Poemas : 

Esquecimento

 
Quando o pássaro deixou a marca de sangue em sua arte
A angústia comandava suas posições, daqui até o infinito
Projetando-se sobre todo pensamento infante e desvalido
Nem toda porfia vence a tormenta desse núcleo doloroso

Quais ignotas razões se desfiam a conduzir qual caminho
Qual vertigem que o coração adentra esfumando a razão
A seguir, após dominar os sentidos, o conduz ao abismo
Tudo se faz frio tomado de silêncio, só um tropel remoto

Em seu clamor insepulto, há ecos de memórias multicores
Fragmentos de tão caras faces, solenes bailam no passado
Vozes a recitar juras, imagens lúcidas e vívidas qual fotos
De tempos memoráveis deixados na fria escada do tempo

O tempo a tudo anuvia assim o brilho fulvo, o sorriso largo
Deslustrando a luz por detrás de nossas pálpebras caladas
Resta tão somente um aceno lânguido, um lampejo isolado
Esse rumor tão metálico que insiste em me espreitar a dor

É o prenúncio do esquecimento gerado no crisol do tédio
No pêndulo mais arcaico das horas, frenético e incessável
Cada dia nos rouba pequenas estilhas da felicidade vivida
No oblívio semeado, o pássaro esquece que já teve asas


"Somos apenas duas almas perdidas/Nadando n'um aquário ano após ano/Correndo sobre o mesmo velho chão/E o que nós encontramos? Só os mesmos velhos medos" (Gilmour/Waters)


 
Autor
Sergius Dizioli
 
Texto
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Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 23/03/2022 22:08  Atualizado: 23/03/2022 22:08
 Re: Esquecimento
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Não sei se é triste ou melancólico, eu acho que a experiência de cada pessoa é única, mas os versos que me tocou foi a parte que o tempo anuvia tudo, como se tudo fosse apagando, e os pássaros que esquecem como voar.

Você está certo. Talvez não!
Mudamos juntamente com todos ao nosso redor. A pessoa dá um passo para trás e também damos um passo para atrás

Foi bom ler seu poema e ter a oportunidade de refletir sobre esse esfriamento de tudo. Pode até ser mais difícil o pássaro voltar voar mas suas asas estão lá.

Abraços!