Poemas : 

Aqui é o tempo

 
Aqui é o tempo
que me dá mais gosto.

Sinto-o
direito no rosto, na face rugosa
que amiúde sorri.

Aparece no presente perfeito,
como palavra sem adjectivo,
sujeito que a atrase ou torne bela.

O ponto final de cada frase.
Decorrer do verso, da prosa.

Aqui é o tempo que nunca permanece,
súbito,
vivo...


Sou fiel ao ardor,
amo esta espécie de verão
que de longe me vem morrer às mãos
e juro que ao fazer da palavra
morada do silêncio
não há outra razão.

Eugénio de Andrade

Saibam que agradeço todos os comentários.
Por regra, não respondo.

 
Autor
Rogério Beça
 
Texto
Data
Leituras
1259
Favoritos
1
Licença
Esta obra está protegida pela licença Creative Commons
15 pontos
3
2
1
Os comentários são de propriedade de seus respectivos autores. Não somos responsáveis pelo seu conteúdo.

Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 15/07/2019 13:27  Atualizado: 15/07/2019 13:27
 Re: Aqui é o tempo
A fruição do tempo. A dinâmica do “presente perfeito”. A claridade no rosto, sem maquilhagem nem ornamentos. A vertigem do aqui. O calafrio do imprevisto.

Posso deixar-te aqui estes versos de Al Berto?

“...
apesar de tudo
continuamos a repetir os gestos e a beber
a serenidade da seiva __ vamos pele febre
dos cedros acima __ até que tocamos o místico
arbusto estelar
e
o mistério da luz fustiga-nos os olhos
numa euforia torrencial”

Al Berto, in “Horto de Incêndio”


Obrigada

Enviado por Tópico
atizviegas68
Publicado: 30/07/2019 17:08  Atualizado: 30/07/2019 20:44
Usuário desde: 09/08/2014
Localidade: Açores
Mensagens: 1522
 Re: Aqui é o tempo
O atordoamento do sujeito poético em fugacidade e em palpitação da palavra à pele.


"Nada tão silencioso como o tempo
no interior do corpo. Porque ele passa
com um rumor nas pedras que nos cobrem,
e pelo sonoro desalinho de algumas árvores
que são os nossos cabelos imaginários.
Até na íris dos olhos o tempo
faz estalar faíscas de luz breve.

Só no interior sem nome do nosso corpo
ou esfera húmida de algum astro
ignoto, numa órbita apartada,
o tempo caladamente persegue
o sangue que se esvai sem som.
Entre o princípio e o fim vem corroer
as vísceras, que ocultamos como a Terra."
Fiama Hasse Pais Brandão
in Cenas Vivas

Abraço e gosto por ler.