De_gelo
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De_gelo
por Betha Mendonça
espelho d’água reflete
montanhas rochosas
que degelam em mim
* Partes de mim
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LÁGRIMA SEM LÁGRIMA
O sertanejo levanta as mãos calejadas
ao horizonte infindo, no seu olhar o reflexo
de uma luz fria, desesperada, com rajadas
de assombros, de temor. Momento complexo.
Roga a Deus orações comedidas, engajadas
de alentos, de desejos simples, desconexo
com riqueza, com sofisticação, alijadas
de arrogância. Ora: estático, só, perplexo.
A paisagem cruel, tórrida e castigante,
potencializa a aflição, destitui a confiança,
arrebenta a fé, provoca dor instigante.
Paradoxo a tudo isso vem a matéria prima
da vida: a Fortaleza Divina, a pujança;
mesmo que derrame lágrima sem lágrima.
Fortaleza,CE, 21 de novembro de 2015.
SONETO RETRATANDO O CENÁRIO DE SECA QUE VIVE O NORDESTE BRASILEIRO.
Amor sem lençol
A beleza...
Duma praia distante!
Onde o sol cobre o mar.
Reflete a luz brilhante,
Dos olhos querendo amar!
Teu olhar...
Nessa tarde semblante,
Um canto vem entoar!
Sob o céu elegante,
Anda-me a remar.
O mar...
Com ondas rasantes,
Chama-nos para mergulhar.
A água buscando horizontes,
Na areia vem nos molhar.
Teu corpo...
Molhado nas curvas dos deuses,
Sobre o meu vem consagrar.
Desde a pele aos dentes,
Teu calor vem enxugar!
O sol...
Pinta um sorriso na nuvem!
Marcando a tarde de verão.
Nasce clareando a paisagem,
Adormece aquecendo a solidão!
O amor...
Nascente como fruto natural...
Regado sob a luz do sol.
Tornou-se ainda mais especial
Sendo consumado sem lençol!
02/03/2010
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Van
Um momento meu
Despi-me para ti
Dos artifícios
Da vaidade da Mulher
E brinquei na água
Tal menina
Sem maldade.
Ali, na tua frente
Estive nua
De jogos de sedução
E afoguei o ego
Na carne que despojei
Na porta da paixão.
Ficou a alma
E foi com ela
Que te senti
Navegando
Noutras marés
Longe de mim.
Desejaste o corpo
Que não tinha
Nas gotas de água
Escorrendo na pele
Que pensavas ser minha
Mas não era.
Sou para além
Do que vias.
Quis mostrar-te
O outro lado
Num momento meu
Que desconhecias.
Eu senti a alma
Tão calma
De despreocupada
Que estava
Sem pensar em ti.
Gostava de saber…
Sentiste prazer?
Inferno
Inferno
Tenho muito medo do abominável Inferno
Onde os lençois são de mármore quentes
Onde o homem convive com as serpentes
Não morre, mas queima no fogo eterno
Tenho muito medo do terrível Inferno
Onde há muito choro e ranger de dentes
Onde as águas que se toma são ferventes
E de uma prisão perpétua se é interno
Sobre o inferno ainda bem pouco se sabe
Porém, se a bíblia expressar a verdade
Este fato com o tempo vai se consumar
Aí, talvez, penso que seja muito tarde
E não vai resolver em nada fazer alarde
Pois na realidade não há como se salvar.
jmd/Maringá, 29.10.12
A transmutação da água ao vinho
Acho que custou mas parece que o visitante entendeu o espírito da coisa. A água era tão cristalina e fresca que centenas de ovelhas desgarram-se do rebanho e passaram a caminhar por si mesmas, à procura de dinheiro. Uma delas conseguira atravessar o oceano e chegar em Nova Deli, mas deixou o cartão de pessoa física na cabine do navio. Voltou para o transatlântico quando o governo já havia decretada a falência do banco. Foi assim que não pode sequer deixar o motel outra vez sem vestir um xale branco, indumentária comum a todos os imigrantes recém chegados pelo mar. Ademais, não custava que, ao sair, desse uns trocados para um cafezinho ao faquir refestelado na cama de pregos, embalando uma naja ao som de gaita de fole.
Mas estava com sorte naquela noite. A hospitalidade dos anfitriões foi além das expectativas. Sempre ouvira falar que aquele pais tinha uma gente sem educação e agressiva. Ficou satisfeita por ter recebido tantas ofertas de emprego quanto foram as promessas de casamento. Era a vida que gostaria de ter. Poderia ser uma bobagem, coisas de somenos importância, mas naquele exato momento o corpo começou a dar sinais de cansaço, exigindo mais que um bom prato de macarrão parafuso ao alho e óleo. Por isso que todos ali sabiam que para melhor crescimento e desenvolvimento das mudas,o substrato deveria conter uma boa porção de areia lavada.
Aquelas cenas que passavam por seus olhos pasmados não foram inventadas, nem tecidas por fértil imaginação. Tudo se passou como sempre passa, considerando que até as uvas passam nos moinhos dos lagares para num ato de transmutação se tornarem o mais precioso vinho. Nem todos, é claro. Se é que me entendem...
Lamentos na praia
Lamentos na praia
Areias e águas nesta linda praia azul
Não há flores, mas tudo é bonito
Olhando para o norte ou para o sul
A minha vista se depara ao infinito
Há uma paz na orla que me encanta
Tento soltar um grito, mas sufocado
Não consigo tirar o som da garganta
Então eu me sinto só e desamparado
Silenciosos são meus ais mesquinhos
Não vejo nada de bom nos caminhos
Só o vento se remexe e me consola
Ao voltar ouço um tango bem antigo
Parece contar o que ocorre comigo
Que sai da agulha duma antiga vitrola.
jmd/Maringá, 28.12.16
Soubesse eu que eras ténue!
soubesse eu que eras ténue!
brisa dos cinco elementos.
formada no rompimento dos tecidos humanos
ou em desejos momentâneos.
já idos! em Março.
vislumbrei-te sem halo.
intacta!
como a lua despida ao Outono.
e aceitaste-me com um sorriso de estrelas.
foi no hausto do instante,
inebriado pela miríade dos sentires,
que me deixei,
despercebidamente, sucumbir.
o tempo foi-se, exausto.
e nem sequer, os teus lábios provei.
Soubesse eu que eras ténue!
mas não soube.
e despojando-me das vestes artificiais,
fui pregar às areias do vento.
o voo das aves corria no fluir das lágrimas
ou na força vital que pulsa nas artérias,
e foi nas águas do deserto
que reencontrei a dupla hélice da vida.
a lembrança? deixou de estar corrompida.
falhei o teu breve partir.
mas sei-te ténue, sei-te minha.
no profundo das sequóias vermelhas.
in Comentários na face da Noite
VERDADE DA ÁGUA
Onde procuro pela verdade.Encontro-a.Camuflada.
Oxalá ela fosse água.
A Aflorar,a erguer-se.
Sem querer ir contra a besta.Só ser água.
A emergir,a vir á tona.
Dizer como Arquimedes,a célebre frase "eureka"
Descobri-la. a pura.a transparente.
Verdade.
SEMEANO OLIVEIRA
SOU ÁGUA CRISTALINA
Sou água cristalina que da terra brota
Minhas nascentes são preciosidades
Neste planeta que ainda é raridade
Pois outra vida não foi encontrada
Formando uma correnteza a fluir
Saciando a sede da humanidade
Saciando a sede das plantações
Saciando a sede de todas as nações
Saciando a sede da natureza em geral
Sem mim não haverá vida não
Cuidem das nascentes como jóias raras
Dela todos são dependentes
Temos apenas um quarto de terra
Neste planeta azulado pela água
A maior parte não se pode beber
E hoje já se fala na extinção dela
Esta fonte de vida para todos
Sem falar dos que morrem
Em muitos países pela falta dela
Aqui mesmo no Brasil temos
Lugares onde a água é escassa
Se o meu grito assim como de muitos
Fossem ecoados pela terra toda
Teriam mais consciência e cuidado
Com a água que é inutilizada
Principalmente pelas indústrias
Sou água cristalina que brilho como diamante
Quanto caio da cachoeira sob o sol radiante
Ouvimos o som dos seus ecos de socorro
Tentamos tapar os ouvidos, mas não há como
Temos que gritar em conjunto fazendo eco no mundo
Sou água cristalina
Por favor, me socorra
Não me deixe secar nem evaporar
Não tapem minhas nascentes estou morrendo
Quero ficar aqui e saciar a sede de todos
Sou água cristalina que faço a diferença neste planeta
Nascente do Rio Tietê São Paulo