunhada no buck-buck na expectativa do cartão de Sara passar para comprar o botijão cheio. A minha mão esquerda não é a mesma. O odor desagradável que exala de mim, já mudei o calção, mas o cheirinho não me larga..
11:15 - Para consolar a minha eterna depressão, apanhei o meu livro francês "Le Cahier Rouge du Pére Joseph" e releio alguns trechos que enobrece a minha alma abatida - se eu tivesse condição financeira,compraria e enviaria um exemplar para todos os jornais e revistas de língua francesa. Fritei um empanado de frango.

Tarde ou melhor começo da tarde.
Meio-dia e vinte - terminei emocionado a leitura ou melhor a releitura do meu livro. Podem dizer o que quiserem, mas realizei um dos meus sonhos, publiquei um livro na França., meu problema é o de sempre - falta de dinheiro, pulso e determinação da minha parte. Mas valeu, provei a mim mesmo de que sou capaz - amanhã ou depois irei digitar o outro romance - mesmo que ninguém o compre ou leia, mas terei o meu exemplar, é o que vale, alimenta as minhas esperanças.. para manuseia-lo, lê-lo e relê-lo.
Pensando no pior. A oficina arrombada, desabar ou coisa pior. Mas Deus é Grande. Minha cunhada me diz que essas molezas são castigo de minha finada mãe por ainda não ter feito a cruz. relendo Dickens e sua engraçada aventura picwckianas.
16:45 - uma boa musica clássica para amenizar os maus pensamentos e revitalizar uma alma sofrida. Para combater a fome - tomo café com leite e farinha e arroto o empanado frito. Uma caçamba desce de ré a ladeira. Não sei se é Mozart ou Beethoven. Minha cunhada vai para o terraço e se debruça na mureta para ver o movimento na rua. Antenor aos tropeções entra procurando pela esposa. Gostaria de ouvir o réquiem de meu amigo austríaco Mozart. espero quando for a Lan-house, ouvi-lo na integra no you tube com a Orquestra Filarmônica de Viena sob a regência do maestro que esqueci o nome.Professor acorda de sua sesta.

Noite
l9:30 - Vestido com meu calçãozinho preto e pronto para embarcar no mundo balzaquiano da bela Duquesa de Mafrigneuse e as intrigas aristocráticas e a esperteza de Jacques Colins.
23:30 - Minha cunhada agoniada vaquejando uma gata que subiu na cumieira da casa e mia sem saber como descer.

 
Autor
r.n.rodrigues
 
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