Contos : 

Por Onde Passei Deixei Flores

 
Você pode ou não gostar de flores. Você pode gostar de um tipo de musica, que uma outra pessoa pode achar ser de um gosto bastante duvidoso. Você pode amar algo que uma outra pessoa odeia... É assim o seu mundo, a urdidura de seus comportamentos raramente fugirá disso. Embora desfrutem de uma origem comum - você, os animais e as plantas - observe o feto de ambos... e as organelas sexuais das plantas - e vai entender... O ego humano luta contra a maré para se autoafirmar, para se individualizar, negando unir-se ao todo.
Quando eu surgi, em tempos imemoriais, impossíveis de descrever de uma forma linear que faça sentido a você, eu vivi uma experiência que definiu quem eu viria a ser em todas as noites e dias dos tempos. Tempos que não existem, e acredite, longos demais para se expressar. Paradoxo, não?! Você não faz ideia.
Foi um evento, em que eu, ainda um ego em formação, decidi atravessar a existência da consciência em harmonia com o Universo. Eu aprendi a amar demais todas as coisas, para fazer diferente disso. Quando se olha para a criação de um ângulo em particular, há coisas que não pode ignorar e você aprende a admirá-la, a respeitá-la, e a por isso mesmo, honrá-la. Eu precisava deixar o melhor de mim por onde passasse. Mesmo eu sabendo que seria curta demais a minha estada. Mesmo eu sabendo que ela não seria notada. Você pode ou não, gostar de flores.
Em nenhum momento no tempo eu fui um deus, ou um mártir, ou alguém que a história do homem sentisse necessidade de guardar em seus estranhos meandros. Tais coisas não existem, no fundo, são só invenções de egos egocêntricos, redundante assim. Por todos os "dias" da minha existência eu escolhi ser um simples ser que passasse despercebido. Como uma lufada de fumaça. Como um humilde andarilho na estrada. Como a folha que o vento leva. Há tesouros escondidos em todas essas coisas. Há uma nobreza e uma honra desconhecida dessa humanidade na pobreza e na humildade. Não, é claro, na subserviência ou no conformismo. Um espírito que vive uma vida simples traz de volta consigo uma grande fortuna. Vencer uma vida de privações com brio e galhardia não apenas te enche de satisfação ao libertar-se da matéria, como o faz ser recebido por trombetas brilhantes ao retornar pra casa. Pois o homem pode ser o que ele escolher ser. E escolher não ser nada é para poucos espíritos. E você nunca se esquece disso. Fui uma mulher um dia, extremamente pobre, numa região esquecida de sua querida Terra, uma crosta de pão era mais deliciosa para mim do que qualquer pedaço de bolo, embora bem glaçado, que já pudesse ter existido nas vidas anteriores.
Quando os meus filhos riam eu era dominada pelo deleite e, apesar de nossas privações, cada manhã era uma surpresa triunfante porque nós não tínhamos morrido em nosso sono, por não termos sucumbido à fome. Escolhi aquela vida deliberadamente, como cada um de vocês escolhe cada uma das suas, e fiz isso porque minhas vidas prévias tinham me deixado muito entediado. Também fui muito mimado. Eu já não focava com claridade nas delícias físicas verdadeiramente espetaculares e nas experiências que a terra pode prover.
Embora eu gritasse com minhas crianças e às vezes gritei com raiva contra os elementos, eu fui golpeado pela magnificência da existência, e aprendi mais sobre a verdadeira espiritualidade do que já fiz como um monge. Isto não significa que a pobreza conduz à verdade, ou que o sofrimento seja bom para a alma. Muitos que partilharam destas condições comigo aprenderam pouco. Isto significa que cada um
de vocês escolhe essas condições de vida que tem para seu próprio propósito, sabendo ao longo do tempo onde repousam suas fraquezas e forças. Na união das minhas personalidades, como, em seus termos, eu vivi mais tarde vidas mais ricas, aquela mulher estava viva novamente em mim, cheia de gratidão, e um bolo glaçado era pra mim algo muito maior do que para um nobre semelhante meu, que o trataria com absoluto desprezo. Ela ainda esta viva em mim, me agradecendo por cada momento feliz em mim, por mais simples que fosse - como, por exemplo, a criança está viva no adulto, e cheia de gratidão comparada a circunstâncias posteriores às existências iniciais. Ela me impulsionou a usar melhor minhas vantagens.Não dar atenção demais a si, te faz dar atenção às outras coisas. Ao misterioso mundo que te cerca.
Todos são no mundo o que escolheram ser, embora tenha se esquecido disso. O que você sente ao ser o que você é agora, ai é com você. Se você sente orgulho em ser mau, ou vaidade em ser bom... cada um trás consigo o seu próprio sentimento, e é isso que define o que você de fato é. Isso é o que definirá quem você virá a ser quando dobrar a próxima esquina da realidade, depois dessa esquina não existem simulações. Nada de depósitos na conta do altíssimo, nada de rituais ou sacrifícios egoístas para beneficiar a si mesmo. Assim seria fácil e simples demais. É a flor que você deixa no caminho. Imagine uma estrada longa... imagine-a agora, seca e vazia. Apenas poeira e pedra. Quão difícil será andar por ela. Agora, imagine-a margeada de árvores, flores e arbustos, tudo a colorindo de verde e vermelho, nuances de azuis e amarelos. A brisa fresca do ventos, e então, as pétalas e flores subindo. Se foi ti que deixou essa estrada pra mim, então eu te agradeço. Eu ouço essa voz no eco da minha existência.
O humano reluta em ser bom para o outro. Quer ser bom apenas para si mesmo. Mas, sendo bom para o outro, estará sendo para ele mesmo.
A Terra corre o risco de ser uma estrada seca e estéril. E quem caminhará nela não será apenas o filho do outro. Mas o seu filho, o seu neto, e os filhos dos seus filhos, e talvez, você mesmo.
Um homem que nasceu em 370 depois de Cristo, é deca-avô de metade da humanidade. Você é descendeste dele. Você, e aquela pessoa que você ignorou na esquina. Vocês são sim, parentes, embora o seu ego irá negar isso até a morte. Eu disse é claro, de uma maneira simplificada para que pudesse entender.
Eu não sabia... mas quando eu decidi semear flores eu só as encontrei, de formas e variedades que eu não sabia existirem. Senti-me estranho e sem jeito, pois eu resolvi doar um pouco de mim, mas ganhei tanto de tantos outros. Quando andei nu uma vez na estrada, e o frio procurava de destruir, choveram flores e me vestiram, e talvez você ache isso um absurdo, mas em muitos lugares isso é possível. Aqui mesmo foi um dia, neste planeta, antes da frieza do homem o esfriar e congelar.
O mundo já foi melhor, e mais flexível e já houveram mais flores pelo caminho. O homem olhava mais para dentro de si, os sonhos eram reais, antes do brilho do "ouro" fixar o seu olhar para fora.
Entendem agora, a saudade que sentem, inexplicável eu sei, de uma coisa que parece que perderam sem saber dizer direito o que é?
Estão correndo atrás da riqueza errada. O que é valioso de fato raramente brilha. Passa despercebido, só olhares sensíveis podem entender, e seguir.
Flores não são objetos. São dádivas. Flor vem da palavra brilhar! Flores e frutos são presentes das árvores e dos homens. Surgem de dentro, observe. Seu filho é um fruto seu, ele veio de dentro. Saiu de uma flor.
O que é bom vem de dentro. Tudo o que está fora é apenas uma tola e simples ilusão pra te distrair. Não deixe o melhor passar...


j

 
Autor
London
Autor
 
Texto
Data
Leituras
825
Favoritos
1
Licença
Esta obra está protegida pela licença Creative Commons
11 pontos
1
1
1
Os comentários são de propriedade de seus respectivos autores. Não somos responsáveis pelo seu conteúdo.

Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 13/05/2016 12:12  Atualizado: 13/05/2016 12:12
 Re: Por Onde Passei Deixei Flores
Mil parabéns pelo texto!

Favoritei!

Um abraço,

Anggela