Poemas : 

Domingo de Páscoa em Sarajevo

 
Uma semana se passou,
como se fora uma centena de anos,
vinte e quatros horas por dia,
o inimigo surpreendeu pela audácia.
Não recuou sequer um milímetro,
como brandindo foices ceifando vidas.

Ocasionalmente em meio às balas,
mulheres corriam gritando,
atravessando a cortina de fumaça e sangue,
baleadas mesmo com salvo condutos.

Insurgentes rastejavam como cobras,
não se recusaram a atirar nas mulheres,
mas hoje quando o sol surgiu no portão do leste,
o quartel estava deserto.
Nem guardas havia na frente de combate,
nem oficias nos postos do comando;
como se jamais ali houvera um inimigo
como se ninguém soubesse empunhar uma arma.

Música soou e de alguma forma estranha,
desapareceram as sombras do medo,
estavam prontos todos a se abraçarem,
neste manhã de domingo brilhante,
depois de uma noite horrível em branco e preto.

Muitos sonharam com a casa distante,
sentiram nos corações a esperança arder,
viram no céu mais claro voando pombas,
como se mais uma fortaleza houvesse caído.
Ao anoitecer as corujas vieram aos sótãos,
antes que os tiros fossem disparados,
nas varandas procuramos nos acomodar,
e sorrindo nos perguntamos uns aos outros,
qual teria sido o motivo da trégua inesperada.

E a palavra “ressurreição” correu de boca em boca,
de homens empedernidos corações se alegraram,
de repente se ouviram algumas orações.
De mais de uma religião coros entoados,
e se repetia a palavra em tantos idiomas,
como se um anjo passasse pelas calçadas,
as primaveras votassem de repente,
a se instalar nos corações dos soldados.

 
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aziago
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