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UM QUARTO E UMA MEIA

 
Tags:  SONETOS 1995  
 
UM QUARTO E UMA MEIA

Uma meia esquecida no meu quarto.
Olho no relógio e é meia noite e meia...
E, igual àquela noite, outra lua cheia
De cujo recordar jamais me farto.

O perfume, já por meio e um quarto,
É teu cheiro que no ar tudo permeia...
Dilata-se a pupila; estufa a veia:
De novo para aquela noite eu parto.

Brilho da lua em só noite de quarta...
Da qual ora escureço; ora clareio
Para ti cada poema, foto ou carta.

No fim das contas, perco-me no enleio:
Dividido por zero ou posto à quarta...
O que é ser nada? Ser um par ao meio?...

Cap. Andrade - 22 03 1995


Ubi caritas est vera
Deus ibi est.


 
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RicardoC
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Enviado por Tópico
RicardoC
Publicado: 07/01/2018 14:43  Atualizado: 07/01/2018 14:46
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 Re: UM QUARTO E UMA MEIA
Saudações, Caríssimos. Ainda que me furte a comentar meus próprios textos por acreditar que estes tenham a obrigação de conter tudo o que têm a dizer em si mesmos, para este soneto me vejo forçado a abrir uma exceção...

"Um quarto e uma meia" é fruto de uma época em que era um barroquista entusiasmado, portanto, amava jogos de palavras no limiar do inteligível. Este poema, porém, resultou tão radical em seu rebuscamento que o excluí da primeira revisão impressa para o livreto "SONETOS 1991 - 1999". Ter-se-ia perdido inapelavelmente se não tivesse achado, há poucos anos, um seu original manuscrito. Dividido entre o gosto das redundâncias do poeta d'antanho e pela legibilidade ao leitor d'agora, enveredei a revisá-lo na esperança de chegar a um meio-termo.

Oxalá tenha logrado algum êxito com tal trabalho! Mas, como sempre, deixo para o leitor julgar.

Advertidos, espero que o consigais ler para além do rótulo de rebuscado ou barroquista que tantos têm como ultra-negativos em poesia e que possais perceber quão mágicas as palavras quando nos deixamos levar por seus sons e significados.

É isso.

Abraços, RicardoC.