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o grande caderno azul - XLII

 


XLII

Manhã nublada e chuvosa de sábado no décimo quinto dia de fevereiro de 2014 - Espero que esteja tudo certo, eu continuou naquela sempre, enfraquecendo, desiludido e sem rumo.Acreditar em mim mesmo, falta apenas o epilogo do romance que nunca mais digitei por falta de auto-incentivo. Mann também abusa dos 'de repente', olho para Bitov -não tenho coragem de encara-lo.
07:10 - Li algumas paginas parece que agora decola

Plus tard dans l'atelier de la vie

O que não fiz ontem,aprontei agora. O asfalto molhado,o vôo nupcial das tanajuras, o céu com nuvens plúmbeas. Choveu a noite toda. O medo, o meu pesadelo é aquela caixa d'agua desabar. Um friozinho chato. Trouxe o meu amigo Dickens. Na verdade ando tão perdido, evasivo que não tenho mas aquela vontade de fazer ou melhor escrever. Não vai adiantar nada, não serei um best-seller,não venderei nem dez livros e assim desanimo.As vezes tenho uns arroubos eufóricos, principalmente quando leio um boa obra literária. Mas o pessimismo é latente e cruel.Quando a pessoa nasce com estrela-guia pagada não adianta querer fazer porque não vai dar certo. Tudo começa bem,as mil maravilhas, depois vai degastando aos poucos e de repente cai no vazio da realidade. Sempre relutei contra esse pensamento,mas hoje nessa idade em que me encontro, na idade da razão, onde podemos analisar meio-século de existência e nada de positivo.É verdade que tive alguns sonhos realizados: uma loura, um filho,um livro publicado na França e outras coisitas que não valem apenas serem relatadas. Um senhor que desconheço o nome, sentou-se e levantou-se sem muita demora. Morou com a mãe e duas irmãs nos quartos de alugueis do encabuloso do Vicente, o garanhão - depois de uma desavença com o mesmo que insinuou-se para uma de suas irmãs mudaram-se para outro quarto no final da rua 25. E hoje residem na casa própria no bairro do Aquiles.
- Poeta ! - Grita o meu amigo Jean da avenida na sua "Ferrari". Com certeza vai para a sua propriedade também no Aquiles, onde realizará um de seus sonhos materiais, ter uma casa ampla com jardim. Um cão desnorteado e atrapalhado atravessa a pista sem saber qual caminho a seguir.
NO romance "Fuga para a Norte", quando Ragnar e Johana estão viajando pelos lugares remotos e desertos nos confins da Suécia,passaram por um hotel esquisito, depois de um convento Ortodoxo que alugava quartos e assim por diante uma cidade portuária onde duas putas velhas faziam ponto e dançavam.. Gostei de Mann é bem descritivo. A velha servia no hotel tinha um bócio e fedia. O dono fumava cachimbo e não era muito amável com seus hospedes, parecia mais um capitão de navio. Os padres eram fétidos e a sua sala dos tesouros era reluzentes empedras preciosas, candelabros de ouros e pratas. Mas o jantar foi espartano. Quando li pela primeira vez "Notre Dame de Paris" de Victor Hugo em francês não prestei atenção no final, não percebi que a bela e jovem cigana Esmeralda fora enforcada.
09:55 - Baixinho, o barbeiro, velho parceiro de grogue dos tempos áureos da Casa Vanianana marcou presença e contou-me as sua desavenças com seu enteado, o Petit Tiago, chegaram ao cumulo de quererem se digladiarem.Coisa horrível.Ainda lembro-me nitidamente a cena da maluquete prima Yvonne na casa do pai, um daqueles senhores feudais a moda antiga que acabou expulsando-a juntamente com Ragnar e Jonhana. O casalzinho sai feliz levando no carro de mão, o portão de sua casa que fica na invasão de Seu Milson. Eles moravam de aluguel no Bairro de Fatima, e agora vão realizar o sonho maior de todo casal, ter a sua casa própria e fico feliz em contribuir para tal evento.

Começo da tarde
Meio-dia e onze. Quase ou melhor sentir mal-estar enquanto estava conversando em pé com Seu Raposo na sua tienda no mercado. Fez-me lembrar das overdoses que sentia quando misturava "bondinho" com cachaça. A vista escurecia, as pernas tremiam, um mal-estar generalizado. Ia comprar um lock-net, mas desisti e vim para casa o mais rápido possível. Contente em ver o velho guerreiro cantor Valdir Neves mostrando a sua musica que vai participar do Festival de Musica carnavalesca da Tv Mirante. Conhecido de longas datas, da época do Bairro do Desterro. Ele era auxiliar de um dos melhores técnicos de refrigeração industrial que prestava serviço para as fabricas de gelo, o mestre João Careca muito amigo de Seu Joca Furtado e de meu pai Nhó Bamba. Que Deus o abençoe!
15:45 - A pequena Adrielle chegou como sempre enchendo o ambiente de alegria. Antes do cochilo das duas horas,li algumas paginas do romance de Bitov. Sintonizo num canal infantil para a princesinha assisti um desenho animado.
16:55 - Aos trancos e barrancos, finalmente conclui a leitura da "A Casa de Puchkin" do escritor russo Andei Bitov. Gostei mas de Mann. Queria ir a Lan-house, mas não estou muito legal. Vamos ver se consigo passar um dia sem gastar nada.. Bebi apenas uma lata de cerveja forçada, para trocar uma cédula de dez reais.Precisava de cinco para dar de troco para o casalzinho do portão.

 
Autor
r.n.rodrigues
 
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Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 11/04/2016 18:06  Atualizado: 11/04/2016 18:06
 Re: o grande caderno azul - XLII
Não sei se entristeci-me com tua tristeza desesperançada ou com a recordação da morte da Esmeralda, coisas injustas.

Meu agradecimento por ler, gosto das tuas descrições.

Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 12/04/2016 08:48  Atualizado: 12/04/2016 08:48
 Re: o grande caderno azul - XLII
Bravo amigo Raimundo, Mann escrevia seus livros ao longo de muitos anos (pelo menos os que conheço).

Abraço