~5~
antes
que a chuva
beba os rios
antes
que polvos
lavrem nuvens
no útero de deus
antes
que o sol renuncie
o pêndulo da sua caligrafia
antes de tudo:
- matar-te-ei
para que a vida te habite.
De_gelo
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De_gelo
por Betha Mendonça
espelho d’água reflete
montanhas rochosas
que degelam em mim
* Partes de mim
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LÁGRIMA SEM LÁGRIMA
O sertanejo levanta as mãos calejadas
ao horizonte infindo, no seu olhar o reflexo
de uma luz fria, desesperada, com rajadas
de assombros, de temor. Momento complexo.
Roga a Deus orações comedidas, engajadas
de alentos, de desejos simples, desconexo
com riqueza, com sofisticação, alijadas
de arrogância. Ora: estático, só, perplexo.
A paisagem cruel, tórrida e castigante,
potencializa a aflição, destitui a confiança,
arrebenta a fé, provoca dor instigante.
Paradoxo a tudo isso vem a matéria prima
da vida: a Fortaleza Divina, a pujança;
mesmo que derrame lágrima sem lágrima.
Fortaleza,CE, 21 de novembro de 2015.
SONETO RETRATANDO O CENÁRIO DE SECA QUE VIVE O NORDESTE BRASILEIRO.
Amor sem lençol
A beleza...
Duma praia distante!
Onde o sol cobre o mar.
Reflete a luz brilhante,
Dos olhos querendo amar!
Teu olhar...
Nessa tarde semblante,
Um canto vem entoar!
Sob o céu elegante,
Anda-me a remar.
O mar...
Com ondas rasantes,
Chama-nos para mergulhar.
A água buscando horizontes,
Na areia vem nos molhar.
Teu corpo...
Molhado nas curvas dos deuses,
Sobre o meu vem consagrar.
Desde a pele aos dentes,
Teu calor vem enxugar!
O sol...
Pinta um sorriso na nuvem!
Marcando a tarde de verão.
Nasce clareando a paisagem,
Adormece aquecendo a solidão!
O amor...
Nascente como fruto natural...
Regado sob a luz do sol.
Tornou-se ainda mais especial
Sendo consumado sem lençol!
02/03/2010
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Van
Um momento meu
Despi-me para ti
Dos artifícios
Da vaidade da Mulher
E brinquei na água
Tal menina
Sem maldade.
Ali, na tua frente
Estive nua
De jogos de sedução
E afoguei o ego
Na carne que despojei
Na porta da paixão.
Ficou a alma
E foi com ela
Que te senti
Navegando
Noutras marés
Longe de mim.
Desejaste o corpo
Que não tinha
Nas gotas de água
Escorrendo na pele
Que pensavas ser minha
Mas não era.
Sou para além
Do que vias.
Quis mostrar-te
O outro lado
Num momento meu
Que desconhecias.
Eu senti a alma
Tão calma
De despreocupada
Que estava
Sem pensar em ti.
Gostava de saber…
Sentiste prazer?
Inferno
Inferno
Tenho muito medo do abominável Inferno
Onde os lençois são de mármore quentes
Onde o homem convive com as serpentes
Não morre, mas queima no fogo eterno
Tenho muito medo do terrível Inferno
Onde há muito choro e ranger de dentes
Onde as águas que se toma são ferventes
E de uma prisão perpétua se é interno
Sobre o inferno ainda bem pouco se sabe
Porém, se a bíblia expressar a verdade
Este fato com o tempo vai se consumar
Aí, talvez, penso que seja muito tarde
E não vai resolver em nada fazer alarde
Pois na realidade não há como se salvar.
jmd/Maringá, 29.10.12
~1~
gémea
da água
águia e meia
luz oblíqua
estampada
no relevo
da infância
metáfora
na carne do tempo
primeira
e última esplanada
de presságios
- onda!!
Lugares
Os lugares estão,
Ocupados por fantasmas.
Numa sofá, no vão da escada.
Repletos de histórias,
De atmosfera.
As pessoas partem, mas
Permanecem os retratos em
Momentos felizes, em...
Eternos descontentamentos.
Os sentimentos estão ali, acolá,
Em qualquer parte sobrepostos,
Sobrecarregados, saturados.
O rio leva apenas as águas,
Mas não as memórias.
Sedimentadas entre os seixos,
Reflete o sorriso distante,
Na superfície num dia de Sol.
Lugares escuros na noite,
Estão entre as taças de vinhos,
Na toalha manchada, numa nota
Deixada na mesa pro garçom.
Poema e imagem do autor
Êita chuvinha
Chuva miúda cai
A terra feliz saúda
O pássaro da casa sai
A coruja observa caluda
Êita chuvinha gostosa
Fina e geladinha
Agradece a terra amorosa
Os rios...cada gotinha
De gota em gota
Faz um bilhão
Quanta água...
De meu coração
As lágrimas são gotas.
Quanta mágoa!!!!
Nereida
Água
No alto nasci,
do alto fui descendo.
Logo me apercebi
que estava crescendo.
Meus irmãos afluentes
comigo o vale desceram.
Ondulámos bem contentes
e mais irmãos acolheram.
Mesmo junto a Vila Verde,
um rio já formámos.....
deram-lhe o nome de Cávado,
que belo nome arranjámos!
Muitas saudades temos nós,
do tempo em que nos encontrámos.
Agora fomos ter à foz,
e ao mar nos abraçámos.