Poemas : 

Noturno 7.0

 
Na vertigem do tempo interior, nos perdemos sem saber o porquê
Os sentidos desgarrados não concedem luz, não nos encontramos
Nos notamos incompletos, sem a consciência veloz do pensamento
E vamos embora pelo mundo, nos aproximando de múltiplas coisas
Mas nada é o real e, de completo, o que resta é apenas o silêncio
Por vezes, parece que o real é um copo de conhaque e um blues
E que miragens não são mais que um estágio elementar da verdade
Restamos cada vez mais sós, ao abandonar o nosso voo de pássaro

Saímos pela porta dos fundos a sorrir, sem que ninguém entenda
O que há de transfigurado nisso tudo, se talvez murmurássemos
Se os fizéssemos pensar que somos justamente como o esperado
Então se satisfariam se nos mostrássemos ser o grande usurpado
É do que o passar do tempo nos livra: da obrigação de ser normal
De corresponder à conduta rude de um tipo normalizado de viver
Integrar a ficto-estabelecida verdade é animar e povoar a solidão
Onde as sensações devam ser as pertinentes à consciência geral

Olho os gerânios no jardim, já derramei muitas lágrimas ao chão
Já sofri muitas feridas profundas, porém isso reside no passado
Aprendi que a plenitude está no eterno fluir de princípios e fins
Ouso proteger-me num círculo invisível na minha imortal rebeldia
Onde ninguém me imponha aquilo o que devo entender por beleza
Mas que tudo seja o amálgama de noções que faz do carvão, luz
Onde sei que, não sendo imortal, posso viver segundo a segundo
Desdobrar cada coisa no melhor que dela eu possa vir a conceber

Nem julgue que este poeta escreva um poema sem falar do amor
Se de tudo que há na vida é o amor o mais complexo sentimento
O amor não é a chegada, é o caminho e assim terá começo e fim
Como as rosas que nascem, nos encantam e perfumam e se vão
Mas nem por isso deixamos de querer rever sua peculiar beleza
Nem a roseira deixará de ser roseira caso não se cubra de flores
Ah, dirão, o amor é dor. Que o seja, sem amor e dor é só o vazio
O amor é luz radiante, é o sonho, o fogo lento que nos consome

Não se olvide o sonho, razão além da razão, de haver o amanhã
O sonho é o fogo que acolhe nossos insucessos e os transmuta
Que se subleva aos furacões e deles faz a brisa que sopra lenta
O sonho é seiva a animar a planta, antes do primeiro raio de sol
De sonho, inconformismo, amor e rebeldia se vão setenta anos
Os quais não nego, mas não os carrego como um pesado fardo
Ainda guardo no peito pequenas ilusões, como frutos maduros
Ergo o cálice, onde não cabem lamentos, apenas rubros taninos


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A cada ano um novo noturno e domingo terei o prazer de sacramentar mais este.
 
Autor
Sergius Dizioli
 
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