Debruço-me sobre o rio e escrevo
pontes dentro de mim.
Penso em nós
límpidas palavras de água a tocarem-nos os rostos
caminhos invisíveis
a transporem as margens.
Na ponta dos meus dedos, o rio
é voo impossível onde me abrigo.
Viagem inconfessa do coração dos pássaros.
Deixo-me tocar pelo silêncio das horas
e tudo chega e existe junto de mim.
Repouso os olhos cansados
nos barcos demorados na espiral do poema.
Canções antigas. Fascínios que dormitam.
Desarrumo as memórias pelo céu.
É necessário partir
e anunciar as sementes da manhã.