Poemas : 

Poema desfigurado

 
Não tem rotundas
nem semáforos,
não é montanha, nem vale,
não sobe para cima nem desce para baixo,

eu acho.

É vento que não assobia,
neve fria que murmura,
sol que arrefece desde que nasce, até se pôr
eu acho

que não sobe para cima nem desce para baixo.

A areia movediça de rochedo,
tem um medo que se odeia e atiça,
tem e não tem,
não tem, e tem.

Como um rio que corre para a nascente
ou o sol que nasce no poente;
podem me dar da sua água para beber,
do seu calor para, ao meio-dia, me aquecer

mato a sede
mato o frio.

Tal como o amar, ou a morte
não tem exemplo
nem explicação

talvez
não seja verdade que nos domina,
alimento
que se rumina.


Sou fiel ao ardor,
amo esta espécie de verão
que de longe me vem morrer às mãos
e juro que ao fazer da palavra
morada do silêncio
não há outra razão.

Eugénio de Andrade

Saibam que agradeço todos os comentários.
Por regra, não respondo.

 
Autor
Rogério Beça
 
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Enviado por Tópico
Beatrix
Publicado: 27/06/2025 06:36  Atualizado: 27/06/2025 06:36
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Usuário desde: 23/05/2024
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Mensagens: 658
 Re: Poema desfigurado / Rogério Beça
.

Tal como o amar ou a morte,
não tem exemplo
nem explicação

É vento que não assobia,
que murmura à neve fria:
a areia movediça
tem um medo que se atiça

sol que arrefece desde que nasce, até se pôr
que não sobe para cima, nem desce para baixo
verdade que nos domina,
alimento
que se rumina.


Olá, Rogério.
Brinquei um bocado com o teu lindo poema. Espero que não te importes.
Mania minha.
Muito engenhoso, especialmente interessante nos primeiros versos em que te entretens com pleonasmos e contradições avessas à natureza das coisas.
No conjunto, uma delícia.
Obrigada.

Ab
Beatrix