Poemas -> Introspecção : 

Alzheimer

 
Os relógios traiçoeiros se apropriam da face das horas
Enquanto buscamos aquilo que chamamos nosso lugar
A esquivar-nos de sóis candentes, cada manhã da vida
O tempo rola indiferente moendo todos nossos sonhos
Enrugando nossas faces, consumindo o que trazíamos
Nas oficinas de nossas mentes, até chegar a alienação
Moendo, roendo, consumindo, reduzindo, ferindo-nos
E as lembranças rodopiam, misturando e confundindo
O estranho mistério que nos sequestra entes queridos
Tão estranho quanto o nome, que esqueço quem deu
Como se o destino partisse antes deixando inacabado
Esse relógio que desfolha a memória qual os ciprestes
Levando todos monumentos, as testemunhas do viver
Sem esperança ou recompensa no horror da incerteza
Ricos ou pobres enfim igualados em uma única mazela
Pouco importa, um acaso inidôneo a apagar todos nós



"Somos apenas duas almas perdidas/Nadando n'um aquário ano após ano/Correndo sobre o mesmo velho chão/E o que nós encontramos? Só os mesmos velhos medos" (Gilmour/Waters)


Doença descoberta por volta de 1915 pelo psiquiatra alemão que lhe deu o nome, tem origem desconhecida, bem como as formas de prevenção. Alcança 1 em cada 6 mulheres e 1 em cada 10 homens. Já matou desde a descoberta, mais de 50 milhões de pessoas. A data das campanhas de prevenção começam em setembro... mas porque esperar até lá?
 
Autor
Sergius Dizioli
 
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Enviado por Tópico
Marcyflor
Publicado: 27/03/2023 18:40  Atualizado: 27/03/2023 18:40
Membro de honra
Usuário desde: 13/07/2015
Localidade:
Mensagens: 367
 Re: Alzheimer
Boa tarde nobre poeta!

É dessa forma mesmo que descrevestes.
E embora tenham descoberto essa enfermidade a tantos anos,até os dias de hoje não foram capazes de achar uma cura...os medicamentos são ineficazes e muitas das vezes pioram o estado do paciente ao invés de retardar.

Felicitações,paz e luz!


Enviado por Tópico
HorrorisCausa
Publicado: 28/03/2023 17:16  Atualizado: 28/03/2023 17:16
Administrador
Usuário desde: 15/02/2007
Localidade: Porto
Mensagens: 3594
 Re: Alzheimer p/ Sergius.Mr
olá Sergius

trazes à memoria ou à desmemoria uma doença que afeta uma percentagem bastante significativa da população mundial.
e neste texto de forma tão sensível toca a perda das memórias, aprendizagens até as mais básicas como engolir ou respirar até a própria identidade e de quem se ama e se é amado.

atenciosamente
HC


Enviado por Tópico
Aline Lima
Publicado: 28/03/2023 19:28  Atualizado: 28/03/2023 19:28
Usuário desde: 02/04/2012
Localidade: Brasília- Brasil
Mensagens: 594
 Re: Alzheimer
Admirável Poeta, você transcreveu com muita sensibilidade sobre algo tão duro e inegociável.

“Meus ontens estão desaparecendo e meus amanhãs são incertos. Então, para que eu vivo? Vivo para cada dia.
Vivo o presente. Num amanhã próximo. Esquecerei que estive aqui diante de vocês " Para Sempre Alice.
Parabéns pelo texto tão delicado.