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Tibete, De quando você não quiser mais ser gente

 
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TIBETE, O Romance “protoexistencialista” de Silas Corrêa Leite
“Nós experimentamos de tudo e nunca vamos até o fim, de repente jogamos décadas no lixo” – Thomas Bernhard, in, O Naufrago.
-E quando você descobre, já passando da idade do lobo, que viver é uma farsa, que ter sobrevivo loucamente é um pé no saco, a meritocracia é uma fraude, a América Cloaca é um fiasco, a sociedade é um câncer, a justiça podre, a mídia abutre, e você para vencer num mundinho cão de uma elite cancerosa e uma burguesia cheirando a cadáveres ainda assim tem que ser um corrupto até as fuças?
TIBETE, De quando você não quiser mais ser gente, romance, Editora Jaguatirica, RJ, 2017, é uma obra-prima de uma narrativa ora subjetiva, ora compulsiva, mas sempre convulsiva, voraz, ora numa rememoração obsessiva, com mistérios aqui e ali, numa narrativa que tende a produzir entendimento devastador, ou de regozijo, ampliando o próprio horizonte do que se entende por literatura, por isso mesmo indo além dos limites formais até, ora com humor crítico feroz, tentando devastar tudo e todos; o meio, o mundo, a vida, a família, a sociedade, mas purgando, criticando, fermentando hipocrisias, cinismos, mesquinharias, entremeios de cartéis, propinas, máfias, quadrilhas, de todos os veios, status e tipos, soando muito além e acima de remorsos, da consciência, dos destroços disso tudo, no monturo do que apanha, relata, denuncia, na sua ocasional misantropia de recolhimento e talvez de triste finitude, feito um louco personagem lutando contra aquilo que Caetano Veloso cantou, “lutando contra as misérias (todas) do cotidiano” da humanidade. Humanidade?
Vamos por partes:
01.Ah os monstros que vivem no homem... Começam embaixo do berço inaugural com grades da primeira infância de baby, depois passam para os armários embutidos, gavetas secretas do criado-mudo, habitam neuras e sublimações, depois vão para sótãos, porões, prateleiras, abajures, máscaras, disfarces e salas secretas dos labirintos da existência, e assim infestam sua mente tribulada, seu coração entrevado, sua alma partisan, sua cerração mórbida, sua turvação pit-bull, e tudo se desencarrilha num vazio profundo, enfermo e quase fatal que nem Freud, Marx e Nietzsche (os homens mais inteligentes do mundo), explicam. E o homem então ferido de desconhecimentos e incompletudes dá-se a se martirizar, fazer besteiras, ilhado num lengalenga íntimo, inseguro e questionador, perde o eixo, o prumo, ou garra a desesperadamente a fazer arte louca para se entocar, ou até mesmo sendo sensível ao extremo que seja, vira um homem-espuma, um homem-garrafa, um homem-bomba, um homem chaminé, um homem-menina, um homem peregrino.
02. Leio, escrevo. Feito um desesperado. Mas nunca me releio... Tenho um medo enorme de me reconhecer no escuro. Não creio em mais nada. Filhote conspurcado do DNA? Quem me protege de mim? Eu existo, ou purgo, fermento, crio gume, fundo cogumelos de infecção nos interiores de mim, me aniquilando aos poucos? As rosas me acenam hoje. Brancas, vermelhas, amarelas. Nunca fui normal acompanhado. Como disse Khalil Gibran, “No amor, fiquem juntos. Mas não tão juntos. Os pilares do templo ficam bem apartados. O carvalho e o cipreste não crescem a sombra do outro”. Não me sinto daqui. Nem meu reino é desse mundo. Hoje senti que tenho um barco encalhado nalgum espaço íntimo dentro de mim. Lanço âncoras? Ou soçobro? Pensa que é fácil não acreditar em nada e nem em ninguém? Aqui, escondido, vegeto. Valho menos do que uma amora silvestre. Curto a solidão.
03. Quando eu estava sozinho, eu quase sempre acabava me machucando, sem saber exatamente como. Eu só sentia a dor depois, atrasado, e via os cortes, as marcas, as feridas abertas, os traumas, os panos escuros na pele. Minha mãe sabia alguma coisa mais do que eu podia compreender, e não deixava e não queria que me largassem sozinho, nunca. Sabia que eu sozinho era um perigo para mim, para a casa, para a segurança, para a vida, para o mundo, para o universo. Depois, para piorar, eu também acabava me machucando com alguém por perto, ou quando tinha alguém comigo, e que eu pensava que me amava e que iria me cuidar me preservar, me proteger de mim. Então tive que escolher entre me estar sozinho, às sós comigo mesmo, o que quer que isso exatamente fosse sem saber como e porque, mesmo me machucando, do que ser machucado por outro, por outrem, o que me iriar doer mais, muito mais. Não foi fácil essa terrível escolha. Se ser sozinho já é um machucar-se e tanto, ainda tive que tentar entender e saber lidar com isso. Antes mal acompanhado do que sozinho? Não, nem pensar. Antes sozinho e me machucando todo, do que com gente por perto... Ser sozinho era o preço a pagar, e a defesa de mim comigo mesmo. Eu me machucando, mesmo sendo um perigo pra mim, e sem saber como e por que, era mais uma preservação instintal do que eu acompanhado. Se sozinho eu me cortava com portas, machados, puxadores de móveis, pontas de arame, cacos de espelhos, lascas da árvores, tampinhas de canetas, tampinhas de garrafas de crush, palitos de fósforos, raspas de tacho, facas amoladas, pregos expostos, lâminas enterradas, dentes de cobras, espinhos de roseiras, abelhas na torneira, macetadas de uma coisa ou outra, as vezes trombando com o batente ao mirar a porta, pisando em lascas cortantes de perobas, do que me lascar com um outro, com outros...
Aqui são três pitacos de fragmentos de trechos do romance TIBETE, para o leitor já sentir o drama. Quem é, afinal, Silas Corrêa Leite? Quem é o contador, o poeta, o romancista assim turbulento? De um anterior romance GOTO, A Lenda do reino do Barqueiro Noturno do Rio itararé, Editora Clube de Autores, SC, dele, Adelto Gonçalves (USP) escreveu:
Obra do século XXI, em que toda a coerência formal da narrativa já foi desrespeitada, Goto surge como romance pós-moderno, ou seja, é fragmentado, desintegrado e de linguagem rebelde, assumindo-se como não-romance ou anti-romance, ao romper com as fôrmas literárias do Romantismo e do Modernismo, como diria o insuperável professor e ensaísta Massaud Moisés (1928). Afinal, o barqueiro, em seu trabalho de levar gente de uma margem para outra do rio Itararé, contava para o que ouvia, mas falando na primeira pessoa, exatamente do mesmo modo como havia ouvido o caso. Com isso, o romance adquire também um sentido polifônico, ou seja, composto por muitas vozes que não a do autor, tal como definiu o crítico literário e filósofo da linguagem russo Mikhail Bakhtin (1895-1975), ao analisar a obra de Fiódor Dostoiévski (1821-1881). É nesse sentido que se pode dizer que Goto alcança o status de pós-moderno.
Do seu outro romance GUTE GUTE, Barriga Experimental de Repetório, Editora Autografia, RJ, as várias opiniões sobre sua obra: Resumos (fragmentos) de Críticas:
01. “(...) Como em tudo o que faz, Silas Corrêa Leite é atrevido e criativo. Desta vez, nos aparece com este experimento ficcional, ao revés de René Chateaubriand, nas suas "Memórias de Além Túmulo" - são as sensações e questionamentos do nascituro. Um ser, supostamente em formação, mas com a personalidade pronto e a linguinha bem afiada. Humoroso - no sentido bergsoniano mas também dos humores corpóreos - e crítico, Gute Gute é uma reflexão uterina, se me perdoam o trocadilho, sobre a vida, o tempo, as relações sociais. Uma autorreflexão, se quiserem, porque o autor está dentro, perdoem de novo, do livro e do útero do mundo. Com a sua linguagem solta, coloquial, Silas Corrêa Leite nos traz gostosuras do tipo "contentezas", "brincadezas", "barrigal", "meda", "sexteen", "as fuselagens das minha mãe" etc. Mas não se engane o leitor. Silas vai a profundidades filosóficas, e mostra exemplos de erudição, formando quase um roteiro pedagógico. É ler para crer.(...) Joaquim Maria Botelho – Presidente da UBE-União Brasileira de Escritores. Jornalista, tradutor e professor, foi chefe de reportagem da Revista Manchete, no Rio de Janeiro, chefe de redação da TV Globo (atual TV Vanguarda) em São José dos Campos e diretor de jornalismo regional da TV Bandeirantes no Vale do Paraíba.
02.Flora Figueiredo Sobre GUTE GUTE, Barriga Experimental de Repertorio, Romance de Silas Corrêa Leite - Olá, Silas. Neste final de semana li seu trabalho. Imediatamente, me conectei com esse bebê que pensa, age e se comunica com agilidade e graça. O texto fluente, espontâneo, atual, faz com que o leitor se apegue às mirabolâncias do Gregório/ Thiago/Pedro/Caetano Frederico. Fica-se na expectativa do que virá a seguir, dentro da flutuação que se opera no ventre da mãe. Sua inventividade nos ata ao cordão umbilical da criança e é tão vívida que, sem perceber, fiquei ansiosa pela hora do parto. Parabéns pela ideia e pela maneira como a desenvolveu. Fique com meu aplauso, FLORA FIGUEIREDO é Poetisa, cronista e tradutora paulista, autora de Florescência, Calçada de Verão e Amor a Céu Aberto (1992).
03.Professor Universitário opina sobre GUTE GUTE, Romance - “Olá Silas, GUTE GUTE, Barriga Experimental de Repertório é gostozinho de Ler, mas muito pequeno... A gente queria continuar. O que torna a leitura mais agradável é a familiaridade que a gente tem com seu vocabulário, neologismos, frases peculiares, exclusivas”. Samuel Barbosa, Professor, formou-se em teologia pelo Seminário Presbiteriano, graduou-se em Letras, Pedagogia, Supervisão Escolar e Especialização em Língua Portuguesa com produtiva carreira acadêmica.
04.O romance Gute Gute do prosador e poeta itarareense Silas Corrêa Leite, se constitui de relatos da vida de um bebê de altíssimo QI, no útero materno, em fase final de gestação. E que relatos! Que vidinha venturosa e aventureira.Aventureira? Sei que vão estranhar, mas acreditem, assim viveu esse guri no útero da mãe que o poeta chamou de troninho - onde ele se aninhava, qual passarinho no ninho agasalhante - até que chegasse a hora do parto, ou melhor, da partida para a realidade aqui fora. A vida do guri não se limitava ao interior e exterior do útero na barriga materna. Extrapolava, captando tanto o mundo físico como o psicológico das gentes lá fora. Ou seja, as limitações impostas pelas paredes uterinas não o impediam de ter contato com outros meninos e meninas de outros úteros, inclusive no mundo virtual. E a linguagem? Via de regra hilária, entre os bebês comodamente instalados nos seus troninhos. É mesmo para gargalhar. E quanta fofocas entre eles, quantos namoricos... Leiam o livro. Vão divertir-se muito, comover-se também, pois o Silas sabe muito bem como despertar o interesse e a emoção de seus leitores. Maria A.S. Coquemala é professora de Língua e Literatura Portuguesa, especializada em Linguística e pedagogia, formada pela PUC-Campinas.
05.Gute Gute: Reflexões e Impressões de um Bebê na Barriga da Mãe - Livro de Silas Corrêa Leite nos inspira a imaginar o mundo de onde viemos e para o qual queremos, em algum momento de nossa vida, voltar: o útero materno. Gute Gute – Barriga Experimental de Repertório é um romance cuja originalidade nasce já no argumento de traçar linhas sobre fantasias, peripécias, experiências, sensações e impressões de um ser em gestação. Pensar sobre esta primeira fase da experiência humana é inerente às questões sobre nossa existência: de onde viemos, por que viemos, do que somos feitos, para onde vamos? Contudo, embora imaginar o que acontece dentro de uma barriga em processo de gestação seja uma curiosidade comum, apontar caminhos e se arriscar palpites que viram frases e poesias é algo original e inspirador. Daí o subtítulo “Barriga Experimental de Repertório”: o autor reúne questionamentos sobre vocabulários, canções e sons que ouve de dentro da barriga da mãe e que servem para o ser como indicações sobre como será a “vida lá fora”. Gute Gute- Barriga Experimental de Repertório, o romance com um olhar questionador sobre alguém que ainda está para nascer, vem acrescentar à prateleira de livros próprios do poeta e escritor premiado em concursos e autor de outros livros em prosa e verso. Clélia Gorski – Publicitária e autora do livro Separada & Dividida (Novo Século), Jornalista e apresentadora da Rede Bandeirantes
06. Silas Corrêa Leite, além de professor, é escritor eclético com obras literárias as mais variadas, de crônicas, contos, poesias a romances de refinado bom-gosto. Premiado dezenas de vezes por seu trabalho jornalístico, crítico literário e bom resenhista, Silas se inscreve entre os escritores mais produtivos com obras de grande alcance social e cultural. Sebastião Pereira da Costa - jornalista/escritor, autor entre outros de “A História Oculta” e “Não Verás Nenhum País Como Este”, Editora Record (RJ).
07. Opinião de um Cineasta de Renome:
GUTE GUTE, Barriga Experimental de Repertório, Editora Autografia, RJ, Romance, de SILAS CORRÊA LEITE
Esta obra de Silas Corrêa Leite pressupõe um bebê especial (Asperger? Autista?), de inteligência precoce, relacionando-se – já no ventre materno - com o mundo, as pessoas e as coisas, mesmo ainda sem uma noção precisa de como funciona aquele universo pré (ou será pós?!) qualquer coisa que ainda não se sabe. Essa ideia de Silas, uma barriga experimental de repertório, é um achado. Mas não pensem os leitores em encontrar na obra grandes reflexões filosóficas ou quânticas, mesmo sendo os pais da criança Doutora em Filosofia e Psicóloga, ela, e Professor de Filosofia e Filólogo, ele. Sobram, sim, frases de efeito, ditos populares, palavrório regional paulista de Itararé e farto uso de citações da música popular e de heróis de histórias em quadrinhos. Não são palavras jogadas ao vento, é bom notar. O estilo anárquico do autor comporta sentidos que se alinham e realinham ao longo de suas duzentas e poucas páginas, conferindo à obra o mérito de prender de fato a atenção do leitor.
Os capítulos, abertos com citações que vão de Michael Jackson a Octavio Paz, de Walt Disney a Fernando Pessoa, se sucedem à espera do parto (ou “chego”, conforme prefere o recém-nascido), apontando para a vida lá fora, repleta de paredes que, ao contrário do ventre materno, não dá mais para ver. “Macacos me mordam”, como diz o bebê na ruptura do cordão umbilical. Como disse, a ideia é um achado. Mas não se encerra aqui. Mais que um romance acabado, Gute Gute pode ser visto como a barriga experimental, ou melhor, como texto—base de um filme de animação em 3D, cuja equipe se encarregaria de um traçado audiovisualmente equivalente ao que Silas compôs com suas anárquicas palavras.
Gregorio Bacic – Diretor de Tevê e de Cinema, Escritor, Pensador, Crítico.
08. Professor Samuel Barbosa, de Itararé-SP opina sobre GUTE GUTE, Romance de Silas Corrêa Leite
“Olá Silas, GUTE GUTE, Barriga Experimental de Repertório é gostozinho de Ler, mas muito pequeno... A gente queria continuar. O que torna a leitura mais agradável é a familiaridade que a gente tem com seu vocabulário, neologismos, frases peculiares, exclusivas”. Mestre Samuel Barbosa, Professor, Itararé-SP
Samuel Barbosa é pastor jubilado da Igreja Presbiteriana do Brasil, formou-se em teologia pelo Seminário Presbiteriano, graduou-se em Letras, Pedagogia, Supervisão Escolar e Especialização em Língua Portuguesa com produtiva carreira acadêmica.
09. LETRAS/Crítica:
O antirromance de quem ainda vai nascer: Gute Gute, Barriga Experimental de Repertório, de Silas Corrêa Leite - Adelto Gonçalves
Depois de publicar Goto – o reino encantado do barqueiro noturno do rio Itararé (Joinville-SC: Editora Clube de Autores, 2014), obra nitidamente do século XXI, em que toda a coerência formal da narrativa já foi desrespeitada, o poeta e ficcionista Silas Corrêa Leite ressurge agora com Gute Gute – Barriga Experimental de Repertório (Rio de Janeiro: Editora Autografia, 2015), outro romance pós-moderno, igualmente fragmentado, desintegrado e de linguagem rebelde, que se apresenta como não-romance ou antirromance, assumindo um rompimento definitivo com as fôrmas literárias do Romantismo e do Modernismo(...). Com tanta originalidade, por certo, Gute Gute – Barriga Experimental de Repertório começa a atrair os leitores desde as primeiras linhas, ao fazer questionamentos sobre termos, canções e sons que o protagonista ouve de dentro da barriga da mãe. Como diz o autor na introdução, o romance trata da relação da criança, ainda na forma fetal, com tudo o que a cerca: “o lar, as barulhanças nos derredores, as tristices e contentezas de formação, as formatações e configurações evolutivas de meio, os sentimentos de base e aprumo, a sensibilidade generalizada de compreender e ser inteirado da vida intrauterina a partir do que rola lá fora, no exterior, a partir do que sente no colmeial do adjacente barrigal”(...). Sempre em busca da surpresa e do ineditismo, o ficcionista vai compondo o seu antirromance porque, se a vida ainda não existe fora do útero, tampouco não há como traçar um enredo com começo, meio e fim. Só restam reflexos produzidos por atos de quem gera – “percebo tudo aqui dentro da barriga” –, além de suposições sobre um futuro que há de vir: “Sobreviver lá fora deve ser um grande negócio. Ou é barra pesada? Ou tudo é rigorosamente regrado, regulado, normas e leis? Tudo lá fora é certinho, funciona direito e com precisão como um relógio?”, imagina.
Por fim, do mesmo critico da USP, Adelto Gonçalves, ainda uma palhinha (fragmento) sobre essse Tibete: LETRAS ‘Tibete’: o diário de um arauto do caos
Em Dicionário de Termos Literários, o professor Massaud Moisés (1928-2018) incorpora à literatura brasileira o termo alemão bildungsroman, definindo-o como uma narrativa que lida com a experiência das personagens vivida durante a educação ou os anos de aprendizado. Em outras palavras: é o romance de formação, que, a rigor, nasceu com o livro Anos de Aprendizado de Wilhelm Meister (1796), de Johann Wolfgang von Goethe (1749-1832), em que o autor procura retratar e discutir a sociedade de seu tempo de maneira global, colocando no centro do romance a questão da formação do indivíduo. O objetivo foi o de apresentar o caminho traçado por uma personagem principal de sua infância à maturidade, em busca de crescimento psicológico, político e social. O termo, porém, teria sido empregado pela primeira vez em 1803, pelo professor alemão Joan Karl Simon Morgenstern (1770-1852), de Filologia Clássica, durante a realização de uma conferência, mas só em 1820 o estudioso haveria de associá-lo ao romance de Goethe, que, a partir de então, passaria a ser considerado o marco inaugural de um gênero à parte no romance. No Brasil, O Ateneu, Raul Pompéia (1863-1895), lançado inicialmente em formato de folhetim pelo jornal Gazeta de Notícias, do Rio de Janeiro, em 1888, é até hoje considerado o maior romance de formação da literatura brasileira. Ao contrário de outras obras do Realismo, O Ateneu não possui um enredo preenchido por acontecimentos inusitados, intrigas, ações, como nos romances comuns, mas reúne análises do autor acerca de seus companheiros num colégio interno e impressões a respeito de assuntos científicos, psicológicos e do cotidiano. Agora surge o romance Tibete: de quando você não quiser mais ser gente, de Silas Corrêa Leite, lançado ao final de 2017 pela Editora Jaguatirica, do Rio de Janeiro, que segue nessa trilha e apresenta-se como o mais novo exemplo de um bildungsroman na literatura brasileira. Constitui, na verdade, um diário que, nas palavras do seu autor, “informa, transforma, disforma, forma, metamorfoseia, “vidamorfoseia”, expõe grilhetas, desforras e delata, mostra as garras, a faca entre os dentes( ...)”. Na capa do romance, o autor já faz aviso: “Destruam este diário, ou destruam suas vidas”.
Por essas e outras, com esses três romances de peso, Silas Correa Leite finalmente se consagra.
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Romance Tibete
 
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