Poemas : 

Semideusa de oração

 

A fala crava-se
como fontenário,
à sombra. Espera
o cântaro com a boca em secura.

Também a palavra se finca,
na sombra.
Oculta-se entre galhos, fustigada
pelo oculto súbito.

No sermão da pedra,
com um fósforo frio, entoa
lírios negros,
pelo lodo da mão.

Quebra-se, no pulmão da água.
Em obsidiana ilusão.
Harmoniza-se, no silêncio.
Em semideusa de oração.












Zita Viegas















 
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atizviegas68
 
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Enviado por Tópico
Rogério Beça
Publicado: 22/03/2023 05:01  Atualizado: 22/03/2023 05:02
Usuário desde: 06/11/2007
Localidade:
Mensagens: 1929
 Re: Semideusa de oração
Olá,
Ler-te é sempre um prazer. Pena ser uma raridade.
Talvez por isso sejas mais preciosa.
Ainda assim, sempre que apareces tens uma incrível marca de qualidade.

Ela é notória no uso inteligente e rebuscado de metáforas, nos jogos de palavras, no vocabulário aprumado, na escolha de temas universais que dás um cunho universal e pessoal simultaneamente.

Há muitos poucos eus e meus na tua escrita.
Há referências mitológicas e históricas escondidas.
Há sentido de humor.
Há o uso das repetições de forma hábil e equilibrada.

Há figuras de estilo que, pela minha própria ignorância, nem sei detectar.

Há também, e talvez tão importante e na maioria dos teus poemas, um sentido de moral impecável que não oprime. Mas que se indigna e é activo.

Este não é um elogio fortuito.
Quem conhece a tua escrita sabe tudo isto de cor.


Obrigado pelo teu contributo a este site.

Contigo por cá, sei que continuarão a haver poemas.