O tempo, dizem, é linear.
Mas há olhos que o veem como um círculo viciado,
Um eterno retorno de silêncios disfarçados de novidade.
Para esses olhos, o tempo não é estrada —
É espelho.
A mentira do tempo não está nos segundos,
Mas na ideia de progresso.
Quem vê além do tic-tac
Percebe:
Crescer, envelhecer, seguir —
São apenas formas sofisticadas de esquecer o agora.
O olhar que desconfia do tempo
Sabe que passado e futuro são invenções da memória.
Só o instante existe,
Mas é tão breve que precisamos mentir para suportá-lo.
Há olhos que veem as rugas como mapas,
Não de onde estivemos,
Mas de todas as versões que jamais seremos.
O tempo, ali, é só ausência vestida de pele.
O tempo é uma linguagem que aprendemos a temer.
Mas quem vê sua mentira,
Fala outra língua —
Uma feita de pausas,
De eternidades contidas num só olhar.
Poema: Odair José, Poeta Cacerense