Houve um lugar, não sei se existiu ou se fui eu quem o inventou para não desaparecer por completo. Era feito de tardes douradas e silêncios que abraçavam, com cheiro de terra molhada e o barulho manso de coisas que não precisavam de ostentação para se revelarem.
Hoje tento tocar seus contornos, mas o tempo é um apagador de desenhos ultrapassados. Caminho por ruas que não reconhecem meus passos, casas que não me olham de volta. O que foi morada virou miragem.
Um lugar perdido não tem endereço, apenas mora nas dobras da memória onde os relógios não funcionam e as portas rangem sozinhas. Tento alcançá-lo às vezes, em noites onde a saudade fala, mas ele escapa, como quem ainda me ama e, simplesmente, não sabe como voltas.
Talvez o lugar não tenha se perdido, Quem sabe mudou de roupa, de nome, de pele... Ou talvez eu que esteja perdida, vagando entre ruínas de um tempo que só eu ainda habito.
Ausente, aquele lugar ainda molda-me. Ainda que minhas paredes estejam caídas, que meus jardins já tenham secado, que eu tenha caminhos que não levam mais a lugar nenhum, há certa beleza em meio a neblina: o lugar perdido ensina-me que há eternidades que só existem dentro da gente.