Poemas : 

Val’Ouro em três actos

 
O não vale a pena parece estar na moda,
ao invés do olhar do poeta,
tampouco a caneta, olhares de viés
num eterno, interno,
andar à roda.

Não vale a pena, já foi feito,
melhor é ficar por fazer.
Cada conceito, viver, começa nos próprios pés,
algo
que incomoda.

Vivemos sobrepostos
à espera que o espaço passe.

Nem vale a pena a cena do primeiro passo.
Parece.

Mas a vida
ela acontece.


Sou fiel ao ardor,
amo esta espécie de verão
que de longe me vem morrer às mãos
e juro que ao fazer da palavra
morada do silêncio
não há outra razão.

Eugénio de Andrade

Saibam que agradeço todos os comentários.
Por regra, não respondo.

 
Autor
Rogério Beça
 
Texto
Data
Leituras
520
Favoritos
1
Licença
Esta obra está protegida pela licença Creative Commons
11 pontos
1
1
1
Os comentários são de propriedade de seus respectivos autores. Não somos responsáveis pelo seu conteúdo.

Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 05/10/2019 09:45  Atualizado: 05/10/2019 09:45
 Re: Val’Ouro em três actos
.
Sou daqueles que gosta de andar à roda. Às vezes, abro um pouco em espiral para não morrer ignorante (em vão certamente, mas deixemo-nos disso, que a autocomiseração fica mal e distrai do importante).
Poemas que refletem sobre poemas que falam sobre o poema que é viver... continuam a dizer-me muito.
Do reverso do entusiasmo (?) pessoano ao acontecer (alguém se lembra do Carlos Pinto Coelho?) que nos contraria e surpreende, há ainda tanto por dizer, tanto para experimentar, nas palavras e na carne.
Para quem gosta de poesia, versos como "Vivemos sobrepostos / à espera que o espaço passe" dão sentido a mais um dia, quando parece já não o ter.
Obrigado, irmão.