Vilma insistia em adormecer para o poente. Era um nome que lhe tinham posto, e convencia se que, por ser estranho, fora do comum, a obrigava a seguir um caminho de nao retorno, que a distinguisse da normalidade enfadonha. Nao é que os últimos raios de sol de um dia ainda entrassem, desmamados, pela janela do quarto, quando ia dormir. Mas o propósito era fechar os olhos sempre para o mesmo sitio. Havia livros constantes em cima da mesa de cabeceira de pinho, e poderia dizer se que fossem um obstáculo à luz. Mas se ja era noite escura, isso nem se colocava. E havia ainda o pormenor de Vilma exigir de si mesma o contacto da pele nua, com a suavidade dos lençóis. Eventuais companhias não se colocavam. Vilma forçava se a soltos pensamentos de prados acastanhados, algures no que conhecia da Escandinávia. Que lhe deixassem os pulmões ficcionalmente cheios de ar, o que providenciava aquele torpor cerebral que conhecia, mas preferia não definir. E o sorriso. O leve esboço de art deco, que a emoldurava como se estivesse perdida em qualquer museu do mundo. O amanhecer fazia terminar o bordar subtil do vestido transparente que Vilma desejava para si.
Fraco para o tempo, forte para o tempo a passar