Hoje, ao pensar no jantar,
triturei minha própria carne,
olhei os temperos do silêncio,
e acrescentei tudo que faltava:
a pimenta do desejo,
o sal da saudade,
a cebola das lágrimas,
o alho das memórias,
e o açafrão do infinito.
Misturei tudo no fogo do coração,
refoguei com o aroma da ausência,
e o cheiro subiu,
repleto de falta e de esperança.
Cozinhei a alma, adicionei água às emoções,
percebi que faltava algo,
e então chorei —
gotas que se misturaram ao tempero,
à carne, ao aroma que ficou no ar,
no cheiro da minha carne,
nos sonhos que se perderam na memória.
Senti aquele aroma,
purifiquei-me na essência do meu próprio molho,
feito de lembranças e desejos,
de ansiedade e de querências,
de paixão e de vazio.
Naquele instante, a falta era tudo o que me restava,
faltava o meu todo,
faltava o eu que se dispersa no silêncio.
Reservei a boca,
encheu-se de água,
meus sentidos se dilaceraram,
no cérebro, nas vísceras,
nas veias,
no pulsar do coração,
no sangue que pulsa e clama.
E então, chegou a hora do jantar.
Olhei os pratos na mesa,
a fome que arde,
a vontade que não se sacia,
e servi, com delicadeza,
aquela carne moída de emoções,
meus sentimentos triturados na ausência,
na falta que me consome.
Servi um pouco de mim a cada um,
mesmo que silenciosamente,
pois na quietude do meu ser,
a poesia se faz carne e desejo.
Por Chris Fonte Katz
Sou Mundos!
Chris