Poemas : 

andarilhânsias (III)

 
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(venho de longe)

vêm de longe as estradas
que me trazem
vêm de longe os meus pés
e não dançam
e não dançam
apenas cansam o caminho
como stevie nicks cansa a voz
na remota melodia que me sitia
de mansinho

vêm de longe
inesperadas
as memórias rasantes
e no seu bico adunco
trazem penas arrancadas
ao meu corpo doutro vento
estrangeiro e íntimo
cortante e veloz
trespassando o tempo que vivi
até aqui
ao reencontro do que sou
e do que só
agora reconheço como meu:
uma estranha forma de esquecimento
uma ingrata sede de perdão
uma espera doce
uma pressa ácida
uma sombra frágil
perdoando o breve espaço
que me cabe deste chão

vêm de longe e pairam sobre mim
asas difusas
mágoas nítidas
voando ao sabor da antiga melodia
arrastando a voz rouca de stevie
arrastando coisas minhas
cenas soltas do papel que tive
sobre o palco que escolhi

estranhamente é reconforto
a consciência do meu corpo
repousando
entre a memória fria e a pele que ainda dói

e a música que atravessa o pó da alma
já é bálsamo
reconstrói-me:
a estrada é apenas de um sentido
e já é outra a música definindo
a distância que me desliga do passado

estou aqui.
heroína da saudade
livre do tempo lembrado

in "40 Poetas Transmontanos de Hoje" - Âncora Editora 2017


Teresa Teixeira


 
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Sterea
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Enviado por Tópico
Carlos Ricardo
Publicado: 31/07/2017 23:12  Atualizado: 31/07/2017 23:12
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 Re: andarilhânsias (III)
Repito:
-Essas andarilhânsias estão no bom caminho.
Maravilha!