Vazio
Hoje não encontro o rimador
Talvez perdido em mares sem fundo, céus sem estrelas
Não sei onde deixou seu sorriso, ternura, alegria
De repente, o alçapão se abriu de encontro ao vazio
Tudo ficou incontrolável de junção ao nada
O que fazia sentido evaporou-se na sombra do tempo
Turbilhões de emoções rodopiaram como pássaros sem asas
O astro rei fez compasso de espera, mas tudo estava traçado
Tudo se diluiu no vácuo das estrelas
As palavras transpuseram os dedos com olhar embasbacado e sofrido
As lágrimas secaram suas nascentes.
Saberás um dia a que vieste?
Sem saber de mim
deslizo pela correria do tempo
em passos lentos ….avanço agitada
ao encontro do amanha ….incerto
Saberás um dia a que vieste?
Desliza um brilho pelos meus olhos já baços
um brilho que encegueira quem dele duvida
poderás falar eloquentemente, em discurso
mas poderás ver-te, como puzzle da vida?
Saberás um dia a que vieste?
Na calada da noite adormeço
em contante insónia, permaneço
nem a quentura do teu olhar acalma
esta ânsia ansiosa de querer-te
Amanhece, igual a tantas outras manhãs
desliso por aí, onde permanece o brilho dos meus olhos
febrilmente permaneço, quieta
Será que hoje saberei ao que vim?
E tu, será que hoje também saberás se virás?
Escrito 27/04/23
Belo, é o amor.
Noites infindáveis de pura escuridão
Quando não te encontro a meu lado
Sinto a falta do pulsar do teu coração
Sempre que do meu, está separado
Envolve meu corpo em teus beijos feitos lume
Sente meu pulsar de veias em chama ardente
Faz das tuas caricias fragrâncias de perfume
Enlaça-te em mim em faísca incandescente
Faz-me teu, com todas as forças do teu ser
Desata os laços de todos os teus medos
Desnuda-me o corpo e a alma ao teu querer
Mergulha fundo e descobre meus segredos
Leva-me para o teu mar por desbravar
Acaba com estas réstias, de pouco siso
Deixa-me sentir os cantos do teu amar
Conduz-me aos palácios do teu paraíso...
Quando me olhas assim
Quando me olhas assim
Eu sorrio ao ver tanta ternura a espelhar-se
no teu rosto, de olhos amendoados, luminosos
perscrutando o que os meus, meigos, mas vivos
cheios de ardor te respondem sempre ansiosos.
Mergulho neles indo mesmo ao fundo, afogo-me
falta-me o ar o coração bate em grande arritmia.
Uns braços fortes, enlaçam-me, apertam, aspiro
abro os olhos e encontro os teus a boca tremia.
A barba roça e arranha a minha face esbraseada
sinto o despertar e a vontade de te afagar também
as mãos entrelaçam, as bocas unem-se, num nada.
Vivemos aquele momento de amor, sem restrição
sentimos que aquela loucura era um enorme ensejo,
o mundo, éramos só os dois e a nossa grande paixão.
"Nos teu dedos" Poema escrito e declamado por: Vóny Ferreira
A SUA CHEGADA
Eu bem quis segurar o instante
minha palma não foi o bastante
esvaiu-se de mim como sopro
seu gosto, seu cheiro, seu som
nem da sua alma a tessitura
uma réstia do seu jeito de amar
eu não pude sustentar
vai-se às pressas, a madrugada
fustiga o sol que a clareia
nosso tempo é sem rumo, e um mote
as nossas vidas colcheia
antes que o pensamento divague
por aí, a sua procura.
cerro os olhos pra guardar
dos seus, ó Deus!...O brilho do amor
que eu vi logo na sua chegada!
Maria Lucia (Centelha Luminosa)
As mãos de minha mãe
As mãos de minha Mãe
As suas mãos já estavam gastas e cansadas
mas como eram hábeis, de delicada estrutura,
tudo fazia com delicadeza, emprestava sentimento
até nos bolos, pratos deliciosos, uma gostosura.
Com um ar sempre tranquilo e sorriso maroto
desconcertava-nos com as suas frases engraçadas.
Quanto aos nossos erros gramaticais, dizia séria,
quando leio coso as palavras, não ficam alinhavadas
Nessa altura achava estranha aquela dita costura
que a linha era outra não a dos bordados ao serão
mas a da nossa conduta, privilegiando a cultura.
Modos educados, seriedade, ter classe, um sorriso
aprendendo cada dia que a sã alegria agrada a Deus.
e cosendo o amor ao coração, nada mais era preciso.
Traços do pintor
.
Sonhas-me
Em traços pincelados
No mais belo azul do grande pintor
Traços agitados
Em ventos de girassóis
Campos amarelos libertados
Das vestes dos sóis.
Vives-me
Nesses quadros, nos céus
Que de sereno, filhos não são
Mente turbulenta camuflada
De mil véus
Escondendo a paixão.
Matas-me
Em íris, afogada
Sem medos amargurados
Nem de amor saciada,
Na tua firme calma
Do anil alimentada.
Entre laços e fitas de cetim
Entre laços e fitas de cetim
A luz macia da manhã resvala entre as cortinas
leves e sedosas que caem e se arrastam no chão
brilhante, de mosaicos de fina moldura rosada
de um branco marmoreado e no meio um florão.
O mobiliário de estilo antigo é rico, de filete ourado,
sofás acolchoados e pregos capitatos por remate.
Na mesa uma linda jarra de porcelana, transparente
repleta de rosas perfumadas, sobre renda de cor mate.
Ao piano uma figura de estilo elegante e esguia, toca
uma bela sonata, composição delicada e melodiosa
com uma subtileza de fios tecidos numa velha roca!
Uma tela de esplendor e de um sentimento sem fim
que me deslumbra, vejo entrar magia no meu coração,
abro os braços vejo o amor, entre laços e fitas de cetim!
Silhuetas
Silhuetas
Na silhueta de um único verso
Branqueias brandos sorrisos
De vidas apaixonadas em vão
E o vento volteia teus pensamentos
Dos mais simples aos feios embustes
Enquanto desperdiças todo o amor
Que eu te continuo a dedicar
Tua luz é como aquela fria
Pedra que precede o soalho
E é ainda o riso por nascer
Na face lívida o doce sorriso
De tudo o que tu definires
O será para todo o sempre
Queria dizer ao Mundo que não,
Que aqui tu já não pertences
E de olhos escancarados tentava em vão
Dar ênfase à verdade do que dizia
Perante o teu semblante tão perscrutador
Nada havia de conseguir mentir-te
Conhecias-me demasiado bem
Para te convencer do que não era.
E, numa silhueta todo o meu amor se desenhava à tua frente
Para falar da infinidade do quanto ainda te amo.
Eureka
Janeiro 2016